Especialistas revelam os desafios de transferência de votos de líderes eleitorais em Goiânia

No jargão popular, quando um candidato com pouca expressão é eleito com apoio de um grande líder é chamado de “poste”. Assim, teria ocorrido com as vitórias de Dilma Rousseff (PT), para a Presidência da República, em 2010; e Fernando Hahhad em São Paulo, no ano de 2012, ambos tiveram apoio e empenho de Luiz Inácio Lula da Silva. Localmente, o então governador Marconi Perillo (PSDB), em 2006, emplacou o seu vice-governador Alcides Rodrigues, o Cidinho, na sucessão. Por outro lado, o tucano nunca conseguiu eleger um dos candidatos da base para prefeito de Goiânia.   

Para a eleição deste ano, cujas pesquisas mostram bons desempenhos para o governador Ronaldo Caiado (UB), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e, com um menor poder de fogo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Goiânia, o Jornal Opção ouviu especialistas em pesquisas eleitorais na cidade para entender a dinâmica da transferência de votos para os principais pré-candidatos que se colocam na corrida pelo Paço Municipal: deputada federal Adriana Accorsi (PT), deputado federal Gustavo Gayer (PL), ex-prefeitos Gustavo Mendanha (Aparecida de Goiânia) e Jânio Darrot (Trindade), pelo MDB.

“A transferência de votos é muito difícil. Tanto é que ela é possível ocorrer em poucos líderes, porque para que alguém possa transferir votos, não basta aprovação alta. Ao invés disso, ele tem que ter uma aprovação alta, tem que ser um líder que consegue ser cativante, consegue ter empatia da população, que seja reconhecido como líder. Tem que ter certo carisma para que tenha essa transferência, mas ela é muito complicada”, explanou o sociólogo e cientista político Khelson Cruz de Oliveira, do Instituto Podium de Pesquisa Social.

O Caiado tem mostrado muita força em várias áreas, talvez ele entre para a história e consiga eleger um prefeito

Jorge Lima, pesquisador eleitoral

Para Oliveira, a conjuntura local, como o caso de Goiânia é pouco influência pelo cenário nacional. “A eleição nacional nunca interferiu fortemente na eleição municipal em Goiânia, se analisarmos historicamente. Inclusive o governo estadual, tirando a época do Iris Rezende como governador, nunca fez um prefeito em Goiânia. Marconi Perilllo, mesmo no seu auge, conseguiu eleger alguém inexpressivo, como Cidinho, sucessor dele, que algumas pessoas chamavam de poste. Porém mesmo com o auge e carisma, de reconhecimento, de avaliação positiva, tudo mais, ele não conseguiu fazer o prefeito de Goânia”, lembra o especialista.

Com este exemplo e o que aconteceu na eleição passada municipal, o pesquisador descreve o desafio do Palácio das Esmeraldas em obter sucesso no pleito municipal. “O governo estadual não consegue ter uma grande transferência de votos na Capital. Usados por exemplo o caso do próprio [senador] Vanderlan Cardoso, com toda a sua força, tendo apoio nas duas últimas eleições do governo estadual, mesmo assim, ele não conseguiu ser eleito, perdeu para o Iris e depois perdeu para o Maguito Vilela [ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, que faleceu em 2021]”, exemplifica Oliveira.

Segundo ele, a transferência de votos, por meio do apoio, é mensurada nas pesquisas quando o entrevistado é indagado sobre a influência de outros personagens na sua escolha. “Nós conseguimos mensurar isso em pesquisas, quando fazemos algumas perguntas pontuais para captar os dados, às vezes são perguntas básicas como: ‘se um candidato X apoiasse outro candidato, você votaria nele? ’. Daí seriam as repostas: ‘com certeza’, ‘talvez’, ‘possivelmente’, ‘jamais’… Tem umas categorias que colocamos para conseguirmos alcançar esses dados”, esclarece.

Leandro Rodrigues, sócio do Instituto Grupom | Foto: divulgação
Leandro Rodrigues, sócio do Instituto Grupom | Foto: divulgação

Leandro Rodrigues, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), analista e sócio da Grupom, e Jorge Lima, diretor do Instituto Goiás Pesquisas; corroboram com a tese de Oliveira, em relação a transferência de votos. “Tem que levar em consideração que transferência de votos não é automática. E se é para um cargo majoritário tem um efeito, até porque as opções são escassas, quando a gente fala em cargos majoritários e quando a gente está falando em eleições para o Legislativo, com exceção do Senado, obviamente, o cenário de transferência de votos é diferente”, acentuou Leandro Rodrigues .

“O eleitor não é um robozinho que vai pensar assim: ‘fulano indicou’ e vou votar. Não é assim que as coisas funcionam. Existe essa possível transferência? Sim, existe, mas não é algo automático. Isso vai acontecer, de acordo principalmente com o perfil dos nomes que estão sendo indicados. O passado se tem uma trajetória relativamente parecida. O posicionamento dentro de um campo ideológico se está próximo, se tá distante. A falta de outras opções dentro daquele campo ideológico”, arrematou o pesquisador.

Para Jorge Lima, um político transferir votos para outro perpassam outros viés. “As pessoas votam por identificação, porque elas acreditam no candidato. Por exemplo, a imagem do candidato dentro da eleição ou do pré-candidato, fora da eleição, ela é um extensivo para a vida da pessoa, representa as crenças, comportamentos , a esperança e, sobretudo, representa retribuições, como se vota no Lula, porque ele cuidou das pessoas que tinham menos dinheiro, é um voto de gratidão ou se vota no Bolsonaro para tirar o PT, como foi aquele sentimento antipetismo. E, agora, nas últimas eleições, o sentimento crescente de antibolsonarismo também, mas pouco mais velado, mas as pessoas votando para tirar alguém”, compara.

Polarização e conservadorismo

Jorge Lima projeta que na eleição deste ano pode haver um polarização ideológica entre esquerda e direito. “Há o discurso latente em relação ao pleito de 2022 ainda, centralizados na figura do ex-presidente Bolsonaro e do atual presidente Lula. E o Caiado, como líder também de direita, considerando a direita com esses elementos que as pessoas classificam, que é família, que é o estado forte, a valorização das forças de segurança. Mas não é apenas isso que forma um político ou um candidato de direito ou esquerda”, frisa.

Embora se divulguem que Goiânia seja uma cidade conservadora, o cientista político  Khelson Cruz discorda com base nas suas pesquisas. “Essa questão do conservadorismo falado, não é verdade, Goiânia é uma cidade moderada, não tem esse conservadorismo que é citado. Nós podemos pegar exemplos, Goiânia já teve Paulo Garcia, como prefeito, Pedro Wilson, Darcy Accorsi”, recorda. “Goiânia, na realidade, não vai definir o seu prefeito pela esquerda ou pela direita”, emenda.  

Khelson Cruz, presidente do Instituto Podium | Foto: divulgação
Khelson Cruz, presidente do Instituto Podium | Foto: divulgação

Goiânia não é uma cidade conservadora, pois elegeu vários prefeitos progressistas, e também não é uma cidade progressista, porque também elegeu candidatos de centro

Khelson Cruz, sociologo e cientista político

“Saiu uma pesquisa a pouco destacando que Goiânia era a capital mais direitista do Brasil, não é isso que vemos nas pesquisas, não é isso que enxergamos no histórico de Goiânia. Goiânia não é uma cidade conservadora, pois elegeu vários prefeitos progressistas, e também não é uma cidade progressista, porque também elegeu candidatos de centro, como Nion [Albernaz], Iris Rezende e outros que foram eleitos da direita”, analisa Khelson. Com isso, ele acredita que os goianienses irão escolher o seu candidato a prefeito independente de espectros ideológicos. “Goiânia irá olhar para o seu candidato e verificar quem encaixa nos seus anseios  da melhor maneira. Os goianienses esperam um gestor. Até mesmo devido à tragédia de que tivemos nesses últimos três anos e pouco de gestão na Capital. Nós não tivemos uma gestor no Paço, Goiânia anseia por isso. Goiânia teve por vários anos um gestor, do melhor sentido da palavra, um tocador de obras, que é o Iris Rezende”, aponta.

“Quando teve a pesquisa de que Goiânia é uma cidade mais direitista do Brasil, o que acontece, existe nas redes sociais o pessoal da direita, de extrema-direita, bolsonarista muito ativo. E qualquer pesquisa que fizer em redes sociais hoje, Gustavo Gayer, que é desta linha, vai ganhar disparado. É por isso que eles divulgam a narrativa: ‘mas como que pode alguém que não aparece em lugar nenhuma, sendo que o outro aparece?”. É porque eles são muito aguerridos na internet. Se fizer um evento, eles vão estar lá muito. É aquela militância antiga que se tinha de sindicato, de PT, de esquerda, hoje essa militância se transferiu para o bolsonarismo”, observa.

Os “generais eleitorais”

Na perspectiva de que Bolsonaro e Caiado aparecem como potencias “generais eleitorais”,  Leandro Rodrigues pontua algumas características do perfil do candidato que possa receber este apoio. “As pessoas vão olhar aquele que tem um histórico, currículo, se ele já fez alguma coisa, o que ele já fez da vida, se ele trabalhou na iniciativa privada e fez uma série de coisas”, ressalta. “O nome que é o governador ou o presidente ou ex-presidente indicarem talvez não sejam tão fortes, então não é algo automático”, acrescenta. De acordo com o estudioso, o eleitorado vai buscar aquele que se aproxima do ideológico. “Hoje, provavelmente, vai pairar muito em discussões em posicionamentos anti-Lula, anti-esquerda, em combate a corrupção, coisas nesse sentido”, projeta.

Os altos índices de aprovação da gestão de Ronaldo Caiado em Goiânia e em todos os municípios goianos podem ser indicadores para afastar o “fantasma” de que o governo estadual não elege prefeito em Goiânia há décadas. “Mas o Caiado, quanto mais ele demorar para firmar o candidato da base mais eles vão perder, isso é evidente. O político é feito com o tempo, a política é feita com tempo, quanto mais tempo ele perder, mais difícil fica”, ressalto Jorge Lima.

Apesar disso, ele comenta que o governo foi um eximiu estrategista no último pleito. “Caiado se manteve, conseguiu apoio de quase todos os candidatos ao Senado e não apoio ninguém diretamente, e acabou que o Wilder Morais [PL] venceu as eleições e no outro dia eles estavam em Brasília, reunidos com o então presidente Bolsonaro. Assim, o Caiado terá força por conta que ele é de direita, tem a imagem centrada nas forças de segurança pública”, destaca Lima. “O Caiado tem mostrado muita força em várias áreas, talvez ele entre para a história e consiga eleger um prefeito”, acrescenta.

Fenômeno Gustavo Mendanha

Gustavo Mendanha | Foto: LeoIran/Jornal Opção
Gustavo Mendanha | Foto: LeoIran/Jornal Opção

Quanto a Gustavo Mendanha, os apontamos dos pesquisadores são unânimes. “Quem está bem na espontânea, e se conseguisse autorização, mudaria os rumos da eleição em Goiânia, é o Gustavo Mendanha”, revela Jorge Lima. Mas o que o eleitorado percebe no ex-prefeito de Aparecida de Goiânia? Khelson Cruz responde que ele representa o perfil de gestor buscado pelo goianiense. “Goiânia quer um Gustavo Mendanha, aquilo que ele fez em Aparecida, o goianiense quer para Goiânia. Alguém que seja um tocador de obras, alguém que busque recursos, alguém que saiba administrar os recursos, alguém que consegue ao mesmo tempo tocar obras e ter uma boa gestão dos recursos. É isso que Goiânia espera do seu próximo prefeito”, enfatiza.

Acerca da ideia de bairrismo tão presente em vários municípios goianos e brasileiros, Cruz descreve que Goiânia é diferente quanto a essa questão. “Alguns pré-candidatos falarem que Jânio Darrot é forasteiro, isso não vai colar para o goianiense, não. O goianiense não está se importando com isso, tanto é que trouxe o Maguito Vilela, que não era de Goiânia, antes foi prefeito em Aparecida, era natural de Jataí, claro que foi governador, mas teoricamente não tinha nada ver com Goiânia. E a Capital pode repetir isso de novo. Se Gustavo Mendanha pudesse ser candidato, ele ganharia a eleição em Goiânia com certa facilidade, porque é o perfil que o goianiense espera”, opina.

Adriana Accorsi e Gustavo Gayer

Na entrega da Comenda Anhanguera, Gustavo Gayer mostra imagem no celular à colega de Legislativo Adriana Accorsi | Foto: Leoiran / Jornal Opção
Na entrega da Comenda Anhanguera, Gustavo Gayer mostra imagem no celular à colega de Legislativo Adriana Accorsi | Foto: Leoiran / Jornal Opção

Sobre as pré-candidaturas postas em Goiânia, os pesquisadores chamam a atenção para os dois personagens que representam o lulapetismo e do bolsonarismo. “A Adriana Accorsi tem uma liderança em Goiânia que não é devido ao PT e nem devido ao Lula. A Adriana Accorsi tem uma liderança própria em Goiânia. Ela é maior do que o PT em Goiânia e consegue ser maior do que o PT, como o Lula é maior do que o PT, a nível nacional. A Adriana tem uma aceitação muito grande, não tem nada a ver com o Lula, não é o presidente que dar essa pujança para ela. É a figura da Adriana Accorsi. O PT talvez mais atrapalhe do que ajuda, a sigla PT”, salienta.

Jorge Lima, ao partir do perfil profissional e pessoal de Adriana Accorsi, a define como bastante diferente dos estereótipos da esquerda. Ele chega a coloca-lo, na questão dos costumes, quase como da direita, o que, segundo o pesquisador, pode ser o diferencial dela para estar na preferência do eleitorado goianiense. “A candidata do PT é delegada de Polícia, mostra que até quem é da chamada esquerda é de certa maneira conservadora nos costumes também. Veja bem, é delegada de Polícia, é casada, tem uma filha, enfim, tem a família tradicional, e tem o jeito de ser dela. Até ela que é petista é conservadora, digamos assim. E o que acontece, o pessoal vai trazer para Goiânia essa questão de direita e esquerda, do Lula e do PT, e acaba prejudicando, o apoio do presidente Lula, como também pode beneficiar ela”, designa.

Já sobre o pré-candidato Gustavo Gayer, Lima o qualifica como “uma pessoal reacionária e  muito parecido com o ex-presidente Bolsonaro”. “A delegada Adriana já é uma pessoa que perde mais, porque ela tem um perfil que não é exatamente o perfil do presidente Lula, porque ela é mulher, ela tem muito perfil e tende a perder mais com apoio do Lula, do que Gayer com apoio do Bolsonaro, porque os dois se completam neste espaço de disputa de votos”, relaciona.

Jorge Lime, diretor do Instituto Goiás Pesquisas | Foto: divulgação
Jorge Lime, diretor do Instituto Goiás Pesquisas | Foto: divulgação

O especialista sublinha que ambos são pessoas de internet e que cresceram nesta onda de “mitar” e “mitar” qualquer adversário. “Não é do mito grego, é o ‘mitar’ de humilhar as pessoas, ou seja, a capacidade que você ou eu tem ou qualquer outro de humilhar as pessoas. Bolsonaro e o Gustavo Gayer são pessoas que fizeram trajetória humilhando as pessoas, expondo as pessoas. Essa é uma marca desta extrema direita em Goiânia ou em qualquer lugar do país. É uma segregação política ideológica motivada pelo apagamento das pessoas”, assinala.

Neste contexto, no qual são apresentados pré-candidatos com seus próprios perfis e atuação na política, fica evidente que a transferência de votos de outros personagens pode não ser um aspecto fundamental para se tiver sucesso no pleito de outubro em Goiânia. Dada à particularidade histórica e experiências eleitorais, conforme as análises dos especialistas, os goianienses tenderão a eleger o prefeito que tenha experiência administrativa e articulação para a governabilidade. Para quem pretende se apresentar como bom administrador da Capital terá como desafio de se enquadrar nos anseios da população, que está preocupada com a gestão de resultados positivos para a cidade.    

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