Entenda por que o Brasil não tem líderes para se opor aos equívocos do governo Lula

Vi o filme “Getúlio”, de 2014, que tem Tony Ramos no papel de Getúlio Vargas. Relata os últimos dias do presidente eleito e ditador, que culminam com seu suicídio em 24 de agosto de 1954.

Bastante fiel aos fatos, o filme trouxe muitas recordações. Era eu, nessa época, jovem estudante no Rio de Janeiro, então Capital da República, e estão bem vivas as lembranças das manifestações populares após a morte de Getúlio.

Com as antigas lembranças, vieram também novíssimas indagações. A mais importante delas: não existem mais lideranças nacionais de oposição, no Brasil?   

Na crise de 1954, existiam lideranças moral e politicamente fortes, como o próprio Getúlio, e algumas ao lado dele, como Oswaldo Aranha e Tancredo Neves (ministro da Justiça). E também de oposição, como Carlos Lacerda, à época apenas um jornalista, diretor e dono do jornal “Tribuna da Imprensa”.

Lideranças militares absolutamente respeitáveis também existiam dos dois lados, como o general Aguinaldo Caiado de Castro, chefe do gabinete militar de Getúlio ou o brigadeiro Eduardo Gomes, seu franco opositor.

Ninguém questionou a honestidade de Getúlio, mas os abusos dos que lhe eram próximos fizeram com que ele, para não ser deposto, se matasse.

Para as lideranças, então, a honra valia mais que a vida. Ricardo Jafet, presidente do Banco do Brasil, Benjamim Vargas, irmão de Getúlio e Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente, faziam tráfico de influência, e foram denunciados pela oposição. Hoje, passariam despercebidos.

O mais sério foi a tentativa de assassinar Carlos Lacerda, que feriu o jornalista e provocou a morte de um amigo, o major da FAB Rubens Vaz, que lhe dava segurança voluntária, nas horas de folga.

A polícia descobriu os pistoleiros, que apontaram o mandante: Gregório Fortunato. Era demais para uma verdadeira democracia e para o brio das Forças Armadas. Se Getúlio não renunciasse, seria deposto. Preferiu a morte.

Veio depois o governo Juscelino, e o presidente deu demonstrações de como se comporta um líder político, ético e moral.

Vítima de duas tentativas de golpe por parte de oficiais da FAB nas revoltas de Aragarças e Jacareacanga, JK teve a coragem de anistiar os revoltosos.

Lição de pacificação que o atual presidente, em sua pequenez, não compreende: enquanto Juscelino perdoou os majores Velozo e Lameirão, que cometeram delitos disciplinares e políticos, inclusive sequestrando aviões da FAB, Lula da Silva não anistiou os baderneiros do 8 de janeiro presos, nem mesmo os que não estavam na baderna, mas em frente aos quarteis, vítimas das irregularidades jurídicas do STF e do ministro Alexandre de Morais. Que pobreza de liderança presidencial!

Mas natural para alguém marcado por grossa corrupção, julgado e condenado por uma dezena de juízes e prisioneiro por quase dois anos.

Mas vamos pela sequência histórica: após Juscelino Kubitschek, tivemos o desequilíbrio de Jânio Quadros, a posse de João Goulart, o Jango, e a crise de 1964. E as lideranças ficaram bem visíveis: não Jango, fraco, benevolente com a corrupção e a corrente pró-comunismo que grassava no País como reflexo da Guerra Fria, estimulada pela URSS e por Cuba.

Embora nada tivesse de esquerdista, Jango foi condescendente com os primórdios do MST, as ligas camponesas do deputado Francisco Julião, com as quebras de disciplina na Marinha e no Exército, e com a atuação de seu cunhado, Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e então deputado de extrema esquerda.

Mas na oposição não faltavam lideranças. A maior liderança civil era Carlos Lacerda, que fora vereador, deputado e agora governava a Guanabara. Competente, honesto, destemido, era o terror do governo federal.

Não faltavam lideranças militares, nomes nacionalmente conhecidos e respeitados, como o general Humberto Castello Branco, então chefe do Estado-Maior do Exército, o general Justino Alves Bastos, que comandava o IV Exército, em Pernambuco, os irmãos generais Orlando e Ernesto Geisel, o general Cordeiro de Farias, o general Odylio Denys, o general Golbery do Couto e Silva, o general Olympio Mourão Filho, que comandava a IV RM e que deu partida à derrubada de Jango.

Na imprensa, lideranças expressivas se somavam aos civis e militares. Roberto Marinho, do Grupo Globo, e Júlio Mesquita Filho, do “Estadão”, são exemplos. Com essas lideranças na oposição, era fatal a queda. Caindo Jango, seus ajudantes de ordens tiveram as carreiras militares preservadas pelos vencedores. Afinal, cumpriam ordens do presidente. Muito diferente do que acontece hoje com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, exageradamente perseguido pelos atuais poderosos, irregularmente preso e abandonado por seus colegas e superiores.   

Nostalgia pelo regime soviético

São passados sessenta anos, a Guerra Fria é passado, mas existe, na América Latina, Brasil incluso, uma nostalgia do regime soviético, que se transforma em prática política.

O ex-presidente Jair Bolsonaro teve o grande mérito de combater essa prática malfazeja. Mas titubeava, como no episódio em que não nomeou o diretor-geral da Polícia Federal, como lhe competia, e amedrontou-se perante o ministro Alexandre de Moraes.

No Brasil, há Partido Comunista (dois, pelo menos), existem ministros declaradamente comunistas, o próprio presidente diz que não se peja em ser chamado de comunista. Há um flerte com os poucos regimes de esquerda existentes no mundo. E essa prática contamina a gestão nacional, que vê Educação arrasada pela ideologia, Saúde corroída pela corrupção e Segurança Pública destruída pela impunidade, todas abaixo do aceitável.

Leis condescendentes e leniência dos poderes permitem o aproveitamento da máquina pública pela elite política e corrupção.

A potencialidade nacional permanece adormecida. A massa popular sofre com a carga tributária e pouco ou nada recebe em troca, mas não chega a avaliar essa injustiça, pois está em permanente estado de desinformação.

Por consequência, não consegue, pelo voto, mudar a situação. Vivendo um regime semi-ditatorial, e que avança para ditadura, o Brasil está sem líderes de oposição, para apontar um caminho.

A Polícia Federal constrange deputados da oposição — e só da oposição — e fica por isso mesmo.

A metade mais esclarecida do eleitorado é oposição mas não tem chefes. Onde estão?

No Senado, onde sequer existe maioria com um mínimo de vergonha para se contrapor ao Judiciário quando afronta os outros poderes e a própria Constituição? Na Câmara, hoje um grande empório, onde o Executivo federal negocia com a maioria, usando como moeda os recursos do Tesouro, enquanto uma minoria mais esclarecida está rouca de gritar, pois não tem sequer os alto-falantes da mídia?

No Judiciário distorcido pelas escolhas políticas para a judicatura, onde a primeira qualidade, depois da honestidade, deveria ser a isenção?

Nas Forças Armadas, de cujos comandantes ninguém sabe sequer os nomes, e onde não mais existem os Castello Branco, os Geisel, os Mourão Filho?

Na Imprensa, cujos donos, por cobiça, incompetência ou preguiça entregaram as redações ao que há de mais atrasado no jornalismo tupiniquim, os jornalistas de esquerda, que militam e desinformam?

Nos governadores estaduais apagados, encolhidos, incapazes de uma crítica ao governo federal ou ao STF, longe, muito longe todos eles da visão e combatividade de um Carlos Lacerda, de saudosa memória?

Alguns governadores, pré-candidatos à Presidência, sem clarividência, beiram a ingenuidade e não percebem o conluio PT-Judiciário-Imprensa que não lhes dará a menor chance.

Há líderes com coragem na situação. Ricardo Lewandowski não titubeou em ignorar a Constituição e manter os direitos políticos de Dilma Rousseff, mesmo não podendo evitar sua cassação. Imensa foi a coragem de Edson Fachin, descondenando Lula da Silva contra todas as provas de seus delitos, abrindo caminho para sua volta à Presidência e contrariando juízes experimentados, embora fosse apenas um advogado de interior feito ministro do STF.

A coragem de Alexandre de Moraes já foi demonstrada: não há obstáculos para ele, nem os da sua toga, quando quer atingir um objetivo. Líderes não vivem de ilusão. Liderança, além de coragem, também pede visão. E na oposição, repito, onde está a coragem, onde estão os líderes que fazem acontecer?

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