Em Nerópolis, disputa tem donos de mesmo hospital, revanche de ex-candidatos e migração de ex-prefeito de Nova Veneza  

A pré-campanha em Nerópolis, que conta com os pré-candidatos Dr. Luiz (Republicanos) – representante da situação; a vereadora Elisa da Saúde (PP); os empresários Edinho do Posto (PSDB) e Jones Rodrigues (Podemos); e o ex-prefeito de Nova Veneza Luiz Stival (Agir), caminha para uma campanha acirrada. Talvez a mais disputada das últimas décadas. Dentro da própria gestão, o atual prefeito Gil Tavares (Republicanos) viu seu grupo se dividir, com o seu vice-prefeito Dr. Luiz e a então vereadora da base, Elisa da Saúde, concorrendo como adversários políticos.

Caso se consolide para as eleições de outubro, a disputa entre os dois é bastante emblemática. É que o Dr. Luiz e o esposo de Elisa da Saúde, o médico Natan Fernandes, são sócios do mesmo hospital particular no município. Nem os adversários não conseguem entender essa relação empresarial que pode envolver a esfera pública.      

O Jornal Opção ouviu todos os pré-candidatos. Dr. Luiz contou que pretende dar seguimento ao trabalho da gestão a qual integra. “Quando a gente fala em dar continuidade, é aprimorar, porque o mundo está mudando rápido demais, por inúmeras variáveis e inúmeros fatores, por conta da tecnologia, por conta da mudança de comportamento das gerações”, disse. Segundo ele, o seu grupo é composto, além do Republicanos, pelo União Brasil, PSD, PL e PT. 

Quando a gente fala em dar continuidade, é aprimorar, porque o mundo está mudando rápido demais

Dr. Luiz, vice-prefeito de Nerópolis

Embora tenha participações em negócios de saúde, Dr. Luiz pontua a necessidade de atenção para o serviço público na área. “A medicina ainda é muito curativa, a gente atende o que já está avançado quanto à doença. Nós temos que investir em qualidade de saúde. O meu objetivo, a minha ideia, é diminuir as internações de UTI, diminuir exames, fazer com que as pessoas com maior controle, principalmente, doenças crônicas e diabetes, façam o controle em casa, que não se desloquem para chegar a uma unidade de saúde, para chegar em um pronto-socorro”, enfatiza. Isso porque, de acordo com ele, as unidades hospitalares estão “saturadas” de pacientes, o que resulta em “colapso de atendimentos”. 

A questão da saúde é o gargalo apontado por moradores de Nerópolis. A autônoma Kefny Linos Marques, de 26 anos, revelou que na cidade a única maternidade pública não funciona adequadamente. “O hospital é só de fachada, caso uma gestante precise dar à luz, tem que ir para Goiânia”, afirma. Essa reclamação é compartilhada pelo aposentado Inácio da Silva. “O que poderia melhorar aqui também é o atendimento de saúde que deixa muito a desejar. Os postos estão muito cheios e há poucos médicos”. Ele complementa dizendo que o transporte público também é um problema, sem alternativas para deslocamentos dentro do município e para a Capital.  

O tema saúde deve nortear tanto a pré-campanha quanto a campanha no município. É justamente o ponto levantado pela vereadora Elisa da Saúde. “Tem uma ‘maquiagem’ muito grande na saúde e educação. Na saúde, é aquela situação de toda sexta-feira a comunidade é chamada para liberação de cirurgia eletivas, exames de alto custo, medicação de alto custo. Isso dificulta muito para vida do cidadão neropolino. Então, eu não comungo com esta situação”, sinaliza.  

Para o empresário Edinho do Posto, que já foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Nerópolis, a suposta rivalidade entre membros de uma mesma empresa, no caso, do hospital, soa estranho. “Mas cabe à população julgar”, salienta. Ele diz estranhar que a maior parte dos repasses públicos para a saúde sejam direcionados para o hospital de Dr. Luiz e de Elisa da Saúde. “Lá não converte esta verba para um atendimento de excelência”, denúncia.  

Indagado se há divisão entre as oposições ao grupo do prefeito Gil Tavares, Edinho frisa que na realidade é “a situação que está dividida”. “Porque o pessoal que está com a Elisa estava com Gil, na eleição passada. Eu não vejo a oposição dividida, nós somos a verdadeira oposição”, se declara. “Eu não vejo a oposição dividida, porque eles lá [Dr. Luiz e Elisa] são do mesmo grupo”, arremata. 

Por enquanto, dos nomes colocados, nenhum diz abrir mão para ser vice em outra chapa, embora estejam sós em seus partidos, como é o caso de Edinho, Jones Rodrigues e Luiz Stival (Agir). Cogitado para vice de Elisa, Jones Rodrigues foi o terceiro colocado em 2020, com mais de 8% dos votos. “A gente vai trabalhar para ser realmente candidato e a questão de vice é o último caso, pode até ser se for entre ser vice, eu opto em não ser nada”, acentua. Acerca de apoios, Rodrigues enfatiza que há adesão da classe empresarial, uma vez que foi presidente da Associação Comercial da cidade. “Só que a parte empresarial, o envolvimento dele tem que ser na hora certa, senão gera um desgaste”, diz. 

Acerca da provável rivalidade entre Dr. Luiz e Elisa, Jones acredita que isso tem curto prazo de validade. “Eles falam que estão rompidos. Eu acredito que estarão se for conveniente até as eleições, mas se um deles for vencedor, com certeza este rompimento acabará. Porque o interesse de defender o hospital será maior, do que o interesse de defender a cidade”, disse.

Eu asseguro que qualquer relação entre o Hospital Sagrado Coração de Jesus e o setor público sempre pautada pela transparência, equidade e foco no atendimento às necessidades da comunidade

Vereadora Elisa da Saúde

Questionada sobre a hipótese de relações escusas com o poder público, caso seja eleita, Elisa da Saúde, rebate: “Como pré-candidata, meu compromisso é que todas as parcerias sejam conduzidas dentro dos limites legais e éticos, priorizando sempre o interesse público e o bem-estar da população neropolina. Eu asseguro que qualquer relação entre o Hospital Sagrado Coração de Jesus e o setor público sempre foi pautada pela transparência, equidade e foco no atendimento às necessidades da comunidade”, se compromete. “E é crucial ressaltar que o pré-candidato do prefeito [Dr. Luiz] também é sócio do hospital, as mesmas normas que se aplicam a mim devem ser aplicadas a ele também”, cobra.    

Como o pré-candidato migrado de um município vizinho, Luiz Stival, rebate ser um aventureiro em Nerópolis e ressalta que está surpreso com a recepção da população. “Um exemplo, o prefeito Gil Tavares não é de Nerópolis e se tornou prefeito por três mandatos. Isso não é um fato decisivo”, compara. “E tenho um ponto positivo, eu sou nascido e criado na região. Temos propriedades aqui no município de Nerópolis já tem mais de 20 anos. Inclusive, hoje moro em Nerópolis”, emenda. Ele recorda que quando foi candidato a deputado recebeu uma votação expressiva dos neropolinos.  

Quanto a um diferencial, Stival pretende apresentar a experiência na gestão de Nova Veneza, como a proposta de exportar os modelos de eventos turísticos e culturais, para impulsionar o município. Outro destaque, conforme o pré-candidato, é a expertise da moradia popular, uma vez que foi presidente da Agência Goiana de Habitação (Agehab). Ele explica ainda o potencial para atração de empresas, para tanto, cita o exemplo da instalação da Super Frango no município vizinho, durante a gestão que participou. 

Polo industrial

Em relação à geração de empregos e renda, Dr. Luiz, pré-candidato da atual administração de Nerópolis, enfatiza que o polo industrial com cerca de 50 empresas está em processo avançado de instalação, e que deve funcionar que a infraestrutura de energia elétrica ficar pronta. Ele cita que serão cinco mil postos de emprego. Por outro lado, Edinho ressalta que a proposta de funcionamento do polo industrial já completou 12 anos e que não acredita que será concluída neste ano. 

União da oposição

Ao deixar o PT por divergências de apoio ao projeto do grupo do prefeito Gil Tavares, Rodrigo Zani, que chegou a ser cogitado a pré-candidato a prefeito, disse que irá assumir a Presidência do PSB e que pretende trabalhar para unir a oposição em Nerópolis.

“Tenho bom trânsito com o PSDB, já fiz algumas conversas com a Elisa, do PP, já falei com o Jones Rodrigues, do Podemos. E o ex-prefeito Fabiano Luiz também me informou que tem esse mesmo sentimento de união”, compartilha. “O que eu vou propor é que a gente discuta projetos e não pessoas. Se a discussão for em torno de ideias fica mais fácil a união”, confia.

Mas, por enquanto, os pré-candidatos adversários do projeto de continuação da gestão de Gil Tavares rechaçam a possibilidade de estarem juntos em algum projeto, mesmo que seja para derrota a hegemonia de 12 anos de poder.

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