“O Brasil inteiro teve um descuido em relação ao mosquito”, diz infectologista sobre epidemia da dengue

O médico anapolino Marcelo Daher, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), conversou com o Jornal Opção, neste sábado, 17, sobre o que chamou de “explosão de dengue” em todo o Brasil. O infectologista explicou sobre os principais sintomas da doença e quais medicamentos são usuais para as dores, mas sempre com orientação médica.

Outros alertas do especialista são em relação aos usos de repelentes. “No geral, criança pequena e gestante é bom olhar no rótulo do repelente, para saber as orientações de uso”, pontuou.

Em relação às vacinas recém-lançadas no País, Daher pontua que a eficácia chega aos 50%. “A vacina previne mais formas graves da doença. Ela dá uma proteção contra a dengue, clinicamente comprovada, que fica em torno de 50%”, acentua.

Leia a entrevista na íntegra do infectologista Marcelo Daher para o Jornal Opção  

Médico infectologista Marcelo Daher | Foto: Reprodução
Médico infectologista Marcelo Daher | Foto: Reprodução

Nielton Soares – Como a pessoa pode saber se está com dengue, quais os sintomas mais comuns?

Marcelo Daher – Os sintomas básicos são: febre, dor no corpo, dor atrás dos olhos e dor de cabeça. Às vezes os sintomas são mais leves, mas o ideal, estando com esses sintomas, é procurar uma unidade de Saúde, porque às vezes são apenas sintomas básicos, porém se não souber que é a doença, pode depois ter alguma complicação. E é importante também para confirmar o diagnóstico.

Nielton Soares – Caso seja dengue, há riscos quando a pessoa toma algum tipo de medicamento por conta própria?

Marcelo Daher – Então, os medicamentos normais para febre e dor, como dipirona, paracetamol e ibuprofeno, são os remédios usuais, isso não tem problema nenhum. Esses podem ser usados, mas o paciente que tem algum outro problema de saúde, mais sério, e que fazem uso regular de medicamento, o ideal é que procure uma unidade hospitalar ou procure o seu médico para saber se ele pode manter ou não os medicamentos, que já faz uso no geral. Já a pessoa tem um problema cardíaco, alguma doença autoimune, então é bom conversar com um médico para melhor orientação sobre os medicamentos.

Nielton Soares – Sobre o uso de repelentes para prevenção, há contraindicações?

Marcelo Daher – No geral, criança pequena e gestante é bom olhar no rótulo do repelente, para saber as orientações de uso. Tem alguns repelentes que tem idade mínima e que são contraindicados para gestante. E se a pessoa tiver alguma alergia também é bom evitar o uso. Às vezes, se usar o medicamento e sentir alguma reação alérgica, deve suspender imediatamente o uso.

Nielton Soares – E as vacinas, qual a eficácia delas contra a doença? Pode chegar aos 100% de eficácia?

Marcelo Daher – Não, a vacina não dá 100%. A vacina previne mais formas graves da doença. Ela dá uma proteção contra a dengue, clinicamente comprovada, que fica em torno de 50%. A ideia maior é a proteção contra formas graves.

Nielton Soares – Fala-se nos tipos de dengue, tipo 1, 2 e 3; são apenas esses tipos?

Marcelo Daher – Não, são quatro sorotipos. Temos formas clínicas da doença que hoje se classifica em A, B, C e D e a forma leve porém com sintoma mais intenso. A tipo C já tem algum sinal de alerta – nesses casos é bom procurar aí unidade hospitalar; e a tipo D é a forma mais grave, e o paciente precisa ficar internado.

Nielton Soares – O recomendado ainda é a prevenção e cuidados contra a proliferação do mosquito?

Marcelo Daher – A gente vê que o País inteiro teve um descuido em relação ao mosquito. As cidades têm um crescimento desordenado. Tem vários fatores para o aparecimento do mosquito, mas os municípios que tem um trabalho mais bem feito em relação à prevenção de reservatórios ou de criadores do mosquito conseguem passar por essa fase com mais facilidade.

Nielton Soares – Para finalizar, qual reflexão o senhor faz deste momento de crise da dengue?

Marcelo Daher – É importante ressaltar que nós temos que nos preocupar com a doença não só agora, que está numa epidemia. Mas, o trabalho tinha que ter sido feito antes, lá atrás no sentido de controle, dos possíveis focos, que evitaríamos estar onde a gente está hoje. Porque há uma explosão de casos no País inteiro.

Ações emergenciais

Para ampliar a proteção contra a dengue, o Ministério da Saúde, via Sistema Único de Saúde (SUS), passou a disponibilizar a vacina QDenga para crianças de 10 a 14 anos em municípios selecionados. A escolha dessa faixa etária baseia-se no alto número de hospitalizações e complicações observadas entre crianças e adolescentes. No setor privado de hospitais, indivíduos de 4 a 60 anos podem ser vacinados.

A Dengvaxia, outra vacina disponível no mercado privado, é recomendada para aqueles que já foram infectados pela doença pelo menos uma vez.

Além da imunização, a utilização de repelentes é fortemente recomendada como medida preventiva contra o mosquito transmissor da dengue. É importante ressaltar que o uso de repelentes em crianças menores de dois anos requer orientação médica.

A Anvisa destaca três substâncias eficazes presentes nos repelentes:

  • Repelentes com o ativo IR3535, como o RepelMax;
  • DEET (N-N-dietilmetatoluamida), presente em repelentes como Off;
  • Icaridina, presente em repelentes como Exposis.

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