“Kids pretos”: conheça grupo de elite, com sede em Goiânia, que planejou matar Lula, Alckmin e Moraes

Presos suspeitos de planejar matar o presidente Lula (PT), o vice presidente Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, durante um Golpe de Estado após as eleições de 2022, os “kids pretos”, como são chamados os membros das Forças Especiais do Exército, são militares da ativa ou da reserva do Exército, especialistas em operações especiais. Até 2023, a força armada contava com um efetivo aproximado de 2,5 mil destes militares.

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De acordo com o Exército, a nomenclatura “kid preto” é um apelido informal atribuído aos militares de Operações Especiais do Exército Brasileiro, pelo fato de usarem um gorro preto. O processo seletivo para as Forças de Operações Especiais é realizado entre militares voluntários que realizam curso de Ações de Comandos e de Forças Especiais, segundo a força armada.

Os “kids pretos” passam por formação no Comando de Operações Especiais em Goiânia (GO), no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), ou na 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM). Como parte do treinamento, os militares aprendem a atuar em missões com alto grau de risco e sigilo, como em operações de guerra irregular — terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência, insurgência. 

Além disso, são preparados para situações que envolvam sabotagem, operações de inteligência, planejamento de fugas e evasões. Na página oficial do Facebook do Comando de Operações Especiais, em Goiânia, um vídeo de comemoração dos 65 anos das operações especiais é iniciado com a frase:

“O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira”.

De acordo com o Exército, os “kids pretos” podem atuar em todo o território nacional. No entanto, a corporação afirma que as tropas especiais só são empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais, em Goiânia.

Quem são os “kids pretos” presos?

Entre os cinco presos pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 19, estão quatro militares das Forças Especiais do Exército, além de um policial federal. São eles:

  • General de brigada Mario Fernandes (na reserva);
  • Tenente-coronel Helio Ferreira Lima;
  • Major Rodrigo Bezerra Azevedo;
  • Major Rafael Martins de Oliveira;
  • Policial federal Wladimir Matos Soares.

O general Mário Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, segundo posto mais importante da pasta, que chegou a assumir internamente. Atualmente, o general reformado estava lotado como assessor no gabinete do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde.

Fernandes ganhou notoriedade depois que passou a ser investigado por mensagens em que pedia ao comandante do Exército, general Freire Gomes, adesão ao plano golpista. O pedido, porém, foi negado por Gomes.

O militar já havia sido alvo de mandato de busca e apreensão na Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro. Fernandes esteve na reunião gravada em vídeo em que o então presidente Bolsonaro instruiu seus ministros a agirem contra o sistema eleitoral brasileiro. 

Na delação firmada com a PF e homologada pelo STF, o ex-ajudante de ordens tenente-coronel Mauro Cid, define o general como um dos militares mais radicais do núcleo golpista e defensor “incisivo” de um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.

Outro preso de destaque é o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, que comandava a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus. Ele foi destituído do cargo em fevereiro deste ano. A PF também mirou o major Rafael Martins de Oliveira. O militar negociou com Mauro Cid o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes a Brasília. 

Operação 

A PF deflagrou nesta terça-feira, 19, uma operação para desarticular organização criminosa responsável por ter planejado um Golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições de 2022 e restringir o livre exercício do Poder Judiciário. Ao todo, um policial federal e quatro militares (da ativa ou na reserva) das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, foram presos.

As prisões dos “kids pretos” ocorreram no Rio de Janeiro, onde participavam da missão de segurança da reunião de líderes do G20. O ministro Alexandre de Moraes autorizou o cumprimento de três mandados de busca e apreensão e cinco de prisão, que foram cumpridos em Goiás, Rio de Janeiro, Amazonas e Distrito Federal. A ação foi acompanhada pelo Exército.

O grupo, de acordo com a PF, utilizou o elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Entre as ações elaboradas, havia um “detalhado planejamento operacional, denominado ‘Punhal Verde e Amarelho’, que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022” para matar os já eleitos Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

“Ainda estavam nos planos a prisão e execução de um ministro do Supremo Tribunal Federal, que vinha sendo monitorado continuamente, caso o Golpe de Estado fosse consumado”, afirmou a PF.

O plano, conforme a corporação, detalha os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além da criação de um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise”. O gabinete seria integrado pelos próprios investigados para gerenciar conflitos institucionais originados em decorrência das ações.

A ação, intitulada “Contragolpe”, foi autorizada no âmbito do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado e a sequência de atos antidemocráticos promovidos ao longo do processo eleitoral de 2022, e que culminaram nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023.

A fim de não atrapalhar as investigações, os alvos foram proibidos de manter contato entre si. Medidas como a proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes no prazo de 24 horas, e a suspensão do exercício de funções públicas também foram autorizadas pelo STF. 

Os policiais e militares podem responder, à princípio, por crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O Jornal Opção não conseguiu localizar as defesas dos presos para que se posicionassem.

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