Pedro Sales: “Na infraestrutura, a maior marca do governo foi o combate às desigualdades regionais”

Pedro Sales acompanha desde 2019 os desafios da infraestrutura em Goiás e a implementação de políticas para solucioná-los. Atualmente à frente da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) e Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), o homem de confiança do governador Ronaldo Caiado (UB) é a principal autoridade estadual na área que envolve habitação, transporte e saneamento. 

Nesta entrevista ao Jornal Opção, Pedro Sales faz um balanço da gestão de Ronaldo Caiado para a área e se lembra dos obstáculos superados até aqui. Segundo ele, as políticas para moradia e a melhoria rodoviária estadual de forma inclusiva com regiões historicamente negligenciadas serão legados históricos. 

O secretário comenta ainda os esforços para articular melhor os convênios entre estado e prefeituras. O esforço para otimizar a gestão, , diz Pedro Sales, evita o desperdício de recursos públicos destinados especialmente para programas de habitação, que dependem da disposição de prefeitos e suas assessorias. Por último, o secretário comenta seus planos políticos para o futuro — o desejo existe, mas tudo dependerá do contexto em 2025. 

Italo Wolff — Se o senhor tivesse que elencar algumas marcas da gestão do governo Ronaldo Caiado (UB) na Infraestrutura, quais seriam os principais avanços?

Eu acho que a maior marca rodoviária do governador Ronaldo Caiado foi o investimento para combate às desigualdades regionais da infraestrutura. Ampliamos o número de obras rodoviárias no interior, em regiões que, historicamente, foram negligenciadas. Estou falando de investimentos no Vale do Araguaia, por exemplo, com a ligação de Goiás e Mato Grosso, na GO-454; da ligação de Crixás à Nova Crixás; da conclusão da rodovia de Nova América à Mozarlândia. 

Por que eu destaco essas obras? Porque elas ligaram locais historicamente difíceis de serem acessados a ramais rodoviários que vão para o país inteiro. Outro exemplo é o Nordeste Goiano, que tem três rodovias estruturantes: GO-118, GO-447 e GO-110. Ampliar, reconstruir e entregar trechos dessas rodovias é uma forma de desenvolver a região. 

Pedro Sales é entrevistado por Italo Wolff e Guilherme de Andrade | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Além disso, fizemos uma verdadeira revolução silenciosa no padrão técnico e de qualidade das obras rodoviárias no Estado. Houve, pela primeira vez na história de Goiás, uma aproximação com as métricas, procedimentos e sistemática de trabalho do órgão rodoviário estadual com o padrão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o órgão federal.

Acredito que a principal marca não tenha sido uma obra específica, mas esse conjunto de entregas. Fortes investimentos em regiões que foram negligenciadas ao longo do tempo, de modo a criar combate a desigualdades regionais.

Italo Wolff — A Agência Goiana de Infraestrutura e Transporte (Goinfra) e a Agência de Habitação (Agehab) têm entrado em contato com prefeituras para orientá-las a conseguir suporte habitacional do governo do Estado. Qual a importância deste suporte, em especial no período de fim de mandato dos prefeitos, quando muitos municípios acumulam dívidas?

Para tudo existe uma saída. Todos os problemas têm solução. Veja, por exemplo, o que foi o governo Ronaldo Caiado (UB), que pegou um cenário de caos econômico, conseguiu reverter a crise e passou a fazer grandes investimentos. Eu posso falar sobre isso com alguma propriedade, porque integro sua equipe desde a transição. 

Antes da posse de Ronaldo Caiado, tomei conhecimento dos dados do governo anterior, de José Eliton (PSDB), que é o final do governo Marconi Perillo (PSDB). Quando olho para trás, lembro-me da folha de pagamento do funcionalismo, de R$ 1,2 bilhão; e apenas R$ 10 milhões em caixa. Zero recursos para investimento. Aproximadamente R$ 1 bilhão em dívidas com fornecedores. Conseguir virar esse jogo da forma como o governador conseguiu mostrar que existe sempre um caminho. 

Italo Wolff — Neste caso, o caminho encontrado por Goiás foi o Regime de Recuperação Fiscal (RRF)?

Antes disso, no primeiro ano de governo, foi feito um ajuste muito duro com a revisão de contratos, o parcelamento do salário de dezembro do servidor público e a redução de incentivos fiscais. Tudo isso gerou um incremento de arrecadação e diminuição de despesas que permitiu, de 2018 para 2019, o Estado recobrar sua capacidade de investir e crescer.

Na época, nós tratamos da questão de forma parecida com a que Sandro Mabel (UB) está fazendo agora em Goiânia. É preciso cuidar das finanças desde a transição, aprovando no final da legislatura da Câmara algumas votações importantes. Me lembro que quem me ajudou muito naquela época foi o Lívio Luciano, auditor da Receita Estadual e ex-deputado Estadual. 

Com o tempo, as coisas foram acontecendo, o governo foi negociando o RRF; a então secretária da fazenda Cristiane Schmidt fez uma gestão muito dura e importante; foram feitas as reformas da Previdência e administrativa para cortar despesas. Tomando todas essas providências, apenas no final do primeiro biênio é que conseguimos o encaixe financeiro para voltar a investir.

“Em 2025, esperamos ter todas as 49 obras do Fundeinfra ao menos iniciadas”, diz Pedro Sales | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Italo Wolff — Fazendo um balanço de sua atuação à frente da infraestrutura em Goiás, como você avalia o trabalho feito durante esse período? Como sua pasta atuou em um cenário de recursos escassos para investimento? 

No primeiro momento, houve uma crítica muito forte ao governo, sobretudo na questão das rodovias, porque no cenário financeiro em que o governo se encontrava, realmente não havia como fazer grandes investimentos. O que pudemos fazer foram pequenas manutenções e dar sequência em contratos que já estavam avançados. Sempre entendemos que não se pode interromper investimentos públicos já realizados.

Então, no primeiro momento, a energia foi para a manutenção, porque, em infraestrutura, isso significa não colocar a vida das pessoas em risco. Se você não faz manutenção, você está colocando a vida das pessoas em risco. Depois que esse cenário econômico melhorou, fomos para uma bateria de projetos rodoviários. 

Guilherme de Andrade —  Em sua última visita ao Jornal Opção, o senhor mencionou que 49 obras tinham sido aprovadas por meio do o Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra). Podemos atualizar esses números? Quais obras já foram licitadas e quais estão em execução?

O Fundeinfra teve uma grande evolução no ano de 2024. Vamos encerrar o ano com duas obras concluídas: a GO-080, de Goianésia e Barro Alto; e a GO-040, do distrito de São Domingo à Goiatuba. Foram realizadas 12 obras em trechos de rodovias; várias obras estão em licitação; duas parcerias público-privadas foram celebradas à luz da nova legislação aprovada em setembro. 

Essa nova legislação diz respeito a um modelo associativo que permite que entidades privadas que são grandes recolhedoras passem a destinar para a infraestrutura de uma das obras eleitas pelo conselho gestor aqueles recursos que seriam tributados. Grandes recolhedoras deixam de pagar o tributo e destinam o recurso à obra escolhida. Nessa modalidade, temos duas obras iniciadas, caminhando para uma terceira, e a expectativa de mais cinco.

Guilherme de Andrade — Qual a expectativa de arrecadação para o Fundo?

Para os quatro anos do programa, a expectativa era de aproximadamente R$ 4 bilhões. Mas temos observado que existe um fator muito determinante, que é a oscilação dos preços dos grãos. A arrecadação é principalmente sobre a produção dos grão; embora a mineração e a pecuária também contribuam com o Fundeinfra. Por isso, a flutuação dos preços no mercado impacta a arrecadação do fundo. De toda forma, devemos nos aproximar de R$ 4 bilhões ao longo dos 4 anos de cobrança.

Guilherme de Andrade — E qual a expectativa para o Fundeinfra em 2025?

A expectativa é de, no ano que vem, ter todas as obras ao menos iniciadas.

Guilherme de Andrade — Todas as 49?

Sim; ao menos iniciadas. Esse é um registro importante, porque todos os R$ 4 bilhões de expectativa de arrecadação serão investidos integralmente nas obras. 

Existe uma determinação do governador Ronaldo Caiado de que se gaste energia total com o Fundeinfra. Essa é nossa prioridade.

Italo Wolff — Há um mutirão em andamento para dar início a essas licitações? Existe um procedimento para acelerar essas licitações em um ano?

Existe uma determinação do governador Ronaldo Caiado de que se gaste energia total com o Fundeinfra. É nossa prioridade. Quando gerencio a força de trabalho dentro do órgão, preciso estar atento à determinação do governador de que tudo que está sob o Fundeinfra tem preferência. 

Guilherme de Andrade — No modelo público-privado de parcerias do Fundeinfra, vale a pena destacar a duplicação da GO-210 em Rio Verde. Essa é a primeira experiência com pavimento de concreto? Qual a tendência disso se replicar em outros lugares do Estado?

Sim, a GO-210 é a primeira experiência do estado de Goiás com pavimento de concreto, mas essa é uma tendência do futuro. Na Europa e Estados Unidos, as obras contam com esse material em larga escala, seja pela maior durabilidade, seja porque o material betuminoso está sempre sujeito a influxos econômicos provenientes da variação do petróleo. 

Essa já é uma virada do mercado da infraestrutura para se preparar para o futuro inevitável, que cada vez utiliza menos petróleo. O material betuminoso tende a gradativamente ser reduzido ano a ano. Precisamos viver a nossa primeira experiência para preparar os nossos técnicos para essa nova metodologia. 

Para essa primeira obra, já vamos contar com essa modelagem de parceria privada. Quem vai pagar essa obra é a Cooperativa Comigo, que compensará sua contribuição ao Fundeinfra. Por ser a primeira com o novo material, a Votorantim vai montar um laboratório e uma concreteira em Goiás, além de fiscalizar a obra sem custos para o estado. A empresa, como fornecedora de cimento, tem interesse na difusão da pavimentação com concreto. Seus representantes me procuraram e disseram que vão pessoalmente se encarregar de que a obra seja um sucesso, para que a experiência se repita.

Italo Wolff — O senhor esteve reunido recentemente com prefeitos e suas assessorias técnicas para apresentar o portfólio de programas que o Estado oferece aos municípios. Quais foram os frutos dessa reunião?

A Goinfra e a Agehab têm um número muito grande de convênios celebrados com as Prefeituras. No caso da Agehab, são convênios para realizar os programas de Construção (Casas a Custo Zero), Aluguel Social, Crédito Parceria e Escritura. No caso da Goinfra, para realizar as obras nos municípios. Em todos esses eixos, se perde muito tempo com o baixo entendimento dos governos municipais em relação a como os programas podem beneficiar as cidades.

Percebemos que o estado precisava tornar mais claro algumas questões aos gestores. O que é o programa? Qual documento eu (prefeito) preciso apresentar para ser contemplado?  Onde levo esse documento? Por meio de qual plataforma posso acessar o processo? Como preencher esses dados?

Criamos o evento, chamado de Conecta Prefeitos, para expor os programas e apresentar aos prefeitos suas equipes as soluções que podemos dar às demandas de seus municípios. Foi um evento primeiramente explicativo; e, num segundo momento, orientativo para que eles tenham êxito no aproveitamento desses recursos estaduais que podem ser destinados às prefeituras.

“Por meio de parceria público-privada, faremos na GO-210 a primeira experiência de Goiás com pavimento de concreto, que é uma tendência do futuro”, diz Pedro Sales | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

Guilherme de Andrade — Nesse encontro inicial, qual impressão o senhor teve sobre a disposição dos prefeitos em participar dos programas do Estado?

Minha impressão foi muito positiva. Conhecemos as dificuldades fiscais dos municípios para fazer investimentos com as suas próprias fontes de recursos, por meio deste contato pudemos trazer à consciência desses prefeitos que não se pode, de forma alguma, perder a oportunidade de levar para o município benefícios oriundos de destinação parlamentar ou do tesouro estadual e federal.

Um recurso proveniente de emenda parlamentar ou de programa estadual pode chegar até o município e realmente transformar a realidade da cidade e da gestão municipal. Essa articulação é também uma forma de aproveitar com mais eficiência os recursos do próprio Estado. Aproximadamente 150 prefeitos participaram do evento.

Italo Wolff — O senhor esteve recentemente com Leandro Vilela (MDB), prefeito eleito de Aparecida de Goiânia. O que discutiram? Quais suas impressões sobre os desafios da futura gestão?

Leandro é uma pessoa experiente, que conhece de gestão pública por sua história política, por sua convivência com Maguito e Daniel Vilela (MDB). Por ser experiente, ele já está procurando caminhos para inserir Aparecida de Goiânia nos programas estaduais que vão auxiliar sua gestão. 

Existe na cidade uma parceria com a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) para o desenvolvimento do Distrito Agroindustrial Norberto Teixeira (Dianot). Leandro Vilela quer fazer a duplicação da via que sai do distrito e vai até Bela Vista, GO-020, criando um arco viário inteligente, de forma que o distrito não venha no futuro a causar um forte transtorno no trânsito interno da cidade. 

Considero Leandro uma pessoa muito inteligente por já estar preocupado com a estruturação dessa obra, e tentei colaborar com essa visão que ele tem para a cidade. Falamos também sobre habitação. Aparecida vai ter um desafio para reduzir o déficit habitacional, pois é uma cidade que cresce muito. Falamos ainda sobre como levar investimentos à cidade, aproveitando ao máximo as potencialidades do município.

Italo Wolff — Talvez a região do Estado com maiores desafios estruturais seja o Entorno do Distrito Federal. O que a Goinfra pôde fazer pela região?

Fizemos o maior investimento de requalificação de vias urbanas da história do Entorno. É uma região onde os bairros internos têm muitos problemas de vias urbanas, vias muito deterioradas. O governador Ronaldo Caiado teve muita sensibilidade com esse assunto e fez um investimento em 2021 e 2022 de aproximadamente R$ 40 milhões na pavimentação das cidades do entorno. Veja que essa medida foi percebida pela população, porque o governador foi reeleito em 2022 com grande vantagem em praticamente todos os municípios da região. 

Temos novos desafios agora. Concluímos a obra do Hospital de Águas Lindas, que leva o nome Hospital Ronaldo Filho em homenagem ao filho primogênito do governador, e a estruturação da operação do hospital traz grandes desafios. Temos também novos investimentos a fazer, principalmente na área de saneamento. Luziânia, Valparaíso e setores de Novo Gama precisam de obras de água e esgoto. Eu diria que, no atual biênio, o principal objetivo dos investimentos em infraestrutura na região é solucionar o problema do saneamento.

Pedro Sales: “Conhecemos as dificuldades fiscais dos municípios para fazer investimentos com as suas próprias fontes. Por isso, não se pode perder a oportunidade de levar recursos de destinação estadual, federal ou parlamentar” | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

É claro que também atuamos na questão do déficit habitacional; mas, na região, a questão da moradia também pode ser abordada com subsídios do Estado, o que chamamos de crédito parceria. Ou seja, além do programa Pra Ter Onde Morar – Casas a Custo Zero, no Entorno, o Estado dá R$ 46 mil por unidade para que o morador financie casas do Minha Casa, Minha Vida e não precise dar a entrada e tenha parcelas reduzidas. 

Italo Wolff — Ao longo de 2024, o senhor foi cogitado para concorrer aos cargos de vereador, prefeito de Goiânia, deputado estadual e federal. Qual sua pretenção política para o futuro próximo?

Já no fechamento do ciclo passado, me encaminhei para a candidatura a deputado federal, mas naquele momento não foi possível concorrer porque esse plano não se encaixava dentro do planejamento do meu grupo político, e eu naturalmente entendi que realmente era melhor não colocar meu nome. Para o próximo ciclo, tenho a cabeça na mesma linha, mas, novamente, dependerá da configuração do meu grupo político. 

Primeiro, estou preocupado com o plano de governo que a população elegeu em 2022. Estou muito concentrado em fazer o Fundeinfra dar certo e não me preocupo com política. Mas é evidente que existe a possibilidade de eu aproveitar politicamente minha passagem pela administração — e, sendo uma passagem que eventualmente se mostre bem-sucedida, pode ser apropriada.  

Preciso trabalhar primeiro. Depois apresentarei meu nome ao partido União Brasil como alternativa eleitoral viável 

Essa candidatura precisa ser estudada, se, de fato, puder ocorrer. Esse capital político precisa ser apropriado pelo grupo que fez a gestão exitosa, da forma que ele melhor entender, porque a política é um jogo de viabilidade também. No futuro, vamos analisar se tenho espaço para uma candidatura a deputado federal (que é o meu desejo preponderante).

Acredito que, se você tem uma lista de serviços prestados, se as coisas aconteceram sob sua gestão, se você construiu uma credibilidade, então a sociedade estará com uma boa percepção a seu respeito.  Não adianta querer forçar uma candidatura se suas ações não deram certo, isso não vai funcionar. Por isso, estou concentrado em trabalhar onde estou. 

Hoje, se você me perguntar diretamente: “Você é candidato?”, terei de dizer que não sei. Eu preciso entregar muitos resultados, criar credibilidade, ter uma lista de serviços prestados e ser reconhecido. Então, apresentarei meu nome ao partido União Brasil como uma alternativa viável.

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