A inteligência artificial, no lutar de incluir, vai excluir os velhos

A velhice é tratada como lixo que se esconde embaixo do tapete. Gostamos de discutir a infância e a juventude, mas tentamos ignorar o envelhecimento.

No entanto, a velhice existe e estará cada vez mais fazendo parte das nossas vidas. Basta atentar para as cadentes taxas de natalidade e o aumento médio de vida que estamos assistindo. O mundo será de velhos no futuro.

Os velhos são um “peso morto”. Não produzem e consomem muito da renda familiar. Como a maioria é pobre e não tem uma aposentadoria suficiente para lhes garantir independência, os velhos dependem dos familiares para sobreviver. Mas nem só de pão carece o idoso. Eles precisam de atenção e carinho.

Ao longo da história, não foram poucas as sociedades que matavam os velhos. Outras tantas os empurram para asilos que são como depósitos de coisas inúteis. Poucos idosos nestas instituições tinham o privilégio de receber visitas de familiares e amigos. Os velhos não têm futuro, ao contrário das crianças. Deles não existe a perspectiva de retorno. Só se cuida dos velhos por caridade. É um ônus cujo único bônus é o amor.

Simone de Beauvoir e a velhice

Simone de Beauvoir, nada menos do que a famosa companheira do filósofo Jean-Paul Sartre, dedicou-se a estudar a velhice. Resultou deste interesse o livro “A Velhice” (Nova Fronteira, 608 páginas, tradução de Maria Helena Franco Martins). Ainda que escrito há cinco décadas, o tema não perdeu atualidade; ao contrário ganha importância diante das perspectivas da humanidade.

O texto aborda com amplitude os desafios dos idosos: a situação econômica, a decadência física e mental, a solidão, a perda de apetite. Sim, o envelhecimento é um processo de perda dos interesses. Poucas são as atividades que os entusiasmam. Não só o ânimo se abate como as perdas de condições físicas e mentais tolhem o seu interesse. Poucos são aqueles, que acima dos 80 anos estão inteiros, uma idade que tende a ser atingida por muitos. E raros são os que terão o privilégio do amparo familiar.

Geralmente o velho é um estorvo. Os descendentes casados geralmente não encontram nos seus parceiros a empatia com os seus progenitores. Colocá-los em asilos e casas de velhos, um mal menor do que o puro abandono, é uma solução conveniente. E muitos idosos, por solidão e/ou amor-próprio, conforme o texto, suicidam-se. Tal é a sua pouca importância que este final trágico, expressivo segundo as estatísticas, não merece a devida divulgação.

O livro merece ser lido. Trata-se de um texto sério e muito bem fundamentado. E o tema é atual. Merece atenção, pois o adulto de hoje será idoso amanhã. É bom saber o que os espera. Preparar-se para o novo mundo, que está sendo criado com a revolução tecnológica é sensato. Com a inteligência artificial, que ameaça ser a maior de todas as revoluções enfrentadas pela humanidade, estamos diante de um fato desconhecido, ao qual o velho não se adaptará.

A IA exclui os idosos

Estamos caminhando para uma nova era. A nova tecnologia, da qual não temos a real dimensão dos seus efeitos, promete revolucionar as nossas vidas.

A esperança é de que, como as anteriores, traga melhoria nas condições de vida do ser humano. Nem os experts têm noção dos desdobramentos que virão. Há até os que temem a máquina sair do controle e pôr fim à humanidade. Outros apostam que na média ela faça a vida mais humana, menos animal. O preocupante, porém, é a situação dos que ficarão abaixo da média… e entre estes certamente a maioria será de idosos.

Só os que estão dormindo ou perderam o juízo podem esperar que o amanhã será como ontem. É prudente estar preparado, pois poderá até ser melhor.

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