Tragédias anunciadas: a ineficiência do poder público em agir preventivamente

O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga os estados do Maranhão e Tocantins, causou um trágico saldo de mortes, desaparecimentos e ampla destruição. A estrutura, construída na década de 1960, já apresentava sinais evidentes de deterioração, conforme denunciado por moradores, autoridades locais e um documento técnico de 2020. O acidente ocorreu diante de alertas ignorados, inclusive o vídeo gravado por um vereador durante o momento do colapso, evidenciando as rachaduras e cobrando soluções. Tragédias como essa não são casos isolados no Brasil e refletem um padrão preocupante: o descaso do poder público com a manutenção de infraestruturas e a prevenção de acidentes.

Em Aparecida de Goiânia, um episódio semelhante ocorreu em 2023, quando Wellington Oliveira, de 27 anos, morreu após ser esmagado pelo desabamento de um ponto de ônibus no Setor Jardim das Cascatas. Relatórios da Defesa Civil já haviam apontado o estado precário da estrutura, mas nenhuma medida foi tomada antes do acidente. Assim como no caso da ponte em Aguiarnópolis, a tragédia só mobilizou ações das autoridades quando já era tarde demais.

Esses casos expõem uma falha sistêmica na gestão pública, que frequentemente deixa de lado a manutenção preventiva, optando por atuar apenas de forma reativa. A pergunta que fica é: por que a prefeitura, o estado ou mesmo o governo federal só tomam medidas depois que vidas são perdidas? O custo humano e financeiro de ações reativas é sempre maior do que o investimento em manutenção e prevenção.

A cultura da reação em vez da prevenção

As razões para essa cultura reativa são múltiplas. Em primeiro lugar, a falta de planejamento de longo prazo e a pressão por inaugurações de obras novas -por mera politicagem- acabam ofuscando a necessidade de preservar estruturas já existentes. Além disso, a burocracia excessiva e a má gestão de recursos contribuem para a demora em atender às demandas da população. No caso da ponte, por exemplo, a falta de resposta às denúncias anteriores ao desabamento é um reflexo de um sistema que prioriza determinados interesses políticos imediatos em detrimento do bem-estar coletivo.

Outro fator relevante é a ausência de fiscalização eficaz. Embora órgãos como a Defesa Civil frequentemente emitam alertas, esses relatórios muitas vezes são negligenciados pelas autoridades responsáveis. No caso do ponto de ônibus em Aparecida de Goiânia, a precariedade da estrutura era de conhecimento público e oficial. Ainda assim, nenhuma ação preventiva foi realizada.

O custo de não agir

Além do custo irreparável (famílias devastadas, comunidades desassistidas e uma população que perde ainda mais a confiança nas instituições públicas), há também o custo financeiro. A negligência custa caro, não apenas em termos de vidas perdidas, mas também no impacto financeiro. Reparar os danos após uma tragédia demanda mais recursos do que a manutenção regular das estruturas.

Enquanto tragédias anunciadas continuarem sendo ignoradas, a história irá se repetir, com diferentes nomes, datas e localidades. Cabe ao poder público reconhecer que a prevenção é a única forma de evitar que vidas sejam perdidas de maneira tão desnecessária e trágica.

O post Tragédias anunciadas: a ineficiência do poder público em agir preventivamente apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.