Caiado e Lula são apóstolos da democracia. Como vai se posicionar o candidato bolsonarista?

Há políticos se colocando para a disputa da Presidência da República, que ocorrerá daqui a um ano e nove meses. Uma lista mínima inclui ao menos nove nomes: Eduardo Bolsonaro, Gusttavo Lima, Lula da Silva, Michelle Bolsonaro, Pablo Marçal, Ratinho Júnior, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas.

Romeu Zema (Novo) parece carta fora do baralho, sobretudo porque não articula, ficando circunscrito a Minas Gerais. Pode acabar disputando mandato de senador. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) prefere disputar a reeleição, em São Paulo. A esperança de Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, é ser ungido pelo bolsonarismo. Se for, é forte; se não for, não terá cacife para uma disputa nacional.

Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro, opções do bolsonarismo: falta consistência | Foto: Reprodução

Michelle Bolsonaro (PL) e Eduardo Bolsonaro (PL) são nomes fortes, não por eles em si, mas pelo possível apoio do patriarca Jair Bolsonaro, ex-presidente e líder indiscutivelmente popular, no espectro do eleitorado de direita e extrema-direita.

A ressalva é que nem Michelle Bolsonaro nem Eduardo Bolsonaro são convincentes e, por isso, poderão sair arrasados dos debates. Se fossem consistentes, um deles já estaria definido como candidato, desde já.

No momento, Jair Bolsonaro não tem candidato a presidente e, experimentado, sabe que o Supremo Tribunal Federal não vai liberá-lo, em nenhuma hipótese, para a próxima disputa. Está e continuará inelegível. É o recado do realismo do “sistema” político-judicial.

Tarcísio de Freitas, bolsonarista mais consistente, quer ficar em São Paulo | Foto: Wilson Dias/ABr

Se não é um estrategista de primeira linha, Jair Bolsonaro também não é nenhum néscio. Ao não definir seu apoio a nenhum dos nomes que estão realmente no jogo, sugere que está observando o quadro político. Sagaz, não vai bancar candidato para ficar em terceiro lugar. Por isso, avalia se lançará um candidato da família — numa sugestão de que é o verdadeiro candidato — ou se apoia outro postulante, sobre o qual não tem qualquer controle, mas sabe que, com seu apoio, poderá derrotar o presidente Lula da Silva, do PT.

Que ninguém se iluda: o candidato do PT em 2026 será Lula da Silva. Porque é o único, na esquerda, que realmente tem condições de vencer um candidato da direita.

Há vários nomes na direita: Ronaldo Caiado (União Brasil), Tarcísio de Freitas, Pablo Marçal (PRTB), Gusttavo Lima (sem partido), Ratinho Júnior, Romeu Zema. Por quê? Por um motivo óbvio: a direita tem condições de derrotar Lula da Silva, sobretudo se conquistar o apoio do centro.

Pablo Marçal: discurso afiado mas nenhuma experiência administrativa l Foto: Divulgação

Há, claro, uma encruzilhada: todos os postulantes têm, a um só tempo, de ficar parecidos e diferentes de Jair Bolsonaro.

O ex-presidente ainda é forte, mas, como não disputará mandato em 2026, começa a entrar para a história, quer dizer, está saindo da história, a do presente, e caminhando para se tornar um personagem do passado. Frise-se: caminhando. Ele ainda tem certo vigor político, mas as demais forças começam a operar para superá-lo. Por isso trabalham com e sem ele.

Ronaldo Caiado, Gusttavo Lima e Pablo Marçal querem, é claro, o apoio de Jair Bolsonaro. Mas estão jogando no campo político sem o ex-presidente. Perceberam que há um espaço vazio — bem vazio — e, por isso, colocaram seus nomes.

De alguma maneira, Ronaldo Caiado, Gusttavo Lima e Pablo Marçal são os substitutos de Jair Bolsonaro. Por isso irritam tanto o ex-presidente, que, além de não jogar, não está figurando nem mesmo no banco de reservas.

Gusttavo Lima e Pablo Marçal são populares. Podem até se aproximar — nas pesquisas de intenção de voto — de Lula da Silva, mas não têm experiência suficiente para enfrentar um profissional como o petista-chefe. Tendem a começar bem e a terminar mal. Porque os eleitores brasileiros sabem que, apesar do palavreado fácil e radicalizado, sobretudo de Pablo Marçal, nenhum deles tem substância — conteúdo (pode-se indicar que são apenas “formas”) — suficiente para governar uma potência econômica como o Brasil.

Gusttavo Lima é popular, por ser cantor, mas não tem experiência como político e gestor | Foto: Divulgação

Na hora agá, dado o realismo de todo ser humano, a tendência, numa disputa entre Lula da Silva e Gusttavo Lima (ou Pablo Marçal), é o eleitorado optar pela experiência do petista-chefe. Não será uma decisão ideológica — uma escolha entre esquerda e direita —, e sim de puro pragmatismo. O petista-chefe terá governado o país, quando terminar 2026, por 12 anos. Noutras palavras, é um gestor experimentado. Isto tende a pesar numa disputa presidencial.

Pablo Marçal e Gusttavo Lima, em que pese a boa vontade e o idealismo, não são gestores, sobretudo não são gestores públicos. Se um deles for eleito, terá imensa dificuldade de governar um país tão complexo e gigantesco quanto o Brasil. Poderá levá-lo para o fundo do poço.

O realismo sugere que, no momento, há duas alternativas reais a Lula da Silva: os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Não há outros. Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro são amadores e não diferem, em nada, de Pablo Marçal e Gusttavo Lima.

Tarcísio de Freitas, que Jair Bolsonaro engoliria — mas com o qual anda chateado, por avaliá-lo como não-bolsonarista —, tende a disputar o governo de São Paulo. Seu projeto presidencial ficaria para 2030. Seu governo é considerado sóbrio e competente.

Jair Bolsonaro: a direita já começa a jogar sem o ex-presidente | Foto: Divulgação

De todos os citados, o único que tem história e experiência parecidas com de Lula da Silva é Ronaldo Caiado.

O político goiano foi deputado federal por vários anos e senador — portanto, saberia lidar com o Congresso — e, ao deixar o mandato, terá governado Goiás por sete anos e três meses. Sua experiência parlamentar e executiva, portanto, é imensa.

Na campanha presidencial, ao contrário de Pablo Marçal e Gusttavo Lima, Ronaldo Caiado não falará apenas de suas ideias (e intenções) para o país. Poderá exibir aos brasileiros o que tem feito em Goiás em termos de saúde, educação (uma das melhores do país), social e segurança Pública (a mais proativa do Brasil). A economia do Estado cresce mais do que a do país. Porque o governo, além de ajudar, não atrapalha a iniciativa privada.

O “recall” de Ronaldo Caiado são atos, resultados. Os de Gusttavo Lima, Pablo Marçal, Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro são, digamos assim, palavras, palavras, palavras… ao vento. Os eleitores poderão confrontar os governos de Lula da Silva e de Ronaldo Caiado — o que, certamente, levará a uma polarização entre forças substantivas. Mas há não como comparar com os outros candidatos citados neste parágrafo.

Há um aspecto que vale abordar. O que os brasileiros vão “discutir” com os candidatos a presidente em 2026? Claro, economia, segurança (o crime organizado está se enraizando na sociedade e, até, na política), social, saúde, emprego, educação. Mas também, muitos deles, talvez a maioria, estão de olho num aspecto: quais candidatos são defensores efetivos da democracia e quais apoiam golpes de Estado?

A turma bolsonarista, sabe-se, é golpista, não tem vocação democrática. Está marcada como tal. Os demais candidatos da direita terão de se posicionar, de maneira enfática, sobre democracia e ditadura. Ronaldo Caiado, desde já, e Lula da Silva figuram entre os apóstolos da democracia. E os demais?

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