Trump, no primeiro mandato, tentou arrastar o mundo para o caos. No segundo, ele pode conseguir

Quando, em novembro de 2020, o democrata Joe Biden derrotou o republicano Donald Trump e foi eleito como o novo presidente dos Estados Unidos, foi quase possível ouvir um suspiro coletivo de alívio no resto mundo. Disruptivo e intemperado, Trump, claro, não aceitou a derrota como qualquer líder político que se preze faria. Sem apresentar provas, o republicano foi a público reclamar do que chamou de “fraude na apuração de alguns estados” em que perdeu, colocando em xeque a lisura do processo eleitoral norte-americano. Era o que faltava para seus apoiadores fanáticos. Insuflados pelas palavras do “líder”, vândalos, criminosos promoveram uma invasão no Capitólio, em um episódio que maculou para sempre a história das eleições estadunidenses.

Mas com o “laranjão” derrotado e fora da Casa Branca, a Justiça pôde agir. Donald Trump foi julgado e condenado por fazer pagamentos ilegais com o objetivo de comprar o silêncio da atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels, com quem teria mantido relações extraconjugais. A sentença, inclusive, foi pronunciada na última semana, durante uma audiência em Nova York. Contudo, o jogo virou de uma forma que norte-americanos guiados pela sensatez ficaram atônitos.

Trump não só não será preso ou multado, como já assumiu, pela segunda vez, a direção do país mais poderoso do mundo. O promotor especial que moveu dois processos federais sem sucesso contra o presidente, inclusive, renunciou ao cargo na semana passada e se desligou do Departamento de Justiça americano. A questão é que, agora, à frente, mais uma vez, da Casa Branca, Trump parece estar movido por um espírito de vingança imparável, disposto a colocar em prática toda sorte de absurdos e atrocidades que não teve a oportunidade em seu último mandato.

Primeiro presidente americano condenado criminalmente da história dos EUA, Trump tem planejado decisões e dado declarações que deixam arrepiados até mesmos os correligionários mais conservadores. O pacote com 100 ordens executivas, preparado para ser divulgado até o final de janeiro, já é esperado para cair como uma bomba para imigrantes e minorias. No entanto, o que tem deixado de cabelo em pé os líderes políticos ao redor do mundo são, justamente, as recentes declarações de Trump quanto à sua intenção de “anexar”, pasmem, o Canadá e tomar o controle da Groelândia e até do Canal do Panamá.

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Perguntado por jornalistas se descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do território autônomo dinamarquês ou do canal, o presidente norte-americano respondeu: “Não, não posso garantir nada em relação a nenhum dos dois […]. Mas posso dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica”.

Vale dizer: tanto a Dinamarca, que detém a Groelândia (apesar de conferir autonomia ao groelandeses), quanto o Panamá e o Canadá rejeitaram com veemência qualquer sugestão de abrirem mão de seus territórios.

O governo canadense, inclusive, em choque pela aparente insanidade de Trump em cogitar tomar o controle do país vizinho, já prepara uma lista rigorosa de tarifas sobre os produtos americanos se o presidente eleito Donald Trump levar adiante os planos de adicionar um imposto de importação de 25% sobre produtos canadenses (possível estratégia de Trump para dar início a uma guerra comercial que enfraqueça o Canadá).

 “Se o Canadá se unisse aos EUA, não haveria tarifas, os impostos cairiam muito e eles estariam totalmente seguros da ameaça dos navios russos e chineses que os cercam constantemente”, disse Trump em um post no Truth Social na segunda-feira da semana passada. E é preciso dizer: uma guerra comercial de tal magnitude afetaria os preços dos bens de consumo no mundo inteiro, e não somente nas américas.

A questão da Groelândia também não é nova. A ideia de Trump em, literalmente, comprar a Groelândia surgiu ainda durante seu primeiro mandato. Por óbvio, na época, a ideia foi vista como uma piada, mais um disparate do presidente norte-americano, como tantos outros. Mas agora, em 2025, Trump tem dado recados claros: ele está falando mais sério do que nunca. A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, enfatizou em entrevista recente à uma TV dinamarquesa que “a Groenlândia pertence aos groenlandeses”, e que somente a população local poderia determinar seu futuro. Segundo a primeira-ministra, “a Groenlândia não está à venda”.

Em tempo: a Groenlândia está situada na rota mais direta entre a América do Norte e a Europa, e abriga uma importante base espacial dos EUA. Além disso, possui vastos depósitos de minerais raros, essenciais para a produção de baterias e dispositivos tecnológicos avançados. Trump afirmou que a ilha é estratégica para as operações militares de monitoramento de embarcações chinesas e russas, que, segundo ele, estão “espalhadas por toda parte”. Contudo, a Groelândia é isto: um território autônomo, e não uma empresa que pode ser simplesmente comprada.

Trump é o típico homem vaidoso, que se transforma em um animal descontrolado caso tenha o ego ferido. A derrota para Trump em 2020 feriu seu ego. A condenação criminal, também. Ele é um bilionário que não gosta, e não está acostumado a perder. Por isso, pode recorrer a qualquer meio para obter o que quer – e isso inclui o uso da força. Para o presidente, autonomia e soberania de um país, manutenção da harmonia diplomática e diálogos anti-conflito são apenas termos vazios que podem ser atropelados. Esta ideia é aterradora, mas precisa ser levada em conta: se antes Donald Trump queria arrastar o mundo para o caos, agora parece estar disposto a fazê-lo.

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