Desorganização da direita para 2026 dá respiro momentâneo a aliados de Lula

(FOLHAPRESS) – A indefinição do bolsonarismo para 2026, com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) e a multiplicação de pré-candidaturas, é vista por aliados de Lula (PT) como favorável para o campo governista, enquanto persistem dúvidas sobre a busca de reeleição pelo presidente ou a tentativa de fazer um sucessor.

Apoiadores do petista avaliam que a desorganização da direita pode levar a uma fragmentação na eleição, além de evidenciar a perda de controle de Bolsonaro sobre o segmento. Lula é tratado como o plano A do PT para a disputa, mas a decisão dependerá de fatores como saúde e vontade de concorrer.

A lista de interessados no espólio eleitoral de Bolsonaro, que está impedido de disputar eleições até 2030, ganhou reforços nos últimos dias com os anúncios do influenciador Pablo Marçal (PRTB) e do cantor Gusttavo Lima (sem partido) de que são pré-candidatos à Presidência.

O grupo de cotados já contava com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) -único que se coloca abertamente como presidenciável-, Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSDB-RS). Há um apelo para que o campo se unifique.

Um ponto que caminha para ser consenso, de acordo com quadros influentes do universo político -tanto no governo quanto na oposição-, é que a economia será decisiva para a competitividade de Lula. Mais do que índices oficiais, terá peso a percepção do eleitorado.

As movimentações na direita e centro-direita ocorrem sob a análise de que é remota a possibilidade de Bolsonaro reverter sua situação judicial a tempo da próxima eleição. Ao mesmo tempo, entende-se que ele é um cabo eleitoral importante, por conservar capital político.

Bolsonaro dá indicações de que repetirá a prática de Lula em 2018 de registrar candidatura como cabeça de chapa e, com a recusa da Justiça Eleitoral, ser substituído pelo vice, na época Fernando Haddad (PT). No caso de agora, o nome cotado para vice é o do filho Eduardo, deputado federal pelo PL.

A resistência de Bolsonaro em ungir um sucessor prolonga as incertezas. Tarcísio é tido como opção natural, mas mantém o discurso de que buscará a reeleição no estado, deixando aberta apenas a possibilidade de concorrer ao Planalto em 2030, quando estaria no fim do segundo mandato.

A estratégia jurídica do ex-presidente, que foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre a trama para dar um golpe de Estado no país em 2022, hoje se mistura aos passos eleitorais do clã.

Bolsonaro hesita em indicar um candidato de sua preferência com o intuito de resguardar sua força política, num empenho para mobilizar a opinião pública e se armar para os embates no STF (Supremo Tribunal Federal).

Adversários do ex-mandatário enxergam as articulações de líderes da direita como tentativas de ocupar o vácuo deixado por ele, mas especulam que o número de concorrentes deve se afunilar até o ano que vem.

A eventual entrada de Gusttavo Lima, por exemplo, é vista com ceticismo. A leitura é a de que o cantor busca holofotes para impulsionar uma candidatura ao Senado, mas dificilmente teria aval de um partido relevante para uma aventura mirando o Planalto. O artista tem proximidade com Caiado.

Já as intenções de Marçal são levadas mais a sério, em virtude do potencial que ele demonstrou na eleição para a Prefeitura de São Paulo, atraindo bolsonaristas e quase chegando ao segundo turno. As ações das quais é alvo na Justiça Eleitoral e que podem torná-lo inelegível são, no entanto, um obstáculo.

A estratégia de autopreservação de Bolsonaro tem potencial para desagregar os pré-candidatos e partidos que orbitam seu nome e resultar em um racha. No cenário projetado, aliados hesitariam em embarcar no plano do ex-presidente de forçar sua candidatura, o que poderia se arrastar até perto da eleição.

O calendário dos governadores é diferente, já que, para eles, há a exigência legal de renunciar ao cargo até abril de 2026 para concorrer ao pleito nacional. No caso dos que estão no segundo mandato e não podem tentar a reeleição, esperar uma definição do ex-presidente é algo ainda menos provável.

O governador de Goiás é tido como o mais convicto em relação à candidatura e alguém pouco disposto a recuar. Apesar da aspiração nacional, Caiado é considerado um líder político ainda restrito ao plano local, o que pode ser um empecilho. O mesmo é dito sobre Zema, Ratinho e Leite.

Na seara governista, as alternativas citadas em caso de ausência do presidente nas urnas são os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação) e Rui Costa (Casa Civil). Também voltaram a circular rumores sobre Flávio Dino, que trocou o governo pelo STF, mas o entorno do ministro descarta a hipótese de que ele renuncie ao cargo para regressar à política partidária.

Falando sob reserva, o presidente de um partido do centrão afirma que a existência de mais candidaturas de direita seria ruim porque resultaria em ataques mútuos e complicaria alianças no segundo turno.

Já o cientista político Antonio Lavareda diz que uma aglutinação na segunda etapa fortaleceria o projeto comum, por somar as bases eleitorais de cada candidato.

“Num primeiro momento, a pulverização associada ao enfraquecimento do líder da direita no país é benéfica para o campo lulista, já que ‘desorganiza’ a ação das forças oposicionistas e torna mais difícil produzir convergências entre esses atores”, afirma ele, acrescentando que a candidatura de Lula em 2026 “depende menos de sua saúde física do que da saúde da economia brasileira”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.