‘Russkiy Mir’: Entenda o plano de Vladimir Putin para construir um novo império russo

Vladimir Putin comanda a Rússia desde 1999. Em 25 anos, ele conseguiu moldar o país numa sociedade militarista e autoritária. O líder russo, conseguiu se impor como a força mais influente em seu país e parece incansável. Mas qual é seu objetivo?

Para tentar responder a essa pergunta, é preciso decifrar a mente maquiavélica do homem mais poderoso do mundo. Por isso, é preciso voltar no tempo para compreender o caos e a corrupção que se instalou na Rússia com o fim da União Soviética.

Em 1989, na queda do Muro de Berlim, Putin tinha 40 anos e trabalhava como agente secreto na Alemanha Ocidental para o serviço secreto soviético, a KGB. No ano seguinte, A União Soviética foi dissolvida em quinze países, entre eles A Nova Federação Russa. Na visão de Putin, a Rússia perdeu, naquele momento, milhares de quilômetros quadrados em território. Para ele, este foi o maior desastre geopolítico do século, já que país não perdeu somente território, mas também população. Na sua visão, milhões de compatriotas foram prejudicados ao se encontrarem fora do alcance da ¨mãe Rússia¨. 

O novo governo teve que vender 45 mil empresas públicas, como companhias de energia, mineração e comunicação, que eram geridas pelo regime comunista. Foi o caos. A economia russa praticamente quebrou e as empresas vendidas foram parar nas mãos de poucos empresários conhecidos como oligarcas. Ao mesmo tempo, o novo Estado Russo tinha dificuldades para se estabilizar. 

O primeiro Presidente, Boris Yeltsin, além de impopular, não conseguia se alinhar ao governos ocidentais — para piorar, era alcóolatra. Para se manter no poder, Yeltsin precisava do apoio dos Oligarcas, e assim teve que conceder a eles um imenso poder político.

Em 1991, o caos instalado levou Vladimir Putin a entrar para a política. Ele deixou a KGB e se tornou prefeito de São Petersburgo. A partir dai, Putin começou a usar o cargo para conceder tratamento especial aos amigos e aliados no setor privado, e ajudou-os a estruturar monopólios e a regular os competidores, tornando-se rapidamente o favorito entre os oligarcas formando um rede de apoio composta pela oligarquia, chefões do crime e oficiais de segurança que, assim como ele, vieram da KGB. 

Foi com esse apoio “mafioso” que Vladimir Putin ascendeu ao poder do estado russo. Em 1999, Boris Yeltsin nomeou Vladimir Putin como Primeiro-Ministro. Putin temia que Yeltsin permitisse que os Estados Unidos dominassem a Rússia. Havia ainda o temor de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança que trabalhou décadas para conter a influência sobre a União Soviética, incluísse novos países, deixando a Rússia completamente cercada. 

A meta de Putin era construir um estado russo forte, que fosse tanto estável internamente quanto capaz de exercer influência sobre seus vizinhos. O líder russo aproveitou a escalada de violência na Chechênia, uma região que se separou da Rússia no início dos anos 90 e que desde então avançou sobre o território russo atacando as fronteiras. 

Em agosto de 1999, uma série de atentados matou mais de 300 pessoas em várias cidades do país entre elas a capital, Moscou. Putin, de imediato, culpou os separatistas Chechenos pelos ataques e jurou vingança. A partir dai, sua popularidade aumentou rapidamente, mas jornalistas começaram a publicar reportagens que revelam que os ataques foram realizados pelos serviços de inteligência. Uma investigação governamental logo descartou essa possibilidade e, em seguida, a Rússia lançou um ataque devastador contra a Chechênia. 

A capital, Grozny foi reduzida à escombros. Estima-se que mais de 100 mil pessoas morreram nesses bombardeios. Em menos de um ano, a Chechênia voltou a ser controlada pela Rússia. 

Em dezembro de 1999, Yeltsin renunciou e Putin e foi apontado como Presidente interino. Em Maio de 2000, ele venceu as eleições e, assim que tomou posse, começou a moldar

o Estado a partir de seu visão. Patronagem corrupção continuam sendo ferramentas de controle, mas o jogo virou com os Oligarcas e Putin passou a controlá-los de acordo com suas próprias regras. 

Aqueles que obedeciam eram recompensados e aqueles que não seguiam as regras eram eliminados. Com comando sobre os oligarcas, Putin partiu para a segunda parte do seu plano para a Rússia e começou a expansão imperialista. 

A expansão imperialista de Vladimir Putin

Até 2008, a relação entre Rússia e Estados Unidos, na época sob o comando de George W. Bush, era tão estável que Putin chegou a passar as férias na residência de verão do Presidente americano. No mesmo ano, Putin resolveu invadir a Georgia, uma antiga República Soviética. Em apoio aos separatistas russos da Geórgia, a Russia deu uma mostra de agressão e força e anexou partes do país, o que provocou condenações por todo mundo. 

Durante a invasão, Putin não era o presidente mas primeiro-ministro. Barack Obama venceu as eleições nos Estados unidos e, assim que assumiu o cargo, tentou reatar boas relações com a Rússia. As duas potências assinaram um acordo para conter a produção de armas nucleares. No entanto, Putin permaneceu paranoico sobre as verdadeiras intenções dos EUA. Em 2012, venceu as eleições novamente, mas teve de lidar com a oposição. Putin não tolera opositores: prefere prendê-los ou eliminá-los no velho estilo da KGB.

Nos últimos dez anos, Vladimir Putin colocou em prática seu plano expansionista para construir um novo império russo, o chamado “Russkiy Mir” ou “Mundo Russo” — uma visão czarista da região que foi mantida durante o período soviético. A intenção do líder russo era promover o país ao ressurgimento no cenário internacional como potência mundial. Quando a União Soviética desintegrou-se em 1991, Putin criticou fortemente a destruição do “mundo russo”. 

Putin acredita que sua missão de vida é restaurar o poder e a glória da “Mãe Russia”, dos tempos de Catarina a Grande e Ivan, o Terrível. Para que isso se torne realidade, o presidente russo não pretende parar até que consiga reestabelecer as fronteiras do antigo império, que, para ele, foram arbitrariamente redefinidas com o colapso da “cortina de ferro”.

Putin não se interessa por um consenso, mas pela capitulação do Ocidente. Para o presidente, os assuntos do “mundo russo ” dizem respeito apenas aos russos e, para ele, as fronteiras desse mundo são a perder de vista. Não há limites para o “novo Czar”, como Vladimir é conhecido em seu país.

Em 2014 ele anexou a Criméia, e assim, em sua concepção, devolveu à Rússia o que era seu por direito: uma saída para o Mar Negro que havia ficado com a Ucrânia após dissolução da URSS. Foi apenas o começo para o que ainda estava por vir. Em 2021, um ano antes da invasão russa na Ucrânia, pela intranet do Kremlin, Putin escreveu um artigo em que deixava bem claro suas reais intenções no território ucraniano que ele considera uma nação irmã eslava.

Historicamente, a origem do povo russo está na Ucrânia, quando os eslavos se estabeleceram na região há 1500 anos formando a nação rus. O nacionalismo que fez da Ucrânia um Estado inimigo da Rússia vai de encontro à ideologia de “povos irmãos”, algo inaceitável para o líder russo. A invasão russa à Ucrania baseia-se em parâmetros diversos, mas tudo começa pela restauração dos laços subitamente cortados e que levaram a Ucrânia a se juntar à União Européia e à Otan. O chefe do kremlin considera a Ucrânia uma necessidade estratégica, a possibilidade ter a OTAN em suas fronteiras “infinitas” é algo

inconcebível.

Após a invasão em 2022, a corrupção endêmica que tomou o país foi exposta. Era na Ucrânia que os oligarcas russos lavam o dinheiro. Até a eleição de Zelensky, os governos antecessores funcionavam como fantoches; quem mandava ali eram os russos. A lavanderia do Kremlin acabou se tornando o país mais corrupto do mundo. 

As relações entre Putin e Zelensky nunca foram amigáveis. O presidente ucraniano era um comediante que fazia sucesso em apresentações de Stand up Comedy. O comediante que virou presidente, assim que assumiu o cargo, mandou prender por traição o homem de ferro

de Putin no país, Viktor Medveduchuk. Logo depois, passou a adotar políticas fiscais iam de encontro aos interesses do Kremlim.

Antes de iniciar os ataques à Ucrânia, como bom estrategista, Putin deixou preceder a incerteza de uma invasão total ao país vizinho. A ideia inicial era enfraquecer Zelensky a ponto de derrubá-lo para, em seguida, colocar de volta um governo fantoche em Kiev que tornaria a invasão menos traumática e facilitaria a anexação de territórios sem disputas militares. Mas Putin subestimou Zelensky e a guerra acaba de entrar em seu terceiro ano. A Rússia acabou atolada numa guerra de dimensões inesperadas. 

As baixas russas são altas e, para continuar lutando, Putin precisa de soldados. As fileiras do exército russo agora são preenchidas por militares norte-coreanos. A guerra entrou numa nova fase e está cada vez mais internacional. Pra piorar, antes de sair, o governo americano de Joe Biden autorizou o uso de mísseis de curta distância para ataques em território russo. Uma escalada perigosa, que pode levar o conflito para níveis mundiais.

A volta de Donald Trump à Casa Branca parece ser o alento esperado tanto por russos como para ucranianos. O governo Trump quer resolver a questão da segurança na Europa nos primeiros cem dias de governo. O fim da disputa na Ucrânia está no pacote. Trump quer salvar a Ucrânia e Putin já deu sinais que está disposto a negociar. Vladimir Putin já

disse não vai ser tão simples encerrar o conflito como Donald Trump tem colocado, e já deixou claro que não vai retirar suas tropas até que tenha conquistado seu objetivo: trazer a Ucrânia de volta ao seu “Mundo russo”. Quando se retirar de Kiev, o novo Czar já tem outro país na mira da sua expansão imperialista: o Cazaquistão.

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