Projeções de inflação mudam de patamar, e analistas veem cenário mais difícil em 2025

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – As projeções para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 2025 vêm em trajetória de alta, com a mudança para um patamar mais distante do teto da meta de inflação (4,5%).

O cenário, dizem economistas, sinaliza mais dificuldades para o BC (Banco Central) conseguir recolocar o índice dentro do intervalo de tolerância do alvo neste ano, após o estouro da medida de referência em 2024.

As previsões do mercado financeiro para o fechamento do IPCA em 2025 estão em alta há 13 semanas, alcançando 5% na mediana, segundo o boletim Focus, divulgado pelo BC (Banco Central). Antes dessa sequência de revisões para cima, que começou em outubro, a previsão estava abaixo de 4%.

O aumento das estimativas reflete fatores como a escalada do dólar e a pressão sobre os preços gerada pelo aquecimento da atividade econômica em meio a impulsos fiscais.

“É dificílimo cumprir a meta este ano. Tenho visto alguns colegas já falando em inflação de 7%. Meu número hoje, para o ano fechado, é 5,4% e, no pior cenário, é 6,2%”, afirma Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Way Investimentos e professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

“Para a inflação voltar para dentro da meta, a gente vai precisar de uma Selic [taxa de juros] acima dos 14,25% que o Banco Central sinalizou na última reunião. Ele vai precisar ir com a taxa um pouquinho acima de 15% talvez, não olhando para [o IPCA] este ano, mas para 2026”, acrescenta.

O aumento da Selic busca esfriar a demanda por bens e serviços, que pressiona os preços. O efeito colateral esperado é a desaceleração da economia, já que a elevação dos juros encarece o crédito, dificultando o consumo e os investimentos produtivos.

O centro da meta de inflação em 2025 é 3% no acumulado de 12 meses, com intervalo de tolerância de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

Os números do alvo são os mesmos de 2024, mas o BC passa a perseguir o objetivo de maneira contínua neste ano, abandonando o chamado ano-calendário (janeiro a dezembro).

No novo modelo, a meta será considerada descumprida quando a variação acumulada pelo IPCA permanecer por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância (1,5% a 4,5%).

O índice fechou 2024 em 4,83%, estourando o teto. O BC projetou que a inflação ficará acima do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, mas já há analistas do mercado que preveem um patamar superior ao longo de todo o ano.

Para o índice perder força e retornar para o limite perseguido, seria necessário um conjunto de surpresas “bem relevante” em preços mais voláteis, como os de alimentos, avalia André Muller, estrategista e economista-chefe da gestora AZ Quest.

“Em outros componentes, ligados à taxa de câmbio e à atividade econômica, esperaria menor espaço para surpresa. Se estivermos corretos, vai ser mais um ano em que a meta não será alcançada”, diz.

Muller aponta incertezas no cenário, o que dificulta as projeções, mas prevê por ora um IPCA de 5,5% em 2025, sem retorno para o teto de 4,5% ao longo do ano.

Conforme o economista, a alta do dólar deve gerar novos repasses para os preços. “O conjunto é de uma piora da inflação, das projeções de inflação”, afirma.

Para a economista Juliana Inhasz, professora do Insper, a onda de revisões para cima nas estimativas indica que investidores e analistas seguem preocupados com a condução da política fiscal no país e os possíveis reflexos disso na variação dos preços.

“É um sinal de desconfiança com a capacidade de colocar a inflação dentro da meta”, diz Juliana.

“Muito provavelmente as revisões continuarão a acontecer. Existe uma aposta muito grande, de uma parte muito significativa do mercado, de que a inflação vai ficar acima de 5%. É um sinal bem crítico.”

O economista-chefe do Sicredi, André Nunes de Nunes, prevê IPCA de 5,2% e Selic de 15,25% ao final do ano.

Segundo ele, as expectativas de inflação tendem a seguir como “pedra no sapato” do BC, porque não devem cair tanto, a menos que a atividade econômica desacelere mais do que o esperado no momento.

Nunes vê uma economia ainda aquecida pelo menos no primeiro trimestre, quando há o impacto da safra de grãos, além de enxergar espaço para repasses do dólar na faixa de R$ 6.

Assim, trazer o IPCA para o intervalo da meta vira uma tarefa mais complicada, segundo o economista. “É um desafio um pouco maior, porque já tem uma certa inflação contratada”, afirma.

A partir de 2025, um dos fatores do cenário externo que podem gerar reflexos no Brasil é a postura do novo governo Donald Trump. O presidente eleito toma posse nos Estados Unidos nesta segunda (20).

“O mundo vai mudar. A gente precisa ver se o ambiente externo vai ajudar ou não o cenário de inflação. Pode ser que atrapalhe. Tem muita coisa acontecendo para achar que a inflação vai voltar para 4,5%. Acho dificílimo”, diz Alexandre Espirito Santo, da Way Investimentos e da ESPM.

Para 2026, o economista projeta inflação na faixa de 4,7%. Na mediana, as estimativas do mercado indicam IPCA de 4,05% no próximo ano, de acordo com o boletim Focus. Esse número vem em alta há três semanas na pesquisa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.