‘Impressão digital’ dos olhos pode antecipar risco de AVC em pacientes, diz estudo

Um exame oftalmológico comum pode se tornar uma ferramenta de destaque na previsão de derrames cerebrais (AVC) no futuro, de acordo com um estudo publicado na revista científica Heart na última segunda-feira, 13. Os pesquisadores descobriram que uma “impressão digital vascular” na retina — camada sensível à luz na parte posterior do olho — oferece a mesma precisão preditiva de métodos tradicionais, mas com a vantagem de não depender de procedimentos invasivos. Essa descoberta coloca exames de retina como uma alternativa acessível e eficaz na avaliação de risco, especialmente em regiões com recursos limitados.

O estudo, conduzido por uma equipe liderada por Mingguang He e Danli Shi, da Universidade Politécnica de Hong Kong, utilizou o software RMHAS (Sistema de Avaliação da Saúde Microvascular da Retina) para analisar imagens da retina de 45.161 participantes do UK Biobank. O programa identificou 118 características mensuráveis dos vasos sanguíneos, das quais 29 foram associadas ao risco aumentado de AVC. Entre essas, fatores como densidade, calibre e complexidade dos vasos foram identificados como indicadores significativos.

Ao longo de 12,5 anos de monitoramento, 749 participantes sofreram um derrame. Os pesquisadores analisaram os padrões presentes nas retinas dessas pessoas e observaram correlações estatísticas que permitiram criar um modelo preditivo. “Nosso achado é consistente com estudos anteriores que encontraram associações [entre características do fundo de olho] com fatores de risco para o derrame, como idade, hipertensão e aterosclerose”, apontaram os cientistas. 

Uma alternativa mais acessível

Os dados sugerem que mudanças específicas na densidade vascular da retina estão associadas a um aumento de 10% a 19% no risco de AVC, dependendo do tipo de alteração. Esse modelo se destacou pela praticidade, já que combina os parâmetros oftalmológicos com variáveis como idade e sexo para alcançar precisão comparável à dos fatores de risco tradicionais, incluindo pressão alta e tabagismo.

Essa abordagem oferece benefícios práticos. O exame de fundo de olho, realizado rotineiramente por oftalmologistas, pode ser acessível e barato, permitindo que profissionais de saúde detectem riscos de derrame sem a necessidade de exames laboratoriais caros e invasivos. 

Impacto na saúde pública

Os números da Organização Mundial do AVC revelam um alerta: uma em cada quatro pessoas com mais de 35 anos sofrerá um AVC ao longo da vida. Mais preocupante ainda é que 90% desses eventos estão ligados a fatores de risco modificáveis, como dieta inadequada, tabagismo e hipertensão. Identificar esses fatores precocemente pode salvar vidas e aliviar a carga sobre os sistemas de saúde.

A complexidade vascular da retina compartilha características com os vasos sanguíneos do cérebro, tornando essa região uma “janela” natural para avaliar danos causados por condições como diabetes ou aterosclerose. 

Avanço no diagnóstico

Embora estudos anteriores já sugerissem a ligação entre características da retina e o risco de AVC, suas limitações técnicas e amostrais impediram aplicações clínicas práticas. Dessa vez, o uso do software RMHAS permitiu uma análise mais consistente.

Os pesquisadores encontraram evidências de que alterações na densidade dos vasos podem sinalizar deficiências no fornecimento de nutrientes e oxigênio na rede vascular, fatores que frequentemente precedem eventos como o AVC.

Além disso, o estudo revelou que o modelo baseado na análise da retina pode ser aplicado amplamente, mas apontou limitações. A amostra predominante de indivíduos brancos no UK Biobank levanta dúvidas sobre a aplicabilidade dos resultados em outras etnias. Outro ponto é que o tipo de AVC (isquêmico ou hemorrágico) não foi considerado nas análises, o que pode influenciar a generalização dos resultados.

 “Considerando que idade e sexo estão prontamente disponíveis, e parâmetros da retina podem ser obtidos por meio de fotografia de fundo de rotina, este modelo apresenta uma abordagem prática e facilmente implementável para avaliação de risco de acidente vascular cerebral incidente, particularmente para cuidados primários de saúde e ambientes de poucos recursos”, concluiu a pesquisa.

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