A imponderável flor de girassol na política do Tocantins

Desde pequeno, seu pai o convocava para importantes eventos políticos. O motivo pelo qual era escolhido, ele não sabe responder. O fato é que, após vender seu único patrimônio em Goiânia, a residência, e, com o dinheiro da venda, comprar o caminhão que levaria toda a família para Colinas, isso em torno de 1963, Siqueira Campos inicia o primeiro capítulo de sua história política atrelada à criação do Estado do Tocantins.

A partir daí, em qualquer movimentação popular e política, José Wilson Siqueira Campos (1928-2023) sempre chamava para estar ao seu lado aquele então garoto de 4 anos de idade que, mais tarde, seria seu sucessor político — o hoje recém-eleito prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, do Podemos.

Siqueira Campos com a esposa Aureny Siqueira Campos e os filhos com destino à Colinas | Foto: Arquivo Pessoal

A luta pela consolidação de um projeto tão arrojado como a criação do Estado do Tocantins em 1988 — desdobramento do movimento separatista coordenado pela Cooperativa Goiana de Agricultores cujo líder era Siqueira Campos — certamente ficou impregnada na memória daquele pequeno rapaz que, junto com seu pai, participou da maior parte da história do Estado. 

Siqueira Campos estava tão certo de que a construção do Estado do Tocantins mudaria a realidade daquele povo isolado ao Norte do Estado de Goiás que, durante a sua luta, chegou a fazer greve de fome por 98 horas em favor da causa separatista. 

A oficialização do Estado do Tocantins pela Constituição de 1988 concluiu uma luta de mais de 200 anos dos moradores do Norte de Goiás, cujo IDH, índice de desenvolvimento humano, era um dos mais baixos de todo país. 

A construção de Palmas – A segunda batalha do então eleito primeiro governador do Tocantins foi a construção da capital, Palmas, fundada em 1989, mas tornando-se definitiva capital do Estado em 1990, antes de Siqueira entregar o governo ao seu sucessor, Moisés Avelino (que derrotou Moisés Abrão, irmão da ex-senadora Lúcia Vânia). Mesmo com a capital ainda não concluída em suas estruturas, Siqueira impôs a transferência da capital de Miracema do Tocantins para Palmas, pois estava convicto que, se não o fizesse, seu sucessor não faria a transferência. Palmas, então, passa a ser um marco de desenvolvimento econômico e social do Estado, e para muitos brasileiros que viram na nova capital uma janela para novas oportunidades. 

Duas vezes prefeito – Em 1993, Eduardo Siqueira Campos se torna o primeiro prefeito de Palmas eleito pelo voto, mesmo tendo contra seu projeto um quadro político adverso. Passados 31 anos, a história se repete em relação ao contexto político, porém ainda mais hostil que na disputa pelo primeiro mandato, quando Eduardo ainda tinha seu pai como grande líder político do Estado.

Chegamos em 2024, um ano após a morte de Siqueira Campos — que viveu 94 anos —, e a política de Tocantins, que já vinha se moldando em torno de novas figuras políticas, se depara com o imponderável: Eduardo Siqueira se lança candidato a prefeito de Palmas filiado ao Podemos e com apenas 35 segundos de tempo da televisão. O meio político quase não o considerava um candidato a ser lembrado na construção de suas estratégias. A briga, para a maioria, estava entre Carlos Amastha (PSB), que antes mesmo do pleito começar abriu mão da disputa; Júnior Geo (PSDB), que contava com 2 minutos e 58 segundos mais a estrutura da máquina da Prefeitura de Palmas, que veio com o apoio de Cinthia Ribeiro; e Janad Valcari (PL), a candidata que contava com a maior expectativa de poder, mais de 5 minutos de televisão, a maior coligação, apoio do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), apoio do senador Eduardo Gomes (PL), apoio da senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil) e apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que esteve presente duas vezes durante a campanha, além de Michelle Bolsonaro. A ex-primeira-dama também marcou presença em apoio ao nome de Janad. 

Siqueira Campos e seu filho Eduardo Siqueira Campos | Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo com todo esse cenário improvável para sua vitória, a prefeitura retorna para o primeiro prefeito eleito da cidade, que, além de carregar a história política de seu pai, colocou em prática as conversas que tinham em particular. “‘Não se acovarde diante das adversidades. Se não tem estrutura, vai para perto do povo; se não tem tempo de televisão, vai para perto do povo; se não tem apoio político, vai para perto do povo; se não tem recurso, vai para perto do povo’. E foi isso que eu fiz. E o palmense me deu a vitória, que, certamente, é uma das mais significativas para minha vida e história política”, postula Eduardo Siqueira Campos.

É com essa importância dada à vitória pela prefeitura que o agora prefeito pretende fazer o projeto inicial do governador Siqueira Campos — tornar Palmas o centro de desenvolvimento econômico e social — de fato uma realidade para toda população. Tanto que, em seu primeiro ato como prefeito, Eduardo Siqueira Campos deixou a picuinha política de lado e visitou o governador Wanderlei Barbosa em busca de parcerias entre os dois poderes em benefício da cidade. Eduardo Siqueira Campos retirou, inclusive, o processo que abrira contra Wanderlei Barbosa por uso indevido da máquina em favor da candidatura de Janad. Mesmo sabendo que um dos projetos de Wanderlei Barbosa é disputar a Prefeitura de Palmas, em 2028, quando Eduardo deverá ir à reeleição. 

Nesta semana, o prefeito se reuniu com a senadora Professora Dorinha Seabra, cotada para ser a candidata ao governo com o apoio de Wanderlei Barbosa. Foi a primeira vez, depois de 12 anos, que um prefeito de Palmas buscou o apoio de um senador para construir projetos conjuntos na área da saúde e educação.

Apesar de não ter em seu discurso como prefeito intenções para ser o líder de grandes articulações políticas, pois pretende estar focado em sua gestão, o imponderável fez o girassol girar para sacudir a política do Tocantins com seus dez próximos anos já desenhados pelas principais lideranças do Estado. Os mesmos que subestimaram a história do siqueirismo no Estado, durante a disputa pela prefeitura, agora terão de saber lidar com aquele que hoje diz estar apenas interessado em gerir a capital, mas conta com R$ 2,7 bilhões de orçamento; conta com a caixa de ressonância política que é Palmas; conta com a experiência talhada pelos anos ao lado de Siqueira Campos; pelos mandatos de deputado estadual, federal e senador; e, sobretudo, conta com o compromisso feito no leito de morte de seu pai, quando disse: “Nossa história não irá terminar com sua partida”.

Siqueira Campos e a marca histórica da flor de girassol | Foto: Arquivo Pessoal

Uma curiosidade: quando era governador, Siqueira Campos recebeu, de um homem do campo, uma pedra que se tornara um fóssil marcado por uma flor de girassol, registrando que por aquelas terras já haviam germinado campos de girassóis. Siqueira nunca soubera disso; no entanto, durante seus mandatos, sempre plantou girassóis pelos espaços públicos do Estado. E agora, na disputa pela prefeitura, Eduardo tornou o girassol símbolo da sua campanha. Alusão a flor que gira e se posiciona em direção ao sol (na internet se lê: “A flor de girassol simboliza felicidade, energia, alegria, vitalidade, lealdade, respeito, honestidade, adoração, renovação, resiliência e vida eterna”).

Hoje o fóssil está na casa da viúva de Siqueira Campos, e, certamente, um dia será cedido para o museu de história do Estado.

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