Ex-diretora da Meta dununcia assédio e discriminação de gênero: “Quando levantei o problema, eu me tornei o problema”

A Meta, gigante da tecnologia e dona de plataformas como Facebook, Instagram e Threads, está no centro de mais uma polêmica. Kelly Stonelake, ex-diretora de Marketing de Produtos da divisão Reality Labs da empresa, entrou com um processo contra a big tech nesta semana, alegando ter sido vítima de discriminação de gênero, abuso sexual e retaliação por expor condutas irregulares dentro da companhia.

A denúncia, que traz acusações sobre a cultura corporativa da Meta, reforça um padrão de silenciamento de mulheres dentro da empresa, segundo a ex-funcionária. As informações foram divulgadas pelo site Business Insider.

Stonelake trabalhou na Meta por 15 anos e, em uma publicação no LinkedIn na última terça-feira, 4, declarou: “A verdade não importa para Mark Zuckerberg, mas importa para mim”. No processo movido na segunda-feira, 3, ela acusa a empresa de assédio e discriminação sistemática contra mulheres. Um dos episódios mencionados foi sua demissão após se posicionar contra práticas racistas no Horizon, um aplicativo de realidade virtual da Meta, que ela liderava no momento da sua expansão. “Quando levantei o problema, eu me tornei o problema – um padrão que silencia as mulheres em todos os lugares, todos os dias”, afirmou.

As alegações de Stonelake vão além. Ela conta que foi vítima de agressão sexual por um chefe durante uma viagem de negócios e que enfrentou diversas situações de assédio, incluindo comentários sexistas e a sugestão explícita de que deveria ter relações com um superior para ser promovida. “Fui agarrada pela virilha, gritaram comigo, me disseram para transar com meu chefe para ser promovida. Sobrevivi a tudo. Nada me destruiu tanto quanto um trabalho em que eu tinha que dizer ‘não’ a homens poderosos”, relatou.

A ex-funcionária destacou que a cultura da empresa não apenas marginaliza mulheres, mas também desvaloriza vozes críticas dentro da corporação. Segundo ela, ao expulsar lideranças femininas e outras figuras que desafiam o status quo, a Meta demonstra falhas de governança. “Quando a liderança da Meta me rejeitou e me excluiu, não estava apenas marginalizando mulheres: estava priorizando o poder em vez das pessoas”, afirmou.

Outro ponto levantado por Stonelake é o fim do programa interno de diversidade e inclusão da Meta. Em seu relato, ela menciona um comentário feito por Mark Zuckerberg, CEO da empresa, no podcast de Joe Rogan, onde defendeu mais “energia masculina” no ambiente corporativo. “Eu acho que há algo… ter uma cultura que celebra um pouco mais a agressão tem seus próprios méritos que são realmente positivos”, disse Zuckerberg na entrevista. A ex-diretora citou essa fala como um reflexo da postura da companhia, que, segundo ela, negligencia questões de inclusão e equidade de gênero.

Entre os casos descritos na ação, Stonelake cita uma colega de equipe que expressou preocupação com a segurança do Horizon World antes de sua expansão para adolescentes. A colaboradora pediu uma “pausa de qualidade” para aprimorar os controles parentais e de segurança do jogo, mas suas sugestões foram ignoradas. A ex-funcionária levou as preocupações à liderança, mas, em vez de ser ouvida, acabou excluída de reuniões estratégicas. “Eu era a única voz em uma sala composta apenas por homens defendendo uma mudança”, declarou ao Business Insider. “A discriminação na tecnologia não é apenas uma questão ética – é anti-inovação, é irresponsável e causa danos em uma escala que somente empresas de tecnologia podem alcançar.”

O processo movido contra a Meta inclui um pedido de indenização por danos morais e honorários advocatícios, além do ressarcimento de salários perdidos. O caso de Stonelake não é isolado. A ação menciona relatos de funcionárias que trabalharam na seção Horizon World e que se sentiram desvalorizadas dentro da equipe. Segundo o documento, “funcionárias relataram sentir que suas vozes eram consideradas menos valiosas e que o tratamento diferenciado era abertamente permitido”. Além disso, as preocupações levantadas por essas profissionais em 2022 sobre questões de segurança foram ignoradas pela “equipe de liderança totalmente masculina de produtos Horizon”.

As acusações contra a Meta surgem em um momento delicado para a empresa. Recentemente, a companhia anunciou grandes mudanças internas, incluindo a substituição do programa de checagem de fatos pelo sistema de notas da comunidade. Para Stonelake, essas mudanças fazem parte de um movimento maior que enfraquece a diversidade dentro da organização.

Esse não é o primeiro caso em que a Meta se vê no centro de controvérsias relacionadas a questões de equidade e governança corporativa. Até o momento, a big tech não se pronunciou oficialmente sobre a ação judicial movida por sua ex-diretora de marketing de produtos.

Confira a publicação completa de Stonelake:

Por 15 anos, tive a confiança de liderar as equipes e projetos mais importantes da Meta. Eu não esperava que minha carreira terminasse quando me posicionei contra um videogame racista, mas é a verdade.

Quando tive a oportunidade de liderar a empresa na expansão do Horizon, fiquei emocionada. No entanto, fiquei horrorizada ao entrar em uma sala de homens acobertando racismo desenfreado, um produto repleto de problemas de desempenho e violações de políticas públicas. Pior de tudo, as vítimas eram predominantemente crianças.

Quando levantei o problema, eu me tornei o problema – um padrão que silencia as mulheres em todos os lugares, todos os dias. Já fui agredida sexualmente por um chefe em uma viagem de negócios. Já me negaram promoções porque reconhecer meu sucesso significava reconhecer os fracassos dos homens. Já me disseram para agir “menos inteligente”, já sofri retaliação por fazer meu trabalho.

Alguns de vocês estão chocados porque não faziam ideia de que essas coisas aconteciam – alguns de vocês estão chocados porque não faziam ideia de que poderíamos ser honestos sobre isso.

Meu privilégio significa que tenho a responsabilidade de falar, mas a discriminação e o ambiente de trabalho hostil que experimentei acontecem em todos os níveis, em todos os setores. É exponencialmente pior para mulheres de cor. Isso cria maus resultados de negócios que prejudicam desproporcionalmente aqueles que deveríamos estar mais ansiosos para proteger, aumenta a disparidade de riqueza, coloca vidas em risco e é contra a lei.

Custou-me minha carreira, quase custou minha vida.

Já me agarraram nas partes íntimas, gritaram comigo, disseram-me para fazer sexo com meu chefe para conseguir uma promoção. Eu sobrevivi a tudo isso. Nada me quebrou como um trabalho em que eu tinha que dizer “não” a homens poderosos.

Quando as empresas de tecnologia expulsam líderes marginalizados, elas constroem produtos perigosos. Este não é apenas um problema ético. É uma falha de governança. Coloca funcionários, acionistas e usuários em todos os lugares – especialmente aqueles que mais precisam de proteção – em risco. Quando a liderança da Meta me dispensou e excluiu, eles não estavam apenas marginalizando mulheres, eles estavam priorizando o poder sobre as pessoas. Eles estavam colocando seu crescimento antes do bem.

Este ciclo se repete em todo o setor:

  • Mulheres, minorias, pessoas neurodivergentes, levantam bandeiras vermelhas éticas sobre a segurança do produto.
  • Elas enfrentam retaliação e exclusão por falar a verdade ao poder.
  • O dano então recai desproporcionalmente sobre os usuários mais vulneráveis.

A curto prazo, as empresas de tecnologia devem fortalecer as proteções para denunciantes éticos, tornar as práticas de promoção transparentes, reafirmar o compromisso com os programas de diversidade e vincular seu sucesso à remuneração dos executivos e integrar a conformidade ao processo de desenvolvimento do produto.

Onde Mark Zuckerberg discursa sobre as empresas precisarem ser mais masculinas, onde ele desmantela ativamente suas equipes de DEI e onde ele encobre salvaguardas, meu caso demonstra algo inegável: ambientes tóxicos e discriminatórios não são apenas errados, eles são anti-inovação. Odiar mulheres prejudica a todos.

A verdade não importa para Mark Zuckerberg, mas importa para mim.

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