Tecnologia brasileira promete reduzir emissões de CO2 em caminhões e ajudar no combate às mudanças climáticas

O Brasil emite mais de dois bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa por ano. O mais abundante deles é o dióxido de carbono (CO₂), gás produzido sobretudo pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. Em tempos de superaquecimento do planeta, mitigar essa emissão e seus efeitos é um dos principais objetivos estratégicos das nações que pretendem “adiar o fim do mundo”, expressão cunhada pelo pensador indígena brasileiro Ailton Krenak.

Uma inovação desenvolvida nos laboratórios da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pode se tornar uma grande aliada na luta contra as mudanças climáticas. Trata-se de um material capaz de absorver dióxido de carbono (CO2) diretamente dos canos de descarga dos caminhões, reduzindo a emissão desse gás que contribui para o efeito estufa.

Os principais setores emissores no país são a agropecuária, o transporte e a produção de energia. O uso intensivo de combustíveis fósseis em veículos e indústrias contribui significativamente para o aumento da concentração de CO₂ na atmosfera. Além disso, o desmatamento, que libera grandes quantidades do gás armazenado nas árvores, amplifica o problema climático.

Como funciona a tecnologia?

O material é formado por pequenas semiesferas de cerâmica que são inseridas em um reator acoplado ao escapamento do caminhão. Essas semiesferas capturam parte do CO2 liberado pela queima do diesel. Nos testes mais recentes, realizados em outubro de 2023, a tecnologia conseguiu absorver até 17,2% do CO2 emitido por um caminhão circulando em área urbana e 7,7% ao longo de um percurso rodoviário de 170 km.

O professor Jadson Cláudio Belchior, líder da pesquisa no Departamento de Química da UFMG, explica que esse índice de captura é significativamente superior ao que a indústria automotiva previa alcançar apenas em 2040. “Montadoras de veículos colocaram como expectativa conseguir chegar ao patamar de 8% de captura de CO2 só em 2040. Nós estamos alcançando esse percentual quinze anos antes”, afirma Belchior.

Qual o impacto dessa inovação?

Atualmente, o setor de transporte é um dos maiores responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, ficando atrás apenas da agropecuária e do saneamento básico. Como os caminhões movidos a diesel são os principais emissores de CO2 dentro do setor, essa tecnologia pode ter um impacto significativo na redução da poluição atmosférica.

Além de capturar o CO2, a inovação também oferece uma alternativa sustentável para seu reaproveitamento. O gás absorvido pode ser reutilizado na indústria de bebidas, na fabricação de combustíveis sintéticos e na indústria química, contribuindo para um modelo de economia circular.

Um protótipo em evolução

Embora os resultados sejam promissores, a tecnologia ainda está em fase de aprimoramento. A equipe da UFMG trabalha para aumentar a eficiência da absorção, e uma das propostas é incluir um dispositivo eletromecânico que resfrie os gases emitidos, permitindo uma captura ainda maior. “Se as semiesferas e controle de temperatura avançarem bastante, poderemos capturar até 80% do CO2”, projeta Belchior.

A pesquisa já recebeu apoio de instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e empresas do setor automotivo, incluindo montadoras e a Petrobras. Desde 2007, foram depositadas 21 patentes, das quais 11 já foram concedidas, incluindo sete nos Estados Unidos.

Perspectivas para o futuro

Além da aplicação em caminhões, a tecnologia também pode ser utilizada em geradores de energia a diesel, que são amplamente usados em locais sem acesso à rede elétrica. Como os geradores operam de forma estacionária, a implementação desse sistema pode ser ainda mais eficiente.

Com a proximidade da COP30, a expectativa é que iniciativas como essa recebam mais investimentos para acelerar sua implementação e contribuir para um futuro mais sustentável. “Esse rascunho já foi eficiente, imagina se lapidar bem”, destaca Belchior, confiante no potencial da tecnologia para transformar o setor de transporte e a indústria.

Se bem desenvolvida e aplicada em larga escala, essa inovação pode se tornar um marco na busca por soluções ambientais eficazes, ajudando o Brasil a cumprir metas de redução de emissões e a liderar iniciativas de sustentabilidade no setor de transportes.

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