A política externa dos EUA e as desigualdades globais em transição

Ao reassumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump adotou logo a politica da “America First”, que de imediato resultou em cortes significativos no orçamento destinado à USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). Essa redução de recursos afetou diretamente países em desenvolvimento, especialmente na África, Ásia e América Latina, que dependem dessa ajuda para projetos de infraestrutura e bem-estar social. Ao mesmo tempo, a China, com sua crescente influência global, começou a expandir suas iniciativas de financiamento e infraestrutura em regiões semelhantes, mas com um foco mais voltado para seus próprios interesses econômicos, refletindo, como os Estados Unidos, a dificuldade de lidar com as desigualdades internas, já que milhões de pessoas, tanto nos EUA quanto na China, vivem abaixo da linha da pobreza.

A redução nos fundos da USAID, uma das principais fontes de ajuda externa dos Estados Unidos, gerou repercussão global. Países em desenvolvimento, especialmente na África, Ásia e América Latina, sentiram o impacto da diminuição dos recursos. Enquanto isso, a China, que se posiciona como uma potência global crescente, tem aumentado suas iniciativas de financiamento e infraestrutura nos mesmos territórios. No entanto, como os próprios Estados Unidos e a China demonstram, essas potências globais enfrentam desigualdades internas gritantes, com vastos setores de suas populações vivendo abaixo da linha da pobreza. Nos Estados Unidos, cerca de 40 milhões de pessoas ainda vivem em condições de extrema pobreza, e a China, embora tenha experimentado um crescimento econômico impressionante, continua a enfrentar grandes disparidades sociais, particularmente nas regiões rurais.

Nesse cenário global de crescente desigualdade social, vemos uma crítica à lógica do sistema econômico que favorece a acumulação de riquezas nas mãos de poucos. O filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, em sua dialética da história, sugeriu que a história da humanidade segue uma espiral, onde os mesmos dilemas reaparecem, mas sob novas condições. O atual momento de concentração de riqueza e crescente desigualdade pode ser visto como o auge de um ciclo que, segundo Hegel, se prepara para uma transformação. A espiral histórica, ao atingir o ponto de saturação do absurdo, abre espaço para uma mudança estrutural, em que as contradições da modernidade começam a ser superadas. O próprio sistema econômico, com seu foco na competição desenfreada e no progresso material sem distribuição de renda, aproxima-se de um ponto de ruptura. Porém, como Hegel acreditava, esse ponto é também um ponto de transição.

Essa transição planetária que estamos vivendo pode ser comparada a um processo de mudança no qual as ações das nações, seus valores e políticas públicas, são colocados à prova. Nesse momento de crise, a humanidade é chamada a refletir sobre a necessidade de um novo modelo social, que seja capaz de gerar um equilíbrio entre riqueza e pobreza, justiça e equidade. O verdadeiro desafio está em redirecionar nossas ações para que não só a ajuda direta, como o “peixe” dado aos mais necessitados, seja uma solução paliativa, mas que sejam implementadas políticas públicas que deem aos pobres as “varas de pescar”, para que possam viver de forma autossustentável.

Essa reflexão sobre a desigualdade social nos remete à filosofia cristã, que também propõe a necessidade de uma abordagem de solidariedade. A história de Jesus e o episódio do “rico e Lázaro” nos lembra da responsabilidade dos ricos para com os pobres, e a necessidade de generosidade. Madre Teresa de Calcutá, ao ser questionada por um repórter que sugeria que ela deveria ensinar os pobres a pescar, respondeu: “Enquanto vocês não trazem as varas de pescar, eu vou dando o peixe aos pobres para que eles não morram de fome.” Essa frase reflete a profundidade de sua visão: até que as políticas públicas possam ser implementadas para mudar a realidade social dos mais carentes, a ajuda direta é necessária para que a miséria não destrua vidas.

A transição planetária, como descrita nas obras que estudam a evolução moral e espiritual da humanidade, fala da necessidade de superarmos a injustiça social e chegarmos a uma era mais equilibrada. O mundo passa por uma grande transformação, onde as potências globais e as economias dominantes não podem mais ignorar os desafios sociais internos e externos. A história nos mostra que o grande dilema da humanidade é garantir que, ao invés de um pequeno topo de pirâmide que acumula riquezas, o esforço coletivo seja para garantir uma vida digna a todos, com acesso a recursos básicos como educação, saúde e oportunidades de trabalho.

A era em que estamos vivendo pode ser vista como a última etapa de uma estrutura que, até então, tem favorecido os mais poderosos, mas que, pela lógica da evolução histórica, está prestes a ser transformada. Como sugere o conceito espírita, a verdadeira justiça social não se constrói na competição sem limites, mas na solidariedade, na compreensão das necessidades do próximo e no compromisso com o bem-estar coletivo. Em um momento como este, a história nos convoca à ação, e a transição para uma nova era está diretamente vinculada à maneira como lidamos com a desigualdade social. É a nossa responsabilidade coletiva criar um sistema mais justo, onde os direitos de todos sejam garantidos, e onde os mais necessitados, como os pescadores de peixes, possam um dia encontrar as varas para pescar sozinhos.
Enfim, o trotar do Cavalo Preto do Apocalipse há de fechar o selo das crises econômicas nesse giro da mola da história onde, até outro dia, trotava pelo mundo o Cavalo Amarelo da peste na parelha da mesma cancha por onde anda o Cavalo Vermelho da Guerra.

O post A política externa dos EUA e as desigualdades globais em transição apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.