“Todas as regiões próximas de rios e de nascentes são ambientalmente vulneráveis”, diz especialista ao destacar impactos da ocupação desordenada

A ocupação desordenada de áreas de preservação ambiental tem provocado desastres naturais cada vez mais frequentes no Brasil. Em Pirenópolis, um dos destinos turísticos mais visitados de Goiás, as chuvas intensas causaram danos e uma pousada construída em área de preservação foi atingida por uma enxurrada, servindo como um alerta para os riscos da ocupação desordenada de regiões ambientalmente sensíveis. O desastre, que causou prejuízos materiais e colocou vidas em risco, é um exemplo de como a falta de fiscalização e a priorização de interesses econômicos sobre os ambientais podem resultar em consequências catastróficas.

O presidente da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto, explicou ao Jornal Opção que áreas próximas a nascentes e margens de rios são especialmente vulneráveis. “Essas regiões são pontos de convergência de água. Todas as regiões próximas de rio e de nascentes são ambientalmente vulneráveis, não só por causa da beleza natural, mas porque são regiões sensíveis para onde convergem as águas. Foi exatamente o que aconteceu em Pirenópolis”, afirma. No caso de Pirenópolis, a pousada foi erguida em uma área de brejo, que havia sido preservada por séculos justamente por sua sensibilidade ambiental.

A construção do empreendimento foi marcada por polêmicas e levou três anos para ser liberada. No final, o poder econômico prevaleceu sobre as considerações técnicas e ambientais. “E é engraçado, porque eles constroem, depois vendem e saem da história. Quem construiu, quem teve o lucro não está nem aí, não participa do prejuízo quando acontece o desastre ambiental. Eles já saíram”, critica Neto. Esse tipo de comportamento, segundo ele, reflete uma mentalidade irresponsável, em que proprietários agem como se a posse da terra lhes desse direito de ignorar as consequências de suas ações.

Além dos riscos imediatos, a ocupação de áreas de preservação gera impactos de longo prazo. A perda dessas regiões reduz a capacidade do meio ambiente de se regenerar, agravando os efeitos das mudanças climáticas. Em Goiânia, por exemplo, a supressão de árvores antigas para dar lugar a novas mudas tem gerado polêmica. “Quando é retirada uma árvore que está ali há 40 anos, que tem 15, 17, 20 metros de altura, é plantada uma muda. Para ela chegar no tamanho da anterior, vai demorar pelo menos 20, 25 anos. Então você perdeu aquela sombra por 20, 25 anos. Você perdeu aqueles benefícios ecossistêmicos e ambientais de resfriamento, de melhoria da umidade local que aquela árvore fornecia.”, explica Neto.

O caso de Pirenópolis não é isolado. Em todo o país, a invasão de áreas de preservação tem sido uma constante, muitas vezes impulsionada por interesses econômicos e pela falta de fiscalização. Para Neto, é essencial fortalecer os órgãos ambientais e garantir que as decisões técnicas prevaleçam sobre os lobbies políticos e econômicos.
“Quando falamos sobre a importância de não se construir em áreas de preservação, há quem ache que isso é puramente para proteger o meio ambiente. É para isso também, mas essa não é a principal razão, no final das contas. Pois a grande questão é que essas áreas, sensíveis ambientalmente, estão suscetíveis exatamente a eventos como o registrado em Pirenópolis”, conclui.

Leia também:

A demolição de um ícone da arquitetura moderna; entenda o contexto da antiga sede da Celg

Chefe do PCC na Europa tenta sair da prisão após três anos preso

O post “Todas as regiões próximas de rios e de nascentes são ambientalmente vulneráveis”, diz especialista ao destacar impactos da ocupação desordenada apareceu primeiro em Jornal Opção.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.