Número de pacientes viciados em álcool aumenta 30% em Goiás após pandemia

O Complexo de Referência Estadual em Saúde Mental Prof. Jamil Issy (Cresm), vinculado à Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), registrou um aumento de 30% no número de pacientes viciados em álcool no período pós-pandemia. A unidade atende, em média, 86 pacientes por dia, totalizando cerca de 2.580 atendimentos mensais, incluindo consultas ambulatoriais e multiprofissionais.

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Ao Jornal Opção, o médico psiquiatra e diretor técnico do Cresm, Danilo Fiorotto, explicou que o principal público atendido na unidade são jovens, de até 30 anos, com vício em álcool e drogas (maconha, crack e cocaína). Além destes, pessoas de 50 a 60 anos, cuja dependência é quase que exclusiva do álcool.

“Apesar de atendermos outros públicos, a nossa maior demanda são homens. Esse aumento tem sido progressivo, principalmente envolvendo jovens com transtorno por álcool. A gente associa isso a um reconhecimento e consequências cada vez mais precoces. A população está bebendo mais cedo”, explica.

Danilo afirma que existem dois perfis de alcoólatras: aqueles que consomem bebidas diariamente em quantidade superior ao considerado de baixo risco e os que ingerem álcool de forma excessiva em curtos períodos, como nos fins de semana e em datas comemorativas. Ele destaca que este último grupo está mais associado a casos de agressão e crimes de trânsito.

O correto, de acordo com o diretor do Cresm, é ingerir até duas latas de cerveja e/ou vinho ou duas doses de destilado por dia no caso dos homens. Em relação às mulheres, a quantidade deve ser diminuída pela metade. O consumo acima de 14 latas de cerveja e/ou doses de destilado por semana para homens e sete para mulheres já é considerado de risco.

“É um problema de saúde pública subdiagnosticado e alguns fatores podem ajudar a facilitar esse reconhecimento. Um deles é quando a pessoa está deixando de cumprir papéis sociais e determinadas atividades por questão de consumo, gastando muito tempo procurando bebida. É importante estar atento a esses fatores”, afirma.

Tratamento 

O tratamento contra a dependência dura, no mínimo, seis meses. Entretanto, o recomendado é um ano de acompanhamento multidisciplinar, com tratamento médico, psiquiátrico e ressocialização. No Cresm, a taxa de recaída para o álcool, conforme o médico psiquiatra, gira em torno de um 2%.

O consumo da bebida durante o acompanhamento, porém, já é esperado. A partir disso, o paciente utiliza, junto da equipe, recursos para entender e combater os fatores da recaída, a fim de evitar novos contatos com o álcool. 

O tratamento é realizado tanto com o uso de medicamentos, quanto com o acompanhamento multidisciplinar, principalmente por meio de psicoterapias. Em geral, o acesso ao Cresm se dá pelo ambulatório ou pela internação. 

Os pacientes são encaminhados pelas unidades que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPs), como Unidades Básicas de Saúde/Estratégia de Saúde da Família (UBS/ESF), Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) e hospitais gerais que solicitam a vaga no Cresm, sempre por meio da regulação estadual. 

“Nem todos os casos precisam de internação. Na maioria dos casos é realizado acompanhamento quinzenal ou mensal. Existe uma crença de que a síndrome de abstinência só pode ser tratada em internação, mas não. Tem síndromes de abstinências leves, moderadas, que a gente pode tratar ambulatorialmente”, conta.

Agravamento da saúde 

Danilo reforça que o consumo de álcool, assim como outras drogas, é prejudicial à saúde. Pacientes que têm um consumo crônico de bebidas alcoólicas podem ter desde câncer ao aumento do risco de demências e deficiência de vitaminas, além de hipovitaminoses associadas ao risco de derrames e infartos. 

Os alcoólatras também costumam ter pressão alta com mais frequência do que a população em geral. Doenças como hepatites, hepatopatias e lesões no fígado são associadas ao consumo excessivo de álcool. 

“Há o risco muito grande também envolvendo problemas comportamentais, acidentes de trânsito, violência e assassinatos. Eles acabam ficando desinibidos e cometendo diversos crimes”, concluiu.

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