Entenda como episódios de violência podem alterar os genes

O impacto de tragédias não se limitam a memórias e destruição. Pesquisadores descobriram que o estresse vivido por mulheres grávidas durante períodos de guerra deixou marcas genéticas em descendentes. Mesmo sem ter vivido horrores, netos de mulheres sobreviventes ao ataque a cidade de Hama, na Síria, que matou milhares de pessoas carregam essa herança em seu DNA.

O DNA não se modifica por conta de experiências vividas. Porém, fenômenos epigenéticos são aqueles nos quais ocorrem alterações do DNA que, embora não mudem a sequência dos genes com os quais nascemos, afetam sua atividade.

As células podem acrescentar pequenos sinais químicos aos genes, que são capazes de alterar seu comportamento. As reações tem nome complicados, como metilação do DNA, modificação de histonas (proteínas em torno das quais o DNA se enrola), ou RNA não codificante, que interferem no código das células do indivíduo. O resultado é uma transmissão de características adquiridas durante gerações.

De acordo com a professora de antropologia no Instituto de Genética da Universidade da Flórida, Connie Mulligan, a pesquisa acompanhou três gerações de imigrantes sírios. Algumas famílias tinham sobrevivido ao ataque a cidade de Hama antes de fugir para a região. Outras, mesmo não tendo vivenciado o sofrimento na cidade, presenciaram a guerra civil no país.

As pesquisadoras buscavam As pesquisadoras buscavam “tell-tale chemical flags”, o equivalente a “sinais reveladores de modificações químicas”, nas famílias sírias. Análises mostram que animais conseguiam transmitir assinaturas epigenéticas de estresse para as gerações seguintes. Porém, fazer um levantamento semelhante em seres humanos parecia impossível.

Para o estudo, foram coletadas amostras de avós e mães que estavam grávidas durante os dois conflitos, assim como de seus descendentes. Todos tinham experimentado a violência em diferentes estágios do seu desenvolvimento. Um terceiro contingente, que havia imigrado para a Jordânia antes de 1980, funcionou como um grupo de controle para ser comparado com os demais.

A pesquisa também identificou que indivíduos expostos à violência quando estavam no útero apresentavam evidências de envelhecimento epigenético acelerado, associado a uma maior suscetibilidade para doenças da velhice.

“A ideia de que o trauma tem repercussões que alcançam os descendentes pode ajudar as pessoas a sentir mais empatia por seus semelhantes e levar os formuladores de políticas a se sensibilizarem”, disse a pesquisadora.

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