Ponte sobre o Rio das Almas prestes a cair. Quem será o responsável pela tragédia anunciada: Dnit ou Ecovia Araguaia?

A queda da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira sobre o Rio Tocantins, no final do ano passado, levantou preocupações sobre a segurança das pontes no Brasil. Agora, motoristas e especialistas alertam para riscos iminentes na ponte sobre o Rio das Almas, que liga os municípios de Rialma e Nova Glória, na BR-153, em Goiás. A estrutura, com 360 metros de extensão, apresenta sinais de desgaste e gera apreensão entre os usuários.

Vale destacar que a Ecovias do Araguaia é a responsável pela administração do trecho da BR-153 entre Anápolis, em Goiás, e Aliança do Tocantins, no estado do Tocantins. Portanto, a ponte está sob sua responsabilidade, assim como toda a malha viária. A concessionária é fiscalizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Ponte sobre o Rio das Almas l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A ponte, além de fazer a ligação entre vários municípios goianos e a capital, Goiânia, conecta diretamente os estados de Goiás, Tocantins e Maranhão.

Condutores que trafegam pelo local relatam instabilidade e vibração excessiva da ponte. “Quem será o culpado?”, questionam os motoristas, temendo um possível colapso. O engenheiro civil Rodrigo Carvalho da Mata, doutor em Engenharia de Estruturas pela USP, reforça o perigo: “A ponte já está avisando. O deslocamento no meio do vão e a vibração são sinais claros de que há algo errado. Se não forem tomadas medidas urgentes, o risco de colapso é real.”

O especialista destaca que a estrutura enfrenta problemas similares aos da ponte sobre o Rio Tocantins, que desabou em 22 de dezembro de 2024. A sobrecarga de tráfego, muito acima do projetado na década de 1950, compromete ainda mais a segurança.

Rachadura é visível l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Medo entre caminhoneiros e comerciantes

O caminhoneiro Fábio Júnior afirma que tem medo de passar pela ponte e relembra a tragédia da ponte do Estreito: “O povo falou, mostrou vídeos, e nada foi feito. Onde há fumaça, há fogo.” Outros motoristas relatam que esperam o tráfego diminuir para atravessar a ponte sozinhos e até retiram o cinto de segurança para facilitar a saída do veículo em caso de desabamento.

Comerciantes locais também temem impactos econômicos. Dona Silvinha, proprietária de um restaurante na rodovia, se preocupa com a possibilidade de fechamento do comércio, como ocorreu nas cidades afetadas pela queda da ponte sobre o Rio Tocantins. “A maioria dos meus clientes são motoristas. Se a ponte cair, nossa sobrevivência fica ameaçada”, lamenta.

Sinais visíveis de deterioração

A equipe do Jornal Opção visitou a ponte e constatou os problemas relatados. O intenso balanço da estrutura ao passar de caminhões é perceptível a olho nu. A ponte apresenta uma ondulação acentuada no centro e uma rachadura visível tanto na parte superior quanto inferior.

Rachadura na estrutura da ponte l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Embora um recapeamento tenha sido feito, a vibração excessiva causa deformações no asfalto. Motoristas relatam que o número de veículos pesados circulando simultaneamente é alto, aumentando os riscos, fato esse comprovado pela equipe de reportagem. Às vezes passam filas de caminhões, bitrens, treminhões e ônibus de uma só vez.

Outro fator observado que chama a atenção são os quebra-molas instalados nas cabeceiras da ponte, obrigando os motoristas a reduzirem a velocidade. Para o deputado federal José Nelton (UB), que denunciou as más condições da pinte em um vídeo recente, a medida confirma a precariedade da estrutura. “Que ponte tem quebra-molas para reduzir velocidade? Isso mostra que a Ecovias sabe que a estrutura não suporta grandes impactos”, afirma.

Durante a visita, a reportagem identificou uma balsa da empresa Geoloc Engenharia, de Curitiba (PR), realizando sondagens no rio. Um trabalhador informou que os estudos fazem parte da duplicação da rodovia e podem incluir reforços na estrutura existente. A reportagem tentou contato com um representante da empresa, mas não obteve retorno.

A situação da ponte sobre o Rio das Almas acende um alerta para autoridades e órgãos responsáveis. Enquanto providências não são tomadas, motoristas e moradores seguem apreensivos, temendo uma nova tragédia anunciada.

Caminhões pesados passam pela rachadura l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Especialista alerta para riscos em ponte e critica falta de controle de carga

O engenheiro Rodrigo da Mata fez um alerta sobre a situação preocupante de uma ponte em operação, destacando que a falta de controle de peso dos caminhões representa um grande risco. Para ele, uma possível solução, como a instalação de um pilar central, poderia criar problemas estruturais.

“Colocar uma coluna no meio não resolveria o problema. Pelo contrário, criaria outro. A forma de distribuição dos esforços mudaria, e a estrutura poderia ficar instável”, explicou Da Mata.

Segundo o especialista, a ponte já apresenta sinais evidentes de desgaste e instabilidade. “Do jeito que ela está, sem controle de peso, é perigosa. Isso é uma falha da concessionária e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que não instalaram uma balança para fiscalizar a carga dos caminhões”, afirmou.

Rodrigo da Mata – engenheiro expert em pontes l foto: Arquivo pessoal

Da Mata defende que a solução passa por duas medidas principais: reforço com fibra de carbono e a instalação de cabos de aço externos. “A fibra de carbono é a mesma usada em carros de Fórmula 1. Ela é colada na estrutura para aumentar a resistência. Já os cabos de aço externos funcionam como um reforço adicional para sustentar o peso da ponte”, detalhou.

O especialista também criticou a ausência de fiscalização. “A ponte tem uma vida útil, e com a idade avançada dela, é necessário reforço estrutural. Mas se o controle de peso não for feito, qualquer intervenção pode se tornar ineficaz. Caminhões rodando com excesso de carga são um problema sério. O correto seria ter uma balança na estrada para fiscalizar. A ponte está avisando”, Alertou.

Diante do cenário, ele cobra providências das autoridades. “A concessionária e a ANTT precisam agir. A instalação de quebra-molas antes e depois da ponte mostra que há preocupação, mas isso não resolve o problema de sobrecarga. O que precisa ser feito com urgência é a fiscalização do peso dos caminhões”, frisa Da Mata.

O engenheiro expert em pontes, que possui em seu portfólio mais de 50 projetos de pontes, alertou sobre as condições reais de trafegabilidade dessa estrutura. “Essa ponte foi construída na década de 60, seguindo normas semelhantes às da ponte que desabou na divisa do Tocantins com o Maranhão”, afirmou. O especialista fez um alerta às autoridades sobre avarias importantes na estrutura da ponte. “Essa ponte tem problemas parecidos com a que desabou”, destacou.

O professor chama atenção para a tipologia do carregamento da década de 60. Ele explica que, naquela época, o veículo dimensionado pela norma tinha 32 toneladas, enquanto hoje o equivalente é de 45 toneladas. “Essas pontes antigas devem passar por reabilitações devido a essas características de carregamento”, frisou.

Rodrigo lembra que, em 2017, o governo federal publicou um decreto permitindo caminhões de até 94 toneladas em algumas estradas, além de aumentar a porcentagem de transbordo de carga, ou seja, o excesso de peso.

Rodrigo da Mata fez uma análise das normativas ao longo dos anos. De 1950 a 1960, a carga tipificada era de 12 toneladas; de 1960 a 1975, a norma foi ajustada para 36 toneladas; entre 1945 e 1985, começaram a aparecer pontes mais largas, mas ainda com a permissão de 36 toneladas. De 1985 a 2013, as normas passaram a permitir veículos de 45 toneladas.

Veja vídeo explicando a aplicação com fibra de carbono

Contudo, a partir de 2013, o professor destaca que o coeficiente de impacto se tornou mais rigoroso, exigindo reforços adicionais. Entretanto, ele alerta que caminhões chegam a trafegar com cargas de 90 toneladas em pontes construídas sob as normas de 1960. “Isso é preocupante”, afirmou. O engenheiro também ressalta que, no período da colheita de cana, caminhões com mais de 120 toneladas trafegam sobre a ponte em questão, além de outras.

O engenheiro finalizou ressaltando a importância da ação preventiva. “Nós, da academia, temos alertado sobre o risco das pontes antigas há anos. A questão é que, muitas vezes, nem mesmo os municípios sabem quantas pontes possuem, quanto mais as condições delas. É necessário refletir antes que uma tragédia maior aconteça.”

José Nelton alerta sobre risco em ponte e responsabiliza Ministério dos Transportes

O deputado federal José Nelton gravou um vídeo alertando sobre a situação crítica da ponte. Ele comparou o estado da estrutura com a ponte que desabou no Estreito. Segundo ele, a ponte passou por uma reforma recente. “Há uma rachadura real, uma fissura e, hoje, todos sabem que ela está balançando”, afirmou o parlamentar.

Deputado federal José Nelton l Foto: Arquivo pessoal

Nelton ressaltou que está exercendo sua função de fiscal do serviço público e informou que o tema já foi debatido em audiência. “Fui ao Ministério dos Transportes. Espero que a ponte não caia, torço para que isso não aconteça, mas, se vier a ocorrer, a culpa será do Ministério dos Transportes. Estou denunciando agora para depois ninguém dizer que não foi avisado.”

O deputado afirmou que levará o assunto para a tribuna da Câmara na próxima semana e para a Comissão de Viação e Transportes. Ele destacou que quebra-molas foram instalados na ponte para reduzir o peso do trânsito sobre a estrutura. “Há uma empresa fazendo uma sondagem para a construção da nova ponte por conta da duplicação da rodovia. Eles disseram que vão reforçar a ponte antiga, mas, pelo jeito, não vão derrubar e nem construir outra no lugar.”

Nelton também denunciou que a ponte tem uma fissura na parte inferior e cobrou a liberação de licenças ambientais para a construção da nova estrutura. “Denunciei esse fato ao Ministério dos Transportes, ao Ibama e à ANTT. A ANTT pode liberar o início das obras da segunda ponte ainda este ano e não deixar para o ano que vem. A Ecovias pode iniciar a construção agora, sem precisar esperar a licença ambiental.”

O parlamentar defendeu que, com a nova ponte concluída, o peso do trânsito sobre a ponte antiga será reduzido, permitindo a sua recuperação. Ele também rejeitou acusações de alarmismo. “Estou apenas trazendo um alerta. Não sou alarmista. No caso da ponte sobre o Rio Tocantins, entre Maranhão e Tocantins, as denúncias foram feitas, mas as autoridades competentes ignoraram.”

Nelton anunciou que marcará uma nova reunião em março e destacou que o presidente do Ibama garantiu a liberação da licença ambiental para a ANTT até o dia 20 deste mês. “Estou trabalhando nisso há dois anos, pressionando para que aconteça. Se a Ecovias do Araguaia não fizer 50 km de rodovia duplicada este ano, pedirei a caducidade do contrato.”

O deputado também afirmou que já conversou com a Ecovias sobre a situação da ponte. “Eles estão aguardando a autorização da ANTT para iniciar a obra este ano. A instalação dos quebra-molas confirma que há um problema real na ponte. Se não houvesse, eles não teriam sido colocados.”

Por fim, Nelton destacou a preocupação dos motoristas e seu próprio receio ao atravessar a estrutura. “Os motoristas estão com medo, talvez pela tragédia no Maranhão. Eu mesmo fico atento para atravessar quando não há muitos carros. A ponte balança demais. Dizem que é normal, mas não é. Em outras pontes isso não acontece.”

Frederico Gonçalves Vidigal, geólogo e ex-prefeito de Rialma, alerta sobre condição crítica de ponte

O ex-prefeito de Rialma e atual presidente do Consórcio Goiano de Infraestrutura Municipal (Cogim), Frederico Gonçalves Vidigal, manifestou preocupação com a situação estrutural da ponte sobre o Rio das Almas. A estrutura, que data da década de 1960, tem sido alvo de polêmicas e preocupação da população local.

Frederico Gonçalves Vidigal l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Essa ponte é um elo importantíssimo, tanto para o escoamento da produção rural quanto para o fomento da agricultura familiar. Eu sou pequeno produtor, além de ex-prefeito e geólogo, e essa situação nos preocupa muito”, afirmou Vidigal.

O ex-prefeito destacou que, durante seu primeiro mandato iniciado em 2017, houve uma transição entre concessionárias, e a situação da ponte foi levantada. “Foi feita uma reestruturação e algumas obras, mas hoje, visitando o local, vemos que ainda há motivos para preocupação”, disse.

Vidigal cobrou um posicionamento da concessionária Ecovias. “Eles deveriam disponibilizar estudos que pudessem nos dar segurança. Onde estão os sensores de monitoramento? Foram feitos ensaios geotécnicos? Cadê as placas informando a capacidade de carga da ponte?”, questionou.

Segundo ele, caminhões com mais de 100 toneladas trafegam pela ponte, especialmente durante a safra da cana, o que intensifica os riscos. “A gente precisa de informações concretas. A ponte foi feita em outra época, com outra realidade de tráfego. Hoje temos veículos de grande porte, como bitrens e treminhões, que não existiam na década de 60”, ressaltou.

Vidigal também mencionou o recapeamento feito sobre a ponte, que, segundo ele, mostra sinais de instabilidade. “O asfalto está estufando, o que indica um movimento anormal na estrutura. Quando um carro pequeno passa, a gente quase não percebe balanço, mas quando um caminhão entra, a situação muda. Isso é normal? Não sabemos, e é isso que precisamos descobrir”, afirmou.

O ex-prefeito lembrou que, em 2018, a ponte chegou a ser interditada parcialmente e cabos de aço foram instalados para reforço. No entanto, desde então, nenhuma outra obra de proteção ou segurança foi realizada. “Se a Ecovias apresentar estudos técnicos que garantam a segurança, ótimo. Mas até agora, não tivemos acesso a nada disso”, disse.

Diante da situação crítica, Vidigal defendeu medidas emergenciais. “O primeiro passo é controlar a quantidade de toneladas permitidas na ponte. Caminhões acima do peso não deveriam trafegar aqui. Isso traria mais segurança para a população”, sugeriu.

Veja entrevista com Frederico

Para ele, o ideal seria a construção de uma nova ponte. “Precisamos de uma estrutura moderna, compatível com a realidade do tráfego atual. Mas até que isso aconteça, medidas imediatas precisam ser tomadas para evitar uma tragédia”, alertou.

Vidigal finalizou conclamando a população a se mobilizar. “Podemos promover um abaixo-assinado para pressionar a Ecovias a apresentar um laudo técnico e adotar medidas concretas. Não podemos esperar que aconteça um desastre para agir”, concluiu.

Prefeito de Ceres alerta sobre riscos estruturais em ponte da região

O prefeito de Ceres, Edmário de Castro Barbosa, engenheiro civil, demonstrou preocupação com a estrutura da ponte que liga Rialma a Nova Glória, destacando sua importância para o estado de Goiás e o tempo desde sua construção.

Edmário de Castro Barbosa l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Essa ponte é de suma importância para toda a nossa região. Ela liga o sul ao norte do estado de Goiás e foi projetada e construída na década de 1960. Portanto, é uma ponte já bem antiga”, afirmou.

Barbosa ressaltou que a estrutura tem características semelhantes à da ponte que desabou recentemente no Rio Tocantins, na divisa entre Maranhão e Tocantins. “Aquela ponte era de concreto protendido, um projeto específico e diferente. Aqui na nossa região, o movimento é muito maior do que lá. Se um desastre acontecer, os órgãos responsáveis, como o DNIT e a Ecovias, terão grande responsabilidade”, alertou.

O prefeito também pontuou que o volume de carga suportado pela ponte atualmente é muito superior ao previsto no projeto original. “Há 60, 70 anos, os caminhões que circulavam por essa estrada transportavam metade da carga dos veículos atuais. Essa ponte foi construída para suportar, no máximo, 40 toneladas, mas hoje recebe cargas de até 120 toneladas”, disse.

Ele lembrou que a manutenção já foi realizada anteriormente, mas enfatizou a necessidade de vigilância contínua. “Estive com um engenheiro que trabalhou na manutenção dos cabos tirantes da ponte. Acredito que esse serviço esteja sendo acompanhado pelos responsáveis”, afirmou.

Veja entrevista com Edmario

Barbosa confirmou que já há sondagens sendo realizadas para a construção de uma nova ponte. “No Carnaval, estive em Palmas e percebi que a duplicação da rodovia já está avançada em algumas regiões. Aqui, nossa região contribui muito mais com pedágios, mas a duplicação ainda não ocorreu. O deputado federal José Nelto disse que o governo tem compromisso de duplicar 90 km entre Anápolis e Porangatu. Acho pouco, mas é um começo”, declarou.

Tragédia anunciada

O prefeito fez um alerta sobre os riscos de um colapso estrutural da ponte. “Se uma tragédia acontecer aqui, será muito pior do que no Maranhão. O tráfego aqui é muito maior. O governo federal e os engenheiros responsáveis devem estar atentos”, disse.

Além dos impactos econômicos, Barbosa destacou a preocupação com a segurança da população. “Se essa ponte cair, haverá um prejuízo econômico enorme, mas o mais preocupante são as vidas perdidas, que fazem muita diferença para os seus entes queridos”, concluiu.

 “Acredito mais no engenheiro”, diz morador

Jardim Paulista, a poucos metros da ponte, tem vivido dias de apreensão. Roberto Alves, mais conhecido como “Robertin” entre os moradores da região, relembra os problemas estruturais da ponte desde o início dos anos 2000.

“Ela deu os primeiros balanços, né? Começou a balançar de um lado para o outro, praticamente desmembrava, batia, sabe? Aí arrumaram, fizeram um serviço no meio. No meio dela, levantava-se e abaixava”, explica.

Robertin: “Eu acredito mais no engenheiro”, Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

No entanto, os problemas persistiram. “Dessa última vez, agora em 2017, ela balançou bastante. Vieram de novo, mas teve um problema lá no Maranhão com uma ponte quase da mesma estrutura dessa aqui. É a mesma estrutura, mesmos parâmetros, só com pouca diferença na metragem. Essa aqui parece que tem 90 metros de um pilar ao outro. A de lá acho que era 110 ou 120 metros, não sei. Tem aquele vão no meio muito grande, sem nenhuma coluna.”

A preocupação de Robertin e dos comerciantes da região é crescente, principalmente devido à quantidade e ao peso dos veículos que trafegam pelo local. “O peso da época era outro, hoje é totalmente diferente. Não é só um caminhão, tem hora que passam dez caminhões, um atrás do outro.”

Ele também comenta sobre avaliações conflitantes em relação à segurança da ponte. “O pessoal falou que tá tudo legal, os bombeiros também fizeram vistoria e disseram que não tinha problema nenhum. Mas teve um engenheiro que disse que tinha problema, o engenheiro da PUC. E eu acredito mais nele do que no povo, né? Eu acredito mais no engenheiro.”

Diante dessa situação, ele adota precauções ao atravessar a ponte. “Espero para passar quando vejo carga pesada, dou aquela esperada.”

Rachadura no meio da ponte l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Os comerciantes locais temem as consequências econômicas de um eventual colapso da estrutura. “Se essa ponte cair, o prejuízo é imenso. Olha lá no Estreito, quando acabou de um lado e do outro. Aqui o movimento é muito grande, passa gente indo para Carmo do Rio Verde, saindo para Ceres. Se acontecer qualquer coisa, o comércio aqui acaba.”

A população clama por uma solução imediata. “As autoridades têm que tomar providências urgentes. Inclusive, acho que teve um deputado olhando a ponte ontem, não sei se você viu. Ele denunciou, mas acho que precisa olhar melhor, viu? A gente não é engenheiro para acusar nada, mas eu confio no engenheiro que falou.”

“Essa situação é preocupante”, diz comerciante

Silvinha Maria de Oliveira, de 52 anos, é proprietária de um restaurante no Jardim Paulista, onde trabalha há seis anos. Antes de abrir o estabelecimento, ela atuava no ramo de alumínio, mas sempre esteve no lado dessa ponte que, segundo ela, divide duas realidades.

“Eu sempre estive aqui, aqui desse lado da ponte, no município de Nova Glória”, diz Silvinha, destacando a importância da localização do seu comércio, que serve principalmente aos caminhoneiros que trafegam pela BR-153.

Ao ser questionada sobre a situação da rodovia, especialmente após o colapso de uma ponte no Maranhão, Silvinha não esconde sua preocupação. “A gente ouve muitas coisas, né? Os próprios caminhoneiros que param aqui para almoçar falam que têm medo. Teve um dia desses que um caminhoneiro comentou que teve que desabotoar o cinto, vindo ou indo, por medo de cair. A gente escuta essas coisas e fica assustada”, relata.

Restaurante da dona Silvinha l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ela explica que, embora passe a maior parte do tempo em seu restaurante, não deixa de se preocupar com a rodovia. “A gente ouve relatos de que é perigoso, que passa muita carga pesada, e isso acontece dia e noite, sem parar”, afirma. Para ela, a situação é alarmante, principalmente quando se compara com o que aconteceu no Maranhão, onde a ponte cedeu.

Silvinha também destaca que a insegurança não é uma preocupação apenas pessoal, mas afeta todo o comércio local. “Não é só o meu restaurante, mas outros comércios aqui também dependem da rodovia. Muitos comerciantes vendem marmitas, lanches, cafés da manhã para os caminhoneiros. A gente depende deles para o sustento”, diz ela, ressaltando que um possível acidente poderia afetar todos na região.

Por fim, Silvinha espera que as autoridades tomem providências para evitar uma tragédia, afirmando que o tráfego intenso de veículos pesados e a falta de segurança são um risco para todos. “A vida das pessoas não pode ser desperdiçada, e deveria já ter sido tomada uma atitude para garantir a segurança de todo mundo”, conclui.

A preocupação de Silvinha Maria de Oliveira é compartilhada por muitos moradores e comerciantes da região, que temem pelo futuro da rodovia e o impacto de um possível acidente.

Relatos de motoristas

Josiel Paixão de Souza, 40 anos, natural de Petrolina, Pernambuco, é caminhoneiro há mais de 20 anos e tem acompanhado de perto o estado das estradas brasileiras. Ele alerta para o risco que as pontes oferecem aos motoristas, afirmando que muitas delas estão em estado de calamidade.

“Hoje, quando passamos nas estradas, temos até receio de cruzar algumas pontes. Muitas delas estão com ondulações, algumas são mais elevadas, outras estão cedendo. A gente passa com muito medo, porque recentemente tivemos o caso daquela ponte no Maranhão, que caiu no estreito. Isso gera medo, principalmente entre nós, caminhoneiros”, relata Josiel. “Naquela tragédia, houve vítimas fatais, colegas de trabalho perderam a vida. Não sei ao certo quantas pessoas morreram, mas é algo que mexe com a gente.”

Josiel Paixão de Souza: “o medo de passar por algumas dessas pontes é muito grande” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Josiel acredita que a situação das pontes poderia ser evitada com maior fiscalização e cuidados das autoridades responsáveis. “Não sei como o governo está estruturado hoje, se há algum órgão fiscalizando especificamente as pontes. Seria muito bom contar com um órgão que se dedique a essa área”, comenta.

Ele relembra que já havia percebido problemas estruturais em algumas pontes, como a do Maranhão, que ele cruzou diversas vezes durante seu tempo de trabalho em Imperatriz. “Eu passava lá e sentia a ponte balançando dentro do caminhão. Não é normal uma ponte vibrar daquele jeito, não é para ser 100%. Isso já me parecia um absurdo”, afirma o caminhoneiro.

“Essa ponte foi construída na mesma época e está do mesmo jeito, balançando. Isso é preocupante. A gente trabalha para levar o pão para casa, mas o medo de passar por algumas dessas pontes é muito grande”, desabafa.

Apesar de notar melhorias nas rodovias do Brasil, Josiel reforça que a infraestrutura no país ainda precisa de muito mais atenção. “Tem trechos muito ruins, com buracos, e a infraestrutura no Brasil precisa melhorar muito”, conclui.

Carlos Damasceno, morador de Itapaci, Goiás, diz que atravessa a ponte pelo menos três vezes por semana. “Eu passo por aqui com frequência, mas toda vez que atravesso, vejo sinais de trincas, e as rachaduras só aumentam. Isso me deixa em alerta. Quando caiu a ponte do estreito, a luz vermelha acendeu novamente. A estrutura dela parece ser semelhante à desta ponte, pois ambas foram construídas na mesma época.”

Carlos comenta sobre as medidas adotadas: “Se pedem para diminuir a velocidade e restringir o tráfego de caminhões, e se já foram feitos alguns paliativos, é porque algo está errado. Algo precisa ser feito.”

Quando questionado sobre o que a população deseja, ele responde: “Acredito que uma reforma bem-feita já ajudaria, mas, como falam muito sobre a duplicação, o ideal seria construir uma nova ponte. Falam em duplicação, mas ninguém sabe quando isso realmente vai acontecer.”

Ele também destaca a preocupação com a segurança: “A ponte tem um vão muito grande no meio, sem pilares. Imagina alguém com a família, e, se houver um acidente, a situação seria grave. Quando o tráfego está intenso, costumo esperar um pouco para atravessar, pois tenho medo.”

Fábio José da Silva, caminhoneiro, morador de Rubiataba, Goiás, destacou o risco constante que a ponte oferece, segundo ele, nunca foi devidamente consertada, apesar de várias intervenções. “Já tem bastante tempo que passo aqui nesse trecho. Faço a rota para Anápolis e essa ponte é direto. Ela tem esse defeito aí, eles interditam, colocam quebra-molas, mas nunca arrumam. Já houve muitas intervenções”, afirmou Fábio.

O motorista também expressou sua preocupação sobre os riscos de acidentes na estrutura. “Bate aquele medo. Vem à mente o que aconteceu lá no Estreito. Isso bate até mesmo quando a gente está descendo aqui. Se tiver fila de caminhão, a gente até espera para passar depois, para passar sozinho”, relatou.

Segundo ele, as autoridades precisam tomar providências antes que uma tragédia aconteça. “Eu acho que as autoridades têm que olhar mais para o nosso lado, porque depois que cair, não adianta. Aí é vida que vai embora”, alertou. Fábio ainda revelou que já viu reportagens de engenheiros criticando a situação da ponte, mas que até o momento, nada foi feito para solucionar o problema. “Já vi até reportagem de engenheiro falando mal dessa ponte e ninguém tá fazendo nada. Se o engenheiro está dizendo que tem algo de errado, é porque realmente tem”, completou.

Fábio José da Silva: “Será que estão esperando uma tragédia?” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Fábio mencionou que houve uma tentativa de reparo recente, mas que a melhoria foi superficial. “Lá agora está melhor, pois jogaram massa há uns 15, 20 dias, mas foi só para nivelar. Parece que estão tentando enganar”, disse. Ele questiona se as autoridades estão aguardando uma tragédia para agir. “Será que estão esperando uma tragédia? Tem muita gente falando disso. Até mesmo pessoas da minha cidade estão passando por outras estradas para não passar por aqui com medo”, afirmou.

Fábio encerrou destacando o temor de um acidente similar ao ocorrido na ponte do Estreito, onde a estrutura desabou de forma repentina, levando vidas. “O dia lá em Estreito era normal, como qualquer outro. Todo mundo passando normalmente, e de repente a ponte caiu e vidas se foram. Não está escrito ali: ‘vai cair agora’”, concluiu.

O motorista de ônibus Dácio compartilhou sua apreensão sobre a segurança da ponte, ele afirmou que, apesar de ver muitos comentários sobre a deterioração da estrutura, o medo é uma constante em sua rotina, já que ele transporta vidas todos os dias.

“Vê-se muitos comentários sobre as condições dessa ponte, e a gente fica com medo.  A gente transporta vida, igual agora mesmo, eu estou com 40 vidas aí atrás. Então dá medo de passar nessa ponte”, disse Dácio.

Ele relatou que o momento mais tenso acontece quando o ônibus se aproxima do quebra-molas. “Na hora que chega aí naquele quebra-molas que tem que passar por ela, bate aquele calafrio. Bate porque já teve o acidente lá do estreito, né? Então a gente fica meio receoso”, explicou.

Dácio – motorista de ônibus: “Queremos que as autoridades olhem por nós” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Dácio fez um apelo às autoridades: “Queremos que as autoridades olhem por nós. Só queremos passar com segurança, porque são muitas vidas.”

O repórter também conversou com os passageiros sobre seus sentimentos ao atravessar a ponte, e todos afirmaram sentir medo. “Temos muito medo. Aí é a hora de se apegar em Deus e pedir para Ele não deixar essa ponte cair nunca, nem conosco e nem com ninguém”, disse uma das passageiras.

Fábio Júnior Amaral de Santos, caminhoneiro há mais de cinco anos, percorre constantemente a BR-153 e conhece bem os perigos da rodovia. Em entrevista, ele alertou sobre o estado crítico da ponte que, segundo ele, “já é uma tragédia anunciada”.

“A situação dessa ponte aqui já é um, como é que se diz? Uma tragédia já anunciada, né? O que aconteceu no estreito, as autoridades já vinham falando, mas ninguém tomou providência. E se não tomarem providência imediatamente nessa ponte, vai acontecer o pior”, afirmou Fábio, preocupado com a segurança dos motoristas que circulam pela região.

Fábio Júnior Amaral de Santos: “A gente tem família, a gente sai, a gente não sabe se volta” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Fábio também compartilhou um vídeo que viu nas redes sociais, onde mostrava que a ponte estava “caindo”, o que o deixou ainda mais apreensivo. “Com certeza dá medo demais. Você está doido, é complicado. A gente tem família, a gente sai, a gente não sabe se volta, né?”, disse ele, refletindo sobre os riscos diários que enfrenta.

Ele destacou que, ao chegar perto da ponte, a sensação de insegurança é inevitável. “Toda hora que chega aqui nesse quebra-molas, que tem que diminuir a velocidade para entrar nela, bate aquele calafrio. É só Deus. A gente pede a Deus, Senhor, me faz eu passar em paz”, contou, emocionado.

Fábio lamenta a falta de ações concretas por parte dos governantes, que, segundo ele, sempre transferem a responsabilidade uns para os outros, sem oferecer soluções. “Os governantes ficam jogando um para o outro e nada acontece. Fica difícil, fica difícil. Entra governo, sai governo. É complicado”, afirmou.

Para ele, a BR-153, uma das rodovias mais importantes do Brasil, merece mais atenção das autoridades. “Essa rodovia corta o Brasil, então ela é uma das mais importantes, então queremos segurança. Já era para ter tomado a providência”, ressaltou. E sobre o estado atual da ponte, ele não poupou críticas: “É um absurdo mesmo, essa ponte tá do jeito que tá até hoje”.

Ecovias do Araguaia

A reportagem entrou em contato com a Ecovias do Araguaia para saber se a concessionária tem realizado vistorias na ponte e se há planos para a construção de uma nova estrutura no local. A concessionária informou que, conforme vistoria técnica recente, a ponte se encontra em condições seguras, não oferecendo riscos à segurança dos condutores. A Ecovias explicou ainda que a construção do quebra-molas ocorreu antes do início da concessão da rodovia à Ecovias do Araguaia, ou seja, antes de outubro de 2021.

Veja a nota na íntegra:

A Ecovias do Araguaia, concessionária do Grupo EcoRodovias, esclarece que a estrutura sobre o Rio das Almas, localizada no km 284 da BR-153/GO, conforme vistoria técnica recente, está em condições seguras, não oferecendo assim riscos à segurança dos condutores.

Reiteramos que, anualmente, são realizadas avaliações técnicas por especialistas em todas as pontes e viadutos do sistema rodoviário sob nossa concessão. No caso específico da Obra de Arte Especial (OAE) sobre o Rio das Almas, a estrutura passou recentemente por uma avaliação detalhada e todas as medidas para manutenção da segurança estrutural estão sendo tomadas. Além disso, com o avanço das obras de duplicação previstas para o trecho sob nossa administração, a ponte será submetida a intervenções de reforço, alargamento e demais adequações, seguindo o padrão das melhorias já entregues nas pontes sobre o Córrego Pouso do Meio na BR-153, Rio Baião e Rio Lajinha, na BR-414, e sobre o Córrego Cancela, na BR-080.

Por fim, a Concessionária reforça que seu corpo técnico realiza monitoramento contínuo de todas as estruturas para garantir a segurança dos usuários.

Entendemos que os casos envolvendo pontes em outras regiões podem gerar apreensão, mas reforçamos que a disseminação de informações sem a devida avaliação técnica pode provocar interpretações equivocadas, causando preocupações desnecessárias entre os usuários. Por isso, orientamos que os usuários busquem fontes confiáveis e priorizem dados técnicos ao compartilhar informações. Nosso compromisso é assegurar a segurança e a transparência em todas as nossas operações, mantendo a sociedade sempre bem-informada.

ANTT

Da mesma forma, por meio de uma nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que está acompanhando atentamente a situação da ponte sobre o Rio das Almas e notificou a concessionária, reforçando a necessidade de monitoramento estrutural da obra de arte especial (OAE) em questão.

Veja a nota na integra:

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) acompanha atentamente a situação da ponte sobre o Rio das Almas, localizada no km 284+800 NS da BR-153/GO, sob responsabilidade da Concessionária Ecovias do Araguaia.

Em 27 de dezembro de 2024, a ANTT notificou a concessionária, reforçando a necessidade de monitoramento estrutural da obra de arte especial (OAE) em questão. Foi solicitada a realização de inspeções detalhadas por profissionais especializados em estruturas de concreto armado e protendido, com foco na condição estrutural da ponte e de seus elementos de proteção.

Em resposta, a Concessionária Ecovias do Araguaia informou, em 6 de janeiro de 2025, que a 3ª campanha de inspeção rotineira, realizada em outubro de 2024, classificou a ponte em condições de conservação regular, sem indícios de perda de estabilidade estrutural. Entretanto, foram identificados pequenos danos que demandavam reparos, motivo pelo qual a concessionária já realizou diversas intervenções de manutenção, incluindo tratamento de fissuras, reparos no concreto, intervenções nas juntas de dilatação, instalação de módulos de guarda-corpos, desobstrução de buzinotes, remoção de detritos e vegetação, além de melhorias no pavimento asfáltico e na sinalização vertical.

Além dessas ações, a ANTT solicitou à concessionária a apresentação de um relatório detalhado sobre a inspeção da ponte, bem como a elaboração de um Projeto Executivo para sua reabilitação. Em 20 de fevereiro de 2025, a concessionária informou que uma Inspeção Especial foi realizada em janeiro de 2025, estando o relatório técnico em fase final de conclusão.

A concessionária também comunicou que “com o avanço das obras de duplicação previstas para o trecho, a ponte será submetida a intervenções de reforço, alargamento e demais adequações, seguindo o padrão das melhorias já entregues nas pontes sobre o Córrego Pouso do Meio na BR-153, Rio Baião e Rio Lajinha, na BR-414, e sobre o Córrego Cancela, na BR-080”.

A ANTT segue analisando as propostas apresentadas e tomará todas as medidas cabíveis para garantir a segurança dos usuários da rodovia, exigindo da concessionária a devida observância dos padrões técnicos e regulatórios aplicáveis. O processo de avaliação dos projetos e soluções está em andamento, e a Agência continuará monitorando a implementação das ações necessárias.

Veja galeria de fotos feitas por Guilherme Alves/Jornal Opção

Veja vídeo onde mostra os problemas

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