Caiado não espera bolsonarismo e articula grupo político popular com Gusttavo Lima e Pablo Marçal

O quadro político atual — a eleição será realizada daqui a um ano, seis meses e alguns dias — mostra que há três forças na disputa pela Presidência da República em 2026. Uma de esquerda e duas de direita.

Estão no páreo o presidente Lula da Silva, do PT, o bolsonarismo (extrema direita) e um político da direita moderada (pode ser o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil).

Há dois estrategistas políticos acima da média: Lula da Silva e Ronaldo Caiado. A extrema direita não tem um estrategista hábil, mas, paradoxalmente, tem um líder forte — Jair Bolsonaro, do PL.

Por ser política e eleitoralmente forte, muito forte, o bolsonarismo nem precisa de um estrategista. Porém, mesmo sem ser um articulador hábil, Jair Bolsonaro se tornou um político popular e referencial.

A direita tem políticos e gestores bem melhores, como Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas. Mas nenhum deles tem a força eleitoral de Jair Bolsonaro, que, mesmo sem estar preparado, se tornou um líder de massas — uma espécie de Getúlio Vargas da direita radicalizada.

Apostas do bolsonarismo moderado e radical

Habitualmente, Jair Bolsonaro não apresenta ideias concatenadas e que tenham relevância para o país. Mas qualquer coisa que diz, mesmo o pior disparate do mundo, repercute positivamente para o bolsonarismo. Por sinal, fala mais bobagens do que Lula da Silva, mas seus ditos em geral não são criticados com a mesma veemência. Parece, digamos, “inimputável”.

Portanto, por ter Jair Bolsonaro, o bolsonarismo conta, e muito. Não se deve subestimá-lo de maneira alguma.

Inelegível, Jair Bolsonaro é carta fora do baralho para a disputa presidencial de 2026. Mas é o grande “general” eleitoral da direita.

Observa-se, neste momento, que alguns bolsonaristas começam a pôr as “asinhas” de fora. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL), de 28 anos, não planeja desgarrar-se do bolsonarismo, mas já está procurando firmar seu nome para disputas futuras no país. Por ter menos de 35 anos, não poderá ser candidato a presidente em 2026, nem em 2030.

O governador Tarcísio de Freitas, do Republicanos, não precisa de Jair Bolsonaro para disputar a reeleição em São Paulo em 2026. Mas, se for candidato à Presidência da República, terá de se “reintegrar” ao bolsonarismo. Hoje, é mais kassabista do que bolsonarista.

As raízes do bolsonarismo de Tarcísio de Freitas estão acopladas aos pés de Gilberto Kassab. O presidente nacional do PSD é seu José de Paris, o lendário padre que deu origem à expressão eminência parda e foi biografado por Aldous Huxley.

Há dois bolsonaristas-raiz que, com o apoio de Jair Bolsonaro, podem se tornar candidatos consistentes. A ressalta é que Eduardo Bolsonaro e Michelle Bolsonaro não têm preparo para governar um país como o Brasil, que figura entre os dez mais ricos do mundo. Se eleito, qualquer um deles precisará de uma “babá” — gestora — permanentemente ao seu lado. O problema é que Jair Bolsonaro (e muito menos Valdemar Costa Neto, o amigo das caixas-fortes) não é o conselheiro adequado para um presidente da República.

Mas vale insistir: com o apoio de Jair Bolsonaro, tanto Eduardo Bolsonaro quanto Michelle Bolsonaro são eleitoralmente competitivos. Do ponto de vista de gestão, os dois melhores nomes do bolsonarismo são Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior, governador do Paraná. (Mas dá pra imaginar um político com o nome de Ratinho fazendo um discurso na ONU ou no G-20? Será preciso montar um gargalhódromo para o riso universal.)

Jogo do PT é pela conquista de parte do Centrão

Na esquerda, só há espaço, na circunstância, para um candidato a presidente, Lula da Silva.

Ciro Gomes é candidaro excelente para perder. É polêmico, tem discurso afiado — do tipo “professor de Deus” —, mas não tem a simpatia do eleitorado. É uma espécie de Jair Bolsonaro com neurônios a mais, porém com capacidade de aglutinar bem menor do que qualquer outro presidenciável. Mais afasta do que agrega. “Seu” partido, o PDT, participa do governo Lula da Silva e, por certo, irá apoiar sua reeleição.

Politicamente, Ciro é tão “fraturado” quanto o sobrenome Gomes. Lula da Silva “nocauteou” dois políticos: Leonel Brizola e Ciro Gomes. O petista ocupou o espaço dos dois.

Lula da Silva será o candidato do PT. Porque simplesmente não há outro nome competitivo no PT e na aliança que o apoia. Fernando Haddad é simpático e um ministro da Fazenda competente. Mas é uma espécie de Geraldo Alckmin do PT — o “picolé de chuchu” da esquerda. É político para pedir e não receber apoio.

Raposa política, Lula da Silva sabe que precisa do centro como oxigênio. Por isso é estranho que esteja montando um governo mais radical e agressivo, com Gleisi Hoffmann. O presidente está tornando o governo mais petista como uma suposta “ameaça” ao Centrão?

Talvez Lula da Silva esteja com dificuldade de levar para o governo gente do Centrão que realmente manda no Centrão. O petista-chefe sabe que precisa conquistar políticos de centro para o ministério que, quando chegar 2026, não pulem fora de seu palanque e se encaixem no palanque bolsonarista.

Então, ante a dificuldade de lidar com o Centrão, cuja ambiguidade serve à sua fome de poder e caixa-forte, Lula da Silva está fortalecendo o PT, o partido que realmente caminhará com ele em 2026.

Lula da Silva precisa de políticos como o senador Ciro Nogueira — que está articulando com o bolsonarismo (é cotado para vice) — e o deputado federal Arthur Lira. Não só da arraia-miúda do Centrão, que até pode fazer barulho, mas não tem força político-eleitoral. Mas, claro, está tentando dividir o centro, para conquistar parte dele.

O pP de Ciro Nogueira e o Republicanos do deputado federal Marcos Pereira, dois políticos que realmente contam e são realistas absolutos, ficarão com Lula da Silva, com o bolsonarismo ou com uma terceira força? Agora, com a crise do governo Lula da Silva, ambos, sobretudo Ciro Nogueira, tendem a ficar mais próximos do bolsonarismo.

Porém, em 2026, dependendo do quadro eleitoral, o pP e o Republicanos podem tentar outros voos, aproximando-se, quem sabe, da direita moderada de Ronaldo Caiado. Mas e se Lula da Silva der a volta por cima?

Ciro Nogueira e Marcos Pereira são mestres na arte de tencionar politicamente. Por isso, podem falar sobre alianças, muito ou pouco, mas vão esperar um pouco mais para definirem o projeto eleitoral de seus grupos. O definido agora pode não ser cumprido amanhã.

Como se comportará o mundo político com uma possível prisão de Jair Bolsonaro? Se a prisão (pelo golpismo e pela história das joias, que poderá conectar o tema da corrupção ao ex-presidente) levar a um enfraquecimento do bolsonarismo, retirando-o do jogo, é óbvio que o Centrão vai cair fora, e de maneira célere. Vai buscar outros aliados, como Ronaldo Caiado e, mesmo, Lula da Silva.

Políticos hábeis, como Ciro Nogueira, Arthur Lira e Marcos Pereira, sabem que em 2025 se deve examinar cartas de intenção mas os “contratos” só deverão ser assinados a partir de abril ou maio de 2026.

O Centrão vai avaliar duas coisas básicas: a popularidade de Lula da Silva e a possível prisão de Jair Bolsonaro. Em seguida, poderá voltar os olhos para as alternativas à direita, como Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior, o PSD.

Ronaldo Caiado e uma frente política popular

Enfraquecido por uma possível prisão de Jair Bolsonaro — o ex-presidente parece ter informações precisas de que será preso —, o bolsonarismo seguirá qual caminho? Primeiro, pode continuar com uma candidatura de extrema direita, ou seja, apoiando Michelle Bolsonaro ou Eduardo Bolsonaro. Ou pode insistir com Tarcísio de Freitas, que prefere a reeleição em São Paulo.

Segundo, o bolsonarismo, se perder força política, pode compor com a direita de Ronaldo Caiado.

Hoje, o bolsonarismo não articula com Ronaldo Caiado porque entende que se trata de um político autônomo, que — ao contrário de Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas — não aceita cabresto. O governador goiano tem luz própria, e é isto que incomoda tanto o bolsonarismo, quer dizer, Jair Bolsonaro e epígonos.

Mas, insistindo, Ronaldo Caiado é um estrategista. Portanto, não está parado, esperando uma decisão do bolsonarismo. Pelo contrário, está articulando, se movimentando, interferindo no jogo. De alguma maneira, a política nacional circula em torno de seus posicionamentos.

Pergunta-se: por que Ronaldo Caiado articula tanto com Gusttavo Lima quanto com Pablo Marçal e vai lançar sua candidatura a presidente na Bahia?

Ronaldo Caiado sabe, experimentado que é, que precisa montar uma frente política, de caráter popular, para disputar a Presidência da República.

De certo modo, ao atrair políticos populares (até populistas), como Pablo Marçal e Gusttavo Lima (que, a rigor, ainda nem é político), Ronaldo Caiado está criando uma força para se equiparar ou até superar o bolsonarismo entre as massas.

Juntos, Ronaldo Caiado, Pablo Marçal e Gustavo Lima constituem uma frente tão popular quanto a bolsonarista. O bolsonarismo é uma armada poderosa, porque conta com apoio popular. O líder do União Brasil, ao se unir ao empresário e ex-coach e ao cantor popular, está criando uma armada popular. Porque precisa se tornar tão competitivo quanto o bolsonarismo junto ao povão.

Ao articular na Bahia, Estado no qual a direita sempre foi bem estruturada, com Antônio Carlos Magalhães, ACM, e ACM Neto — e onde o PT é forte —, Ronaldo Caiado está mandando um recado político: planeja ser o principal rival de Lula da Silva. Noutras palavras, está se apresentando, não apenas como “uma” alternativa ao petista-chefe, e sim, sobretudo, como “a” alternativa ao postulante red. Opera para ser o nome da centro-direita.

Ronaldo Caiado está sugerindo, com suas articulações e andanças pelo país, que não vai esperar o apoio do bolsonarismo para se colocar como candidato a presidente. Ele está dizendo aos eleitores que será o candidato dos brasileiros, e não apenas de uma facção política radicalizada. E, se crescer nas pesquisas de intenção de votos — não é o momento adequado de levá-las totalmente a sério —, pode acabar atraindo o Centrão.

Em suma, Ronaldo Caiado está jogando, e muito bem. Tanto que tem obtido espaço generoso na mídia de todo o país. É um interlocutor privilegiado.

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