Documentário registra história de uma das escravizadas mais influentes de Goiás

Poucas mulheres goianas tiveram o prestígio e a projeção social conquistada por Chica Machado. Mulher negra escravizada, que chegou à Goiás nos idos de 1750, no povoado de Cocal, região de Niquelândia, constituiu família com Manoel Álvares da Silva, com quem teve seis filhos, conquistou sua alforria e passou a trabalhar para libertar diversos “irmãos” afrodescendentes, também escravizados. De mulher negra do período colonial, a senhora de terras a perder de vista, símbolo da libertação da escravatura e hábil negociante, Chica Machado construiu sua história para além dos livros e registros oficiais, chegando a eleger um de seus filhos deputado por Goiás na primeira constituinte.

Sua projeção e relevância vive na memória do povo que habita a região onde há 300 anos ela caminhou e prosperou, e é transmitida até hoje pela oralidade, o que lhe conferiu o ar de figura lendária por onde passou.

É essa personagem central que é retratada pela diretora Renata Rosa Franco no curta documental Chica Machado – Rainha de Goyaz, que terá sua pré-estreia na próxima quinta-feira, 20, às 19h30, no Centro Cultural da UFG. A exibição inédita com entrada gratuita contará com bate papo sobre a obra, que foi feita com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal, operacionalizado pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Cultura.

A obra é fruto da pesquisa de doutorado da diretora em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiás, que expandiu o trabalho acadêmico para as telas, ao realizar uma série de viagens para diferentes cidades goianas, buscando percorrer os caminhos traçados por Chica Machado: Niquelândia, o povoado de Cocal, onde ela se estabeleceu para trabalhar nas minas de ouro descobertas na região; até chegar a Uruaçu, a antiga Ourofino e Jaraguá, última morada da personalidade junto a um de seus filhos, o padre Silvestre, figura ilustre do Estado, poliglota, que se elegeu deputado por Goiás por influência da sua mãe. O outro filho, Manoel Álvares, também era padre e figura ilustre da comunidade.

“O mais interessante de se observar é que, mesmo no século XVIII, a projeção de Chica Machado era tamanha que seu marido não é retratado pelo nome próprio, mas sim como marido de Chica. Seus filhos, mesmo sendo padres, e figuras influentes da comunidade, são lembrados como filhos da Chica. Ela foi o pilar dessa família e da comunidade da época, mesmo sendo mulher, negra e escravizada”, enaltece Renata Rosa Franco.

O curta documental parte em busca dos relatos transmitidos de geração em geração que mantêm viva a importância dessa figura lendária em terras goianas, responsável por construir a Igreja das Mercês, para permitir que os negros da sua época tivessem acesso a um templo sagrado para professar sua fé. E onde ela entrava carregada por uma liteira e tinha ouro em pó sendo jogado aos seus pés.

A riqueza de Chica Machado segue sendo um mistério até mesmo para aqueles que transmitem seus feitos. Alguns dizem que ela conquistou tudo por meio do ouro que ela escondeu durante a época em que trabalhou no garimpo. O que é inegável em todas as narrativas a seu respeito é que Chica Machado foi uma mulher notável, a ponto de seguir inspirando o protagonismo de mulheres que têm contato com sua história.

O curta documental também será exibido na programação do Cine Cultura, no Cineclube Maria Grampinho que integra o Sertão Negro Ateliê e na Escola de Artes e na Cinemateca do IFG Câmpus Goiânia, em datas e horários a serem divulgados nas redes sociais @chicamachado_go.

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