Verdade seja dita: Eduardo Bolsonaro é um frouxo, e não um exilado

É fabuloso notar o quanto as narrativas desvirtuadas do clã Bolsonaro, e consequentemente adotadas por seus seguidores mais radicais, acabam se transformando em um fantástico roteiro que passa a ditar cada passo, cada discurso e posicionamento da bolha de Jair e Cia. A da vez, claro, é a de que Bolsonaro e seus filhos são baluartes da democracia perseguidos por uma terrível ditadura em vigência no Brasil.

E isso, não nego, chega a ser cômico. Sinto um misto de incredulidade e uma certa diversão quando me deparo, por exemplo, com bolsonaristas fanáticos bradando que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, é um “exilado político”.

Eduardo está nos Estados Unidos desde o dia 27 de fevereiro (desde antes do carnaval), e é a quarta visita dele ao país no período que compreende da posse de Trump até agora. Na última viagem, ele retornou ao Brasil só para um “Oi, tchau”: ficou apenas dois dias por cá, quando embarcou novamente para a terra do Tio Sam. Isso simultaneamente à continuidade do pagamento de seu salário como deputado, de R$ 43 mil.

Aliás, o parlamentar parece ter um grande amor pelos ianques. Levantamento do portal UOL mostra que, em 2025, foram 78 postagens sobre os EUA e Trump nas redes do patriota Eduardo Bolsonaro. As que tratam do Brasil e outros países, 51.

Na última terça-feira, 18, Eduardo divulgou um vídeo gravado nos EUA informando que tiraria licença de seu mandato e, pelo menos por enquanto, não voltaria ao seu país. “Não irei me submeter ao regime de exceção e aos seus truques sujos. Da mesma forma que assumi o mandato parlamentar para representar minha nação, eu abdico temporariamente dele, para seguir representando esses irmãos de pátria que me incumbiram dessa nobre missão. Irei me licenciar, sem remuneração para que possa me dedicar integralmente e buscar as devidas sanções aos violadores de direitos humanos”, disse.

O “regime de exceção” mencionado por Eduardo é a parte mais engraçada. O fato é que ele tem medo de ser preso por uma possível participação na trama golpista de 2022 (que envolvia o assassinato do presidente Lula da Silva e do ministro do STF, Alexandre de Moraes e a manutenção de Jair Bolsonaro na presidência da República). Contudo, o filho de Bolsonaro não foi indiciado pela Polícia Federal, não foi alvo das denúncias envolvendo as investigações sobre a trama de golpe e, até mesmo o pedido de congressistas petistas contra ele, solicitando a abertura de investigação e apreensão de seu passaporte, foi arquivado.

Ou seja: é um “regime de exceção” que não ousou o acusar de nada, uma vez que não há evidências de crime praticado por ele, e no qual seu pai, Jair Bolsonaro, um dos indiciados pela conspiração golpista, está submetido a um processo que acata a ampla defesa – essa formada por uma infinidade de advogados considerados os mais caros do Brasil – e segue rigorosamente o rito das instituições com a devida linha de investigação, denúncia, manifestação da defesa e análise do Poder Judiciário.

Novamente – e aqui, pontuo ter ciência do risco da redundância -, não deixa de ser engraçado. Uma vez que Eduardo, que hoje fala em “regime de exceção” no Brasil, é aquele mesmo que disse certa vez que seriam necessários apenas “um cabo e um soldado para fechar o STF”, e cujo pai disse que “o erro da Ditadura Militar foi torturar, e não matar”.

Eduardo Bolsonaro vem e vai quando bem entende. Só da posse de Trump até agora foram quatro viagens aos Estados Unidos, onde decidiu ficar de vez. Que admita logo que é um frouxo que tem medo das consequências de possíveis desdobramentos da Justiça, mas que não tente colar em si mesmo o rótulo de “exilado político”.

Eduardo, troque seu trabalho no Parlamento pelos passeios nos EUA, faça o que quiser. Mas não manche a memória de verdadeiros exilados do Brasil, indivíduos esses que, décadas atrás, foram expulsos ou forçados a deixar o país em uma época em que era possível ir preso simplesmente por pedir o direito ao voto.

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