Aumento de temperaturas acelera desprendimento de icebergs na Antártica

A Antártica, o território gelado que ocupa uma extensão maior do que o Brasil, se tornou a prova mais evidente dos impactos do aquecimento global. A elevação da temperatura na região tem causado o desprendimento de imensas placas de gelo, conhecidas como icebergs, que agora flutuam à deriva pelo oceano. Atualmente, 31 desses gigantes são monitorados por radares em tempo real, permitindo que os cientistas acompanhem sua trajetória.

“Apesar de ser um fenômeno natural, a frequência deles aumentou”, alerta Francisco Eliseu Aquino, climatologista chefe do departamento de Geografia, em entrevista a Veja. Embora a fratura das plataformas geladas tenha sido registrada pela primeira vez em 1940, o processo se acelerou a partir de 1995.

O avanço e o recuo das geleiras, assim como a redução dos mantos de gelo, estão diretamente relacionados às variações da temperatura atmosférica e ao equilíbrio entre o volume de neve acumulado no inverno e derretido no verão. O monitoramento das temperaturas médias do planeta começou no início da Revolução Industrial (1760-1840), período em que a economia passou a depender de combustíveis fósseis. Nos últimos 100 anos, a temperatura global subiu 1,56°C, ultrapassando o limite estabelecido pelo Acordo de Paris.

Um dos icebergs mais impressionantes em monitoramento é o A23a, cuja área de 3.360 quilômetros quadrados equivale a mais de duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Pesando quase 1 bilhão de toneladas, esse bloco de gelo colossal começou a se afastar da Península Antártica e, desde dezembro, segue em direção à Ilha Geórgia do Sul, impulsionado por correntes oceânicas.

O iceberg A23a tem uma história peculiar. Ele se desprendeu da plataforma Filchner-Ronne em 1986, mas, ao contrário de outros icebergs que se movem rapidamente após o desprendimento, ficou encalhado no fundo do mar por mais de três décadas. Durante esse período, permaneceu relativamente estável, até que, recentemente, começou a se deslocar para o norte, percorrendo a costa da Península Antártica.

No ano passado, o A23a ficou preso em um vórtice oceânico por oito meses, um fenômeno que retardou sua trajetória. No entanto, em dezembro, finalmente se libertou desse redemoinho e passou a se movimentar com velocidade considerável, chegando a percorrer 30 quilômetros por dia.

A trajetória do A23a e de outros icebergs soltos no Atlântico Sul representa os sinais das mudanças climáticas. O aumento das temperaturas e o degelo acelerado da Antártica não são eventos isolados, mas sintomas de um fenômeno global que impacta diretamente o nível do mar, os ecossistemas marinhos e até os padrões climáticos em diversas partes do mundo.

Os cientistas acompanham esses gigantes de gelo com atenção redobrada, pois suas movimentações podem trazer implicações significativas. Se um iceberg como o A23a encalhar em uma área próxima à costa, pode interferir na rota migratória de animais marinhos, bloquear o acesso a fontes de alimento e alterar a circulação oceânica na região. Além disso, quando esses blocos de gelo derretem, contribuem para a elevação do nível dos oceanos, aumentando os riscos de inundações em áreas costeiras habitadas.

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