O Pequeno Mestre da Nuvem Branca, de André Kondo, é livro para todas as idades

Simone Athayde

Especial para o Jornal Opção

Há livros para o público infantil que, de tão carismáticos, tornam-se também leitura recomendada para adultos, como, por exemplo, o clássico “Poliana”. Da mesma forma, há livros que, na aparência, embora destinados às crianças, contêm mensagens ou interpretações subliminares mais indicadas para os crescidos. Da segunda categoria, eu citaria os clássicos “O pequeno Príncipe” e “Alice no País das Maravilhas”. Pois “O pequeno mestre da nuvem branca – Em busca da primavera perdida”, (Editora Telucazin, 2023) de André Kondo, embora esteja classificado como literatura infanto-juvenil, tem um pouco de cada uma das categorias acima e poderá cativar adultos dispostos a “abrirem o coração”.

O livro conta a história do menino Kentaro, um órfão que é criado em um mosteiro chamado “Templo da Nuvem branca”, um lugar tão alto que parece flutuar sobre as nuvens. Kentaro é um menino curioso, inteligente e alegre que é constantemente confrontado por um outro aprendiz de monge, Makoto, dez anos mais velho, muito sério e ranzinza. O Velho Mestre, líder do templo, percebendo o constante embate, resolve dar uma missão aparentemente impossível para a dupla: “Quero que me tragam a primavera”. Makoto, sendo o mais velho e experiente, toma prontamente o comando da missão e decide que devem fazer uma longa viagem até a cidade de Quioto. Kentaro, mesmo discordando, não tem outra coisa a fazer senão obedecer, dando início a uma série de aventuras que constituirá um aprendizado para os dois e para os leitores.

A obra, que ganhou o prêmio “Maria Antônia da Costa Lobo” da UBE – RJ, possui alguns diferenciais. O primeiro refere-se à acessibilidade, já que em cada página que introduz um capítulo há um QR Code que leva à narrativa em áudio. O outro é a forma sensível com que o autor, o paulista André Kondo, editor e escritor várias vezes premiado, vai conduzindo a história e introduzindo nela lições emocionais e de bem-viver tão necessárias na atualidade, sem que isso se torne enfadonho ou excessivamente pedagógico. Kondo utiliza aforismos, máximas que poderiam caber em livros de autoajuda, porém o faz com maior charme: “Kentaro, não é apenas com as mãos e as costas que carregamos peso nesta vida. O maior peso é aquele que carregamos dentro da nossa cabeça.”; “Quando você não quis lutar contra o mais fraco, venceu o orgulho, mostrando compaixão. E agora, quando você baixou sua espada e não quis lutar com alguém mais forte, venceu a ignorância, mostrando sabedoria”.

André Kondo: escritor | Foto: Reprodução

O autor, de ascendência japonesa, utiliza elementos do universo nipônico para compor sua obra, como a figura do samurai, dos monges, as cerejeiras e a cidade de Quioto. As ilustrações seguem essa mesma linha e formam um conjunto com o texto, já que Alessandro Fonseca utilizou a técnica do nanquim aquarelado para dar um toque de sumi-ê, antiga técnica de pintura de origem chinesa que foi levada ao Japão por monges budistas.

O enredo segue a linha dos encontros inesperados e desafios em série que devem ser superados pelos personagens para que alcancem recompensas ou lições que serão entendidas mais tarde. Exemplos desse tipo de narrativa podem ser encontradas na mitologia grega, em obras como “O alquimista”, de Paulo Coelho, e até, por que não dizer, nos jogos online, nos quais é preciso “passar de fase”. O confronto entre opostos também aparece em diversas ocasiões, com o forte combatendo o fraco, o governante usando seu poder para oprimir os governados, o caçador em busca da caça, a razão versus a emoção. Desses confrontos surgirão os aprendizados e, embora haja esse objetivo educativo na obra, “O pequeno mestre da nuvem branca” prima sobretudo pela narrativa que prende a atenção e pela escrita bem construída.

Simone Athayde, escritora e crítica literária, é colaboradora do Jornal Opção.

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