Praticamente acertada, federação UB e PP pode ser tiro no pé? Exemplos de outras alianças mostram que sim

Quando se fala em números de candidatos eleitos, o União Brasil e o partido Progressistas podem ser considerados, respectivamente, o terceiro e quarto maiores partidos do Brasil. Para se ter uma ideia, em 2022 o UB conseguiu eleger 59 deputados federais, enquanto o PP levou 47 para a Câmara. Levando-se em conta a quantidade de prefeitos eleitos no pleito de 2024, o cenário é o mesmo, apenas com uma inversão de posições: enquanto o PP fez 752 prefeitos, o UB elegeu 591 – números que ficam atrás somente do PSD, que elegeu 891, e MDB, que fez 864 chefes do Executivo municipal.

E agora, esses dois gigantes da política pretendem se unir em uma federação que já estaria praticamente acertada. Fontes ouvidas pelo Jornal Opção dão conta que a aliança pode sair ainda em abril, dependendo apenas de um aval definitivo do presidente do UB, Antônio Rueda, uma vez que o OK do PP já foi dado por Ciro Nogueira.

A federação reuniria mais de 100 deputados e se tornaria o maior agrupamento da Câmara, batendo os 92 do PL – hoje, o maior grupo da Casa. A junção UB-PP faria, ainda, a terceira maior bancada do Senado (13 parlamentares ao todo), seis governadores e um quarto dos mais de 5,5 mil prefeitos do Brasil.

Uma federação partidária foi criada com o objetivo de permitir às legendas atuarem de forma unificada e, conforme o próprio Tribunal Superior Eleitoral, funciona como um “teste para uma eventual fusão ou incorporação de legendas”.

No entanto, durante o lançamento de sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto em Salvador, na última semana, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado – presidente do diretório estadual do União Brasil, fez uma observação que vale destacar aqui: a possibilidade de federalizar foi criada “para atender um partido que estava acabando, para que ele não perdesse a legenda”. O que não é, definitivamente, o caso do UB e PP.

“A quem interessa pegar o terceiro maior partido e juntar com o quarto maior partido? Você já viu algum tipo de federação nesse sentido? Não existe. Interessa a quem criar uma cizânia nos estados?”, questionou, ao ser abordado pelo Jornal Opção sobre a federação de seu partido com o PP.

Ao avaliarmos o andamento ou o desfecho de outras federações já praticadas no país, vemos que o resultado quase sempre é um só: desastre. Peguemos a federação PSDB e Cidadania: após um fracasso retumbante nos últimos pleitos, dirigentes tanto do partido tucano quanto do federado expressaram alívio quando a aliança terminou. “Foi muito ruim para o Cidadania, perdemos muita coisa”, disse Michel Roriz, presidente da legenda em Goiás, ao Jornal Opção, tão logo a separação foi confirmada.

Na ocasião, Roriz fez coro ao dirigente nacional do Cidadania, Comte Bittencourt, que lembrou em entrevista ao UOL que, com a federação, a legenda perdeu o governador da Paraíba, João Azevedo, hoje no PSB; o prefeito de Macapá, Dr. Furlan, que foi para o MDB; além de deputados e senadores. Em Goiânia, o único parlamentar que estava no partido, o vereador Pedro Azulão Jr., saiu para se filiar ao MDB. Hoje, o Cidadania não possui nenhum vereador.

Agora, analisemos a federação PT-PV-PcdoB. O pleito de 2024 parece ter sido marcado, em todo país, inclusive, em Goiás, por um “bate cabeça” das legendas para escolher qual partido da federação de esquerda teria um representante concorrendo nas urnas. Quebrando um tabu implícito dentro da aliança, o PV em Goiás tentou trazer para si um protagonismo normalmente petista, e em vários municípios se contrapôs ao partido de Lula para determinar os rumos da federação (um dos maiores exemplos, Senador Canedo, que nem ao menos teve um candidato do PT).

Não à toa que, no final do ano passado, durante encontros do PT, lideranças da sigla passaram a defender o fim da federação para 2026. Segundo eles, esse tipo de junção “engessou o partido nas discussões de formação de chapa para as prefeituras”.

A realidade mostra que federação de partidos pequenos com grandes leva a uma desgastante confrontação de interesses, com divisões na aliança e uma das legendas sempre saindo em vantagem sobre a outra. O que virá, então, de uma federação entre dois gigantes como UB e PP, em que nenhum dos dois verá sentido em ceder ao outro em questões essenciais como a definição de candidatos da aliança?

Aqui, julgo necessário reiterar o questionamento do governador goiano: “A quem interessa pegar o terceiro maior partido e juntar com o quarto maior partido?”. Talvez, a hora seja de levar esse questionamento a sério.

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