O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu uma análise técnica sobre o estado de conservação de quatro imagens sacras da Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis (GO). A vistoria foi realizada na última terça-feira, 8, após denúncias de que as esculturas teriam passado por intervenções sem a autorização do órgão.
A avaliação identificou que as imagens de Nossa Senhora das Dores, Senhor Morto, Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião sofreram alterações que colocam em risco sua integridade histórica e artística. Em três delas, foi constatada a aplicação de novas camadas de tinta que recobriram a pintura original, procedimento que não seguiu os critérios técnicos exigidos para bens tombados.
Segundo a nota técnica assinada pela conservadora-restauradora Virgynia Corradi, da Coordenação Geral de Conservação do Iphan, as intervenções foram feitas sem respeitar princípios básicos da restauração, como a mínima intervenção, a reversibilidade e a distinção entre o que é original e o que foi acrescentado.
A situação mais crítica é a da imagem de Nossa Senhora das Dores, do século XVIII. A peça apresenta rachaduras na madeira, tecidos deteriorados, sinais de umidade e teve toda sua pintura original encoberta por repintura. O estado de conservação foi classificado como precário, tanto no suporte estrutural quanto na camada pictórica.
detalhe da pintura na área dos lábios; vista a partir da lupa de aumento, pintura da sobrancelha.
Data: 08 de abril de 2025| Foto: Acervo CGCO
A escultura do Senhor Morto, também do século XVIII, está em condição semelhante. Apesar de a estrutura de madeira parecer estável, a pintura foi modificada com acréscimos de tinta nas áreas que simulam sangue, descaracterizando a obra. O Iphan também classificou a policromia dessa imagem como precária.
detalhe da pintura vermelha na região do pescoço; detalhe de pontos de perda de policromia no braço e pintura
simulando sangue na chaga da mão direita do Senhor Morto; detalhe de pintura dourada no acabamento do
perizônio. Data: 08 de abril de 2025 | Foto: Acervo CGCO
Já a imagem de Nossa Senhora do Rosário, considerada uma das mais importantes da igreja, apresenta acúmulo de sujeira, ressecamento da tinta e escurecimento de áreas que possivelmente continham dourado. A escultura perdeu alguns dedos e teve parte da coroa recomposta de forma cuidadosa, mas a pintura também foi afetada. O estado geral foi considerado precário, principalmente pela fragilidade da policromia.
A imagem de São Sebastião ainda não teve sua situação definida, já que não há registro oficial nem documentação anterior à denúncia. O Iphan recomendou uma investigação mais profunda para confirmar se a peça faz parte do acervo protegido.
A nota técnica alerta para a importância de seguir as normas legais em qualquer intervenção em bens tombados. O Iphan recomenda que as imagens passem por um projeto de restauro feito por profissional especializado e com acompanhamento do instituto. O documento também chama atenção para o uso inadequado de iluminação e a presença de velas próximas às peças, o que pode representar risco de deterioração e até de incêndio.
Por fim, o Iphan destaca que as imagens religiosas têm forte valor simbólico e afetivo para a comunidade de Pirenópolis, e reforça a necessidade de diálogo e cuidado na preservação do patrimônio. A cidade já enfrentou perdas significativas, como o incêndio da Matriz nos anos 2000 e a demolição da antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na década de 1940. Para o instituto, a proteção desses bens deve ser feita com respeito à memória, à história e à identidade local.
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