Popularização de “doces mágicos” acende alerta para intoxicações entre jovens no Brasil

A crescente popularização dos chamados “doces mágicos” e “balas psicodélicas” tem preocupado autoridades de saúde em todo o país. Vendidos ilegalmente em festivais, baladas e até em escolas, esses produtos estão associados a um aumento expressivo de casos de intoxicação, especialmente entre adolescentes. Especialistas alertam para os graves riscos à saúde física e mental provocados pelo consumo dessas guloseimas.

Dados do DATASUS mostram que, apenas em 2024, mais de 500 internações foram registradas em decorrência da ingestão dessas substâncias — um aumento de 120% em comparação com 2023. Um relatório da Polícia Federal revelou ainda que 74% dos produtos apreendidos continham LSD sintético ou psilocibina, princípio ativo encontrado em cogumelos alucinógenos.

De acordo com Arissa Felipe Borges, professora de nutrição da Estácio, o consumo desses produtos pode gerar danos severos ao organismo. “A psilocibina interfere na absorção de nutrientes, enquanto o LSD sintético desregula os mecanismos de fome e saciedade”, explica. Além disso, muitos dos doces são adulterados com metais pesados como chumbo e cádmio, que, ao se acumularem no corpo, provocam lesões irreversíveis nos rins e no fígado.

As consequências neurológicas também são motivo de grande preocupação. A neurologista e professora do IDOMED, Fabíola Rachid Malfetano, destaca que o uso de substâncias alucinógenas em cérebros ainda em desenvolvimento pode levar a crises psicóticas, desencadear quadros de esquizofrenia em indivíduos predispostos e causar o Transtorno Persistente de Percepção Alucinógena — condição em que o usuário sofre flashbacks mesmo meses após o consumo. “O cérebro jovem é extremamente vulnerável. Não existe dose segura”, adverte.

Casos de acidentes graves em ambientes não controlados, como quedas de alturas durante surtos alucinatórios, têm se tornado mais frequentes. “O problema é que muitos jovens acreditam que, por serem doces, esses produtos não oferecem perigo”, alerta a especialista.

O Jornal Opção já havia revelado anteriormente a facilidade com que cogumelos psicodélicos são comercializados no Brasil, especialmente por meio de redes sociais. Em setembro de 2024, um terapeuta foi preso em Goiânia, suspeito de vender cogumelos “mágicos” e realizar rituais alucinógenos.

Para combater o avanço dessa prática, tramita no Congresso o Projeto de Lei 1456/2025, que propõe penas mais severas para quem comercializar alimentos contendo substâncias alucinógenas. Especialistas reforçam que, além da repressão, campanhas de conscientização em escolas e nas redes sociais são fundamentais. “Não basta apenas reprimir. É fundamental educar para prevenir”, ressalta Fabíola.

Apesar dos riscos do consumo recreativo, pesquisas indicam que a psilocibina possui potencial terapêutico se utilizada de forma controlada. Um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontou que a substância pode ser uma promessa no tratamento de transtornos de saúde mental.

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