Buraco negro supermassivo “acorda” após bilhões de anos e intriga cientistas

Um buraco negro supermassivo localizado no centro da galáxia SDSS1335+0728, a cerca de 300 milhões de anos-luz da Terra, surpreendeu astrônomos ao entrar repentinamente em atividade após um longo período em estado dormente. O fenômeno, considerado inédito, está sendo monitorado por equipes científicas desde 2019, quando foram detectados flashes de luz e emissões de raios X pela primeira vez.

A galáxia abriga um buraco negro com mais de um bilhão de massas solares, e os sinais de que ele havia “acordado” levaram os pesquisadores a intensificarem as observações. Em 2024, o objeto foi oficialmente classificado como um Núcleo Galáctico Ativo (AGN) e recebeu o apelido de “Ansky”.

“A explicação mais plausível é que estamos testemunhando o momento em que o núcleo da galáxia começa a mostrar atividade”, afirmou a astrofísica Lorena Hernández García, do Instituto de Astrofísica do Milênio (MAS) e da Universidade de Valparaíso, no Chile, em comunicado divulgado em 18 de junho de 2024. “Se confirmado, este seria o primeiro caso em que observamos a ativação de um buraco negro massivo em tempo real”, completou.

A reativação do Ansky está sendo interpretada como um episódio de erupção quase periódica (QPE) — um fenômeno raro e explosivo que, até então, nunca havia sido observado nesse contexto. As emissões de energia permitiram calcular a quantidade liberada durante os eventos, proporcionando novas pistas sobre o comportamento desses gigantes cósmicos.

Como um buraco negro “acorda”?

Buracos negros supermassivos habitam o centro das galáxias e exercem forte influência gravitacional, atraindo matéria ao redor. Essa matéria, que não é imediatamente absorvida, forma um disco de acreção — uma estrutura giratória de gás e poeira que orbita o buraco negro.

A principal teoria para explicar a mudança de fase do buraco negro é a interação entre esse disco e um objeto celeste, como uma estrela ou até mesmo um pequeno buraco negro. Segundo essa hipótese, cada colisão com o material em rotação libera energia suficiente para produzir flashes de raios X e feixes luminosos detectáveis da Terra.

Apesar disso, os cientistas ainda não encontraram evidências de que Ansky tenha consumido uma estrela, o que amplia o mistério em torno do evento. Uma explicação alternativa sugere que um objeto compacto atravessa repetidamente o disco de acreção, provocando erupções periódicas.

“As explosões de raios X do Ansky são dez vezes mais longas e mais luminosas do que as de uma QPE típica”, destacou Joheen Chakraborty, doutorando no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e integrante da equipe de pesquisa.

Desde que passou a ser monitorado, Ansky tem emitido pulsos de raios X em intervalos regulares de aproximadamente 4,5 dias — a cadência mais alta já registrada nesse tipo de fenômeno. O comportamento torna o objeto um dos mais valiosos para estudos sobre a dinâmica dos buracos negros supermassivos.

“Para QPEs, ainda temos mais modelos do que dados. Precisamos de mais observações para entender o que realmente está acontecendo”, explicou Erwan Quintin, pesquisador da Agência Espacial Europeia (ESA).

As descobertas relacionadas ao Ansky devem contribuir diretamente para a missão LISA (Antena Espacial de Interferômetro Laser), da ESA, prevista para ser lançada em 2035. A missão será o primeiro observatório espacial dedicado à detecção de ondas gravitacionais, fenômenos associados a eventos extremos como fusões de buracos negros.

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