Considerado um problema crônico, Goiânia enfrenta desafios significativos relacionados ao trânsito, que se intensificaram nos últimos anos devido a falta de infraestrutura adequada, imprudência dos motoristas e o crescimento desordenado da cidade. Com uma frota que já ultrapassa 1,3 milhão de veículos, conforme o Censo 2022, a cidade busca soluções para tornar o trânsito mais seguro e fluido.
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Desde meados de 2024, a capital, já sob intervenção do prefeito Sandro Mabel (UB), vem implementando projetos – alguns inovadores – que visam melhorar a mobilidade urbana. Entre as ações estão a modernização dos semáforos, a criação de corredores exclusivos para ônibus e ciclovias, além da tecnologia de vigilância.
Uma das novidades que tem feito a diferença é a implementação da “direita livre” em 33 cruzamentos – número que pode chegar a 360 – permitindo que veículos virem à direita mesmo com o semáforo vermelho, desde que seja seguro. Segundo o secretário de engenharia de trânsito (SET), Tarcísio Abreu, as medidas já vem mostrando resultados positivos.
“A melhora no fluxo de veículos é evidente, e os motoristas estão se adaptando bem a essa mudança. É uma mudança de cultura, mas está sendo um sucesso. Esse processo começou de forma muito planejada, com ações bem definidas e estabelecidas. O decreto da nova mobilidade consolidou todas essas ações que vamos realizar nos próximos quatro anos, com foco na gestão, no transporte público e na mobilidade ativa”, afirmou em entrevista ao Jornal Opção.
Outro avanço importante é a sincronização inteligente dos semáforos. Abreu explicou que, nos próximos um ano a um ano e meio, toda a cidade contará com semáforos conectados e gerenciados por tecnologia de ponta. Vale ressaltar que a tecnologia será implantada em corredores, como já observado na Castelo Branco – Mutirão e Jamel Cecílio – 136, como parte do Plano de Mobilidade.
A medida visa reduzir em até 30% o tempo de viagem, com ganho de até 30 segundos por semáforo e melhoria no fluxo de veículos. Os novos semáforos inteligentes contam com chip e nobreak, garantindo o funcionamento mesmo durante quedas de energia. Também foi implantada uma terceira faixa nos dois corredores, além de nova sinalização e retirada de obstáculos.
“Temos um projeto de expansão para cerca de 250 km de vias, com semáforos que se comunicam entre si, otimizando o fluxo de veículos. Os resultados têm sido bastante positivos. Além disso, estamos expandindo para outras vias, como a 24 de Outubro, Avenida Independência e Mangalô, T-7, T-9, T-10 e T-5″, detalhou.
Outra ferramenta adotada foram aplicativos para motoristas que usam Área Azul e para agentes de trânsito. A iniciativa busca modernizar a gestão do trânsito na cidade, com foco na tecnologia para otimizar processos e aumentar a eficiência. Batizado de “Super app da mobilidade”, o dispositivo prevê estacionamento rotativo digital, onde usuários também terão acesso a táxi.
Já o aplicativo para agentes de trânsito permitirá a aplicação de multas de forma digital. Essa ferramenta promete agilizar a fiscalização e reduzir a burocracia, tornando o processo mais transparente e eficaz. O motorista, por exemplo, poderá verificar a autuação e recorrer com mais agilidade. A prefeitura espera que a implementação desses aplicativos tenha um impacto significativo na experiência dos motoristas e na forma como as infrações de trânsito são registradas e processadas.
Transporte público e monitoramento eletrônico
A prioridade, segundo o secretário, é também o transporte público. Os corredores de ônibus estão sendo metronizados, ou seja, os veículos terão prioridade para parar apenas nas estações, como no modelo do metrô. Essa tecnologia promete reduzir o tempo de viagem, aumentar a frequência dos ônibus e diminuir a lotação, beneficiando quem depende do transporte coletivo.
Ele também ressalta a importância do monitoramento eletrônico do trânsito, que funciona 24h com o rodízio de três equipes. “O monitoramento em tempo real nos permite agir rapidamente em casos de acidentes ou ocorrências, além de facilitar a atuação conjunta com forças de segurança, como a Polícia Militar (PM), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Guarda Civil Municipal (GCM). Isso tudo ajuda a salvar vidas e a manter o trânsito mais seguro,” afirma.
Abreu reforçou que o foco não é apenas fiscalizar, mas atuar de forma mais efetiva para garantir a segurança e o bom funcionamento do trânsito. Com essas ações, Goiânia dá passos importantes rumo a uma mobilidade mais segura, eficiente e sustentável. A expectativa é que, com continuidade e inovação, a cidade continue avançando nesse caminho, promovendo melhor qualidade de vida aos habitantes.
“Queremos que as pessoas respeitem a sinalização, usem cinto de segurança, não furtem semáforos e evitem o uso de celular ao dirigir. Nosso objetivo é salvar vidas, e o monitoramento inteligente é uma ferramenta fundamental para isso” concluiu Abreu.
Motoristas comentam
Motoristas que circulam por Goiânia têm notado as mudanças positivas no trânsito da cidade, como Daniel Augusto, que trabalha há cinco anos na área. Para ele, a implementação da “direita livre” em cruzamentos tem ajudado a melhorar o fluxo nas vias, especialmente na Castelo Branco, onde antes o congestionamento costuma ser intenso.
Para Daniel, uma das maiores vantagens é a economia de tempo e combustível – fato que traz mais lucro ao motorista, que consegue fazer mais corridas e também ter economia ao evitar forçar o veículo em longos períodos de espera.
“Dá pra perceber sim, viu? Tem dado uma melhorada em algumas coisas, e essa direita livre ajudou bastante. Apesar de ainda ter muito o que fazer, o trânsito está fluindo mais, que era um problema sério. Quanto mais rápido eu faço uma corrida, melhor pra mim. Menos gasto de combustível, menos estresse. É bem melhor assim, a gente lucra mais, sobra mais pra gente, sem dúvida,” reforça.
Daniel também destaca que melhorias na sinalização e na operação de tapa-buracos têm ajudado, mas que é preciso mais fiscalização, especialmente para evitar que carros parem em locais proibidos. O motorista também aponta que nem tudo melhorou de forma significativa.
“Ainda tem pontos críticos, como na baixada da Padre Wendel, na João Vaz, que continuam complicados. Ali, a situação ainda é difícil, dá tristeza de ver. Tem que fiscalizar mais os carros que param na esquina, que estacionam em lugar proibido e deixam o carro lá, atrapalhando tudo. Isso ainda acontece bastante. O trânsito melhorou um pouco, graças a Deus, mas ainda tem muito o que fazer”, observa.
Por fim, o motorista acredita que ações como a manutenção de semáforos inteligentes, a operação de fiscalização eletrônica e a melhoria na sinalização têm contribuído para o avanço.
“Acredito que a onda verde, que é o semáforo verde contínuo, deve continuar. E a prefeitura poderia trabalhar mais à noite e nos finais de semana, para evitar congestionamentos causados por podas de árvores ou troca de iluminação, que atrapalham bastante,” conclui.
Porém, há motoristas que ainda não viram as mudanças surtirem efeito, como o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado de Goiás (Amago), Rodrigo Vaz. Segundo ele, as mudanças foram perceptíveis, mas não surtiram impacto.
Rodrigo diz que as medidas beneficiaram quase que exclusivamente motociclistas, que passaram a transitar na mesma linha que os ônibus. Porém, veículos de médio e grande porte “continham na mesma”, tendo dificuldades de locomoção principalmente em horários de pico.
“De 100%, melhorou 10%. Não é o suficiente para que a pessoa transite em Goiânia e não fique completamente estressada”, reforçou o motorista.
O presidente da Amago ainda lista algumas das vias “intransitáveis” que, segundo ele, merecem mais atenção por parte da gestão pública: Avenida Goiás Norte, sentido Shopping Passeio das Águas e Marginal Botafogo.
“Em horário de pico é uma tristeza. O nosso trânsito continua quase na mesma, não mudou quase nada”, lamentou.
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