Trajando farda, em tom solene e olhar fixo, como quem transmite um posicionamento oficial, o agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Anderson Okasaki, conhecido nas redes sociais pelas postagens mostrando a rotina como membro da instituição policial, publicou um vídeo na última semana no qual, ao tecer uma reflexão sobre morte de três agentes da PRF durante uma ação no Rio de Janeiro, diz: “Será que vale a pena? Será que vale a pena lutarmos por uma sociedade que, muitas vezes, não valoriza o trabalho da polícia e se limita a nos criticar?”.
A princípio, o questionamento de Okasaki pode soar inofensivo, apenas o desabafo feito em uma rede social. Mas quando olhamos o conjunto da obra, percebemos que o vídeo do agente é fruto de uma geração que há muito deixou de perceber a linha essencial que separa o ser público do privado.
Ao aparecer fardado e colocando em xeque a necessidade do propósito de sua instituição, verbalizando, literalmente, o pensamento de que talvez não haja sentido em um servidor da segurança pública exercer sua função (“será que vale a pena?”) por causa de críticas de uma parcela da população, o agente confunde seus milhares de seguidores, os induzindo a pensar que ele fala pela polícia e expõe que a mesma não mais vê motivos para cumprir seus deveres.
Por óbvio, a PRF – agora sim, em um posicionamento oficial, declarou que “discursos individuais não autorizados não representam o posicionamento da instituição e que condutas que induzam a tal interpretação, como fazer uso do uniforme para manifestação subjetiva e divulgação de conteúdo sem a devida autorização, ferem normas internas do órgão”. Ainda no comunicado, a instituição informou a abertura de uma Investigação Preliminar Sumária, por meio da corregedoria, contra Okasaki.
Justiça seja feita, o agente da PRF em questão tem, sim, bons vídeos e com conteúdo informativo e pertinente. Admitamos que é fascinante acompanhar o dia a dia de uma das instituições da segurança pública mais atuantes e importantes do País. No entanto, há de se saber até onde os membros não só da PRF, mas de qualquer órgão ou instituição podem ir na exposição do que fazem e pensam sem comprometer e arrastar suas corporações para engajamentos que, destaca-se, elas não devem ter.
O preocupante é que exposições controversas em busca de likes e compartilhamentos deixaram de ser casos isolados para se tornarem a marca de uma geração inteira. Já nos deparamos com casos de policiais que chegaram ao ponto de contratar agências de filmagens para gravar as ações em combate e usar aquele material, posteriormente, para autopromoção. Quem não se lembra do Delegado da Cunha, que confessou publicamente ter encenado o vídeo do flagrante de um sequestro em uma comunidade paulista – tão somente para ter engajamento nas redes sociais?
São tempos inquietantes em que órgãos e instituições que construíram suas reputações ao longo de décadas (algumas, até de séculos), agora se veem forçadas a agir diante de membros que usam o status dessas mesmas reputações para, de forma insensata, ter engajamento na internet e aumentar o número de seguidores em redes sociais. No final de tudo, a impessoalidade tão necessária no meio público pode ter dado lugar ao “Curte, me segue e se inscreva no canal”.
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