Como o território do Brasil mudou até sua forma atual

O Brasil, com seus impressionantes 8,5 milhões de quilômetros quadrados, é o quinto maior país do mundo em termos de extensão territorial. Para se ter uma ideia da sua grandiosidade, todo o continente europeu caberia com sobra dentro das suas fronteiras — excluindo a Rússia Ocidental.

No entanto, a vastidão do Brasil como o conhecemos hoje era uma realidade distante dos primeiros colonizadores portugueses, que chegaram ao país há mais de 500 anos.

A formação do território brasileiro foi moldada ao longo de séculos, influenciada por uma combinação de disputas territoriais, acordos diplomáticos, invasões e acordos comerciais. Essa transformação teve início ainda antes da chegada das primeiras embarcações portuguesas ao Brasil, durante a expedição de Pedro Álvares Cabral, em 1500.

Embora tratados como o famoso Tratado de Tordesilhas (1494) tenham desempenhado um papel importante, foi a exploração do interior do território por parte dos portugueses que acabou moldando a configuração do Brasil.

À medida que se estabeleciam novas ocupações, qualquer região onde se falasse português passou a ser considerada parte da colônia portuguesa na América, expandindo as fronteiras para o oeste, onde deveria predominar a presença espanhola.

Marcelo Cheche Galves, historiador da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), ressalta que a expansão do Brasil não foi bem planejada do ponto de vista administrativo.

“A ocupação das terras foi muito mais impulsionada por aventuras comerciais do que por um projeto de colonização estruturado”, afirma à BBC. Essa expansão gradual e por vezes improvisada foi fundamental para a formação da nação brasileira.

A construção da unidade nacional do Brasil

De acordo com o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a ideia de uma “unidade nacional” surgiu de forma acidental. “O Brasil, por coincidência, conseguiu se consolidar como uma nação de grandes dimensões onde se fala a mesma língua, sem grandes movimentos separatistas”, explica.

Esse fenômeno é notável, dado que o Brasil é um dos poucos países de grande porte onde a diversidade territorial não resultou em fragmentações. O conceito de Estado-nação, que associamos ao Brasil hoje, só se firmou no século 19.

Antes disso, o território brasileiro era, essencialmente, uma “propriedade do rei”, conforme explica o historiador Paulo César Garcez Marins, professor da Universidade de São Paulo (USP). Na prática, o Brasil era uma extensão da Coroa Portuguesa, sem uma definição clara de fronteiras ou um governo centralizado.

O processo de interiorização e as fronteiras do Brasil

As incursões portuguesas pelo interior foram motivadas principalmente pela busca por riquezas minerais, como ouro e prata, e pela necessidade de evitar o avanço das colônias espanholas. Como destaca o historiador Victor Missiato, as expedições exploratórias “foram motivadas pela busca de territórios ricos em minérios e pela vigilância limitada da Espanha nas regiões mais afastadas”.

Este processo de interiorização do Brasil foi gradual, com os portugueses avançando para áreas que hoje fazem parte de estados como Goiás, Mato Grosso e Amazonas. O objetivo inicial era encontrar riquezas e expandir o controle territorial, o que culminou em frequentes confrontos com os espanhóis.

(Obra de Benedito Calixto retrata bandeirante Domingos Jorge Velho | José Rosael/Hélio Nobre/Museu Paulista da USP)

O Tratado de Tordesilhas

Antes mesmo da chegada de Cabral, Portugal e Espanha já haviam se envolvido em disputas territoriais, que foram formalmente resolvidas com a bula papal Inter Coetera (1493), emitida pelo Papa Alexandre VI.

Essa bula delimitava uma linha imaginária no Oceano Atlântico, onde as terras a oeste seriam espanholas e as a leste, portuguesas. Contudo, o tratado não foi aceito por Portugal, que acabou firmando um novo acordo com a Espanha, o Tratado de Tordesilhas (1494), definindo a linha divisória a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde.

Esse tratado foi importante para as duas potências, mas, como observa o professor Jorge Pimentel Cintra, “não havia precisão na medição da linha, o que gerou disputas e ambiguidades sobre as fronteiras”. Na prática, o acordo serviu mais para garantir uma paz temporária entre as coroas do que para definir de fato as fronteiras territoriais do Brasil.

Tela de 1875 de Juan Manuel Blanes ilustra a independência do Uruguai do Império Brasileiro | Foto: Domínio Público

Invasões estrangeiras

A configuração territorial do Brasil também foi moldada por invasões estrangeiras. Durante os séculos 16 a 19, franceses e holandeses tentaram estabelecer colônias no território brasileiro, desafiando as fronteiras delimitadas pelos portugueses.

As invasões francesas ocorreram em diversas regiões, com destaque para a França Antártica (1555-1570), enquanto os holandeses ocuparam o nordeste do Brasil entre 1624 e 1654.

Litogravura de 1877 mostra corsários franceses invadindo a Guanabara | Foto: Domínio Público

Essas invasões, embora temporárias, desempenharam um papel crucial na história da formação territorial do Brasil, já que as potências estrangeiras buscavam expandir seus domínios e explorar as riquezas naturais da região.

O processo de ocupação e expansão territorial do Brasil foi impulsionado por diversas motivações econômicas, políticas e militares. Ao longo dos séculos, o país foi moldado por tratados internacionais, confrontos com potências estrangeiras, e a exploração do interior, resultando no Brasil que conhecemos hoje.

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