Vários longos dias sem escrever por aqui, nessa coluna, me peguei pensando em diversos momentos sobre livros lidos, livros a serem lidos e livros que estão sendo lidos, em pilhas dispersas por um pequeno apartamento.
Nesses dias, de muito das três categorias acima, pensei na minha ansiedade diante das minhas várias listas de livros, dos vários livros de clube, livros a serem lidos para ter o que eu, como livreira, dizer sobre eles, e minhas próprias (e cada vez mais raras) escolhas próprias de livros a serem lidos.
A necessidade de fazer listas para organização mental e o gostinho de imaginar que – talvez – conseguiria ler tudo o que coloquei ali, e quem sabe?, acrescentar até o que deixei de lado.
Na minha estante (não tão infinita quanto pensou Borges), mas cada vez maior de livros não lidos do que livros lidos, aquelas estão cada vez maiores. Talvez isso diga algo sobre consumo? Acredito que não. Acredito que diga mais sobre uma vontade (ansiosa, talvez) – e de quase todo leitor (quem sabe?, quem vai julgar?) -, de ler tudo o que tem por aí.
Parafraseando também Umberto Eco, o escritor que possuía uma vasta coleção de aproximadamente 50.000 volumes e frequentemente abordava o conceito de que uma biblioteca deve conter não apenas os livros já lidos, mas também aqueles que ainda não foram lidos, representando o conhecimento potencial e a curiosidade contínua, acredito que isso mostra que precisamos ter esse espaço como pesquisa, flerte, metas, e não apensa como uma coleção de livros lidos.
No conto de Borges a que me refiro, ele imagina o universo como uma imensa biblioteca (mas vamos combinar de fingir ser uma livraria, ok?), com prateleiras cheias de livros que contêm todos os livros que já foram escritos, que estão sendo escritos e que poderiam ser escritos, incluindo toda a verdade, toda a mentira e infinitas variações sem sentido.
Contido no livro “Ficções”, o conto é uma metáfora profunda sobre conhecimento, o infinito e a busca por sentido, através das palavras. A “livraria” acaba por ser inutilizável: como tudo está lá, o desafio é justamente encontrar o que faz sentido – e isso é quase impossível.
Mas assim como Borges, gosto de pensar e brincar sobre a ideia de que sentido é algo raro, ainda mais quando levamos para essa busca incessante de ler tudo o que se tem, vai ter e ainda terá. E mais uma vez, como Borges, gosto de pensar, sem alarde, sobre os livros que já li, e mais ainda, nos que pretendo ler.
E onde quero chegar? Em todos esses tantos livros que planejei para esse ano. Mas em meados de abril, ainda é tempo para falarmos de listas de leituras? Vou supor que sim. E fiquei pensando em quais livros da minha não tão infinita estante, eu não poderia deixar de ler nesse 2025.
As minhas, entre livros de clubes, livros que estão na lista há tempos, livros que quero ler, se encaixam tantas vontades, que vou começar pelo calhamaço que flerto há séculos: “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. Um livro que talvez seja mais um projeto, e que por aqui já deveria ter sido iniciado.
Em uma incrível reconstrução da história da diáspora africana no Brasil, esse provavelmente é um daqueles livros, que defenderei como um que todos deveriam ler. Dando voz a uma personagem que atravessa continentes, a autora fez uma extensa pesquisa histórica, questionando o mito da democracia racial no Brasil.
Apesar de gostar de um calhamaço, sei que é gostoso demais pegar um livro e ler em poucas horas. Por isso, vou encaixar mais um, o “Esperando Bojangles”, de Olivier Bordeaut, que está na pilha de vai e vem a ser lido, uns bons meses. Prometendo ser um livro poético e melancólico (assim o li em poucas páginas que o folheei), narra a história de uma família excêntrica e apaixonada, vista pelos olhos de um menino.
Outro que vejo, pego, olho, mas a leitura ainda não caminhou, é a “Apanhadora de pássaros”, de Gayl Jones, um livro que explora os limites entre criatividade, loucura, amizade e liberdade. Um livro que promete provocar o leitor, e estou ansiosa pela leitura.
E, por fim, para não me alongar aqui como me alongo em minhas listas, “As desventuras de China Iron”, um livro que está nas minhas pilhas desde que vi a autora, Gabriela Cabezon, na Flip ano passado. Um livro que é uma reinterpretação ousada do clássico argentino “Martín Fierro”, de José Hernández, agora narrada do ponto de vista da esposa anônima do protagonista.
Todos os livros encontráveis na Livraria Palavrear, uma livraria de rua, independente.
E isso é para reforçar mesmo, a importância de se comprar de uma livraria física, de rua. Compre de quem ama livros, sempre!
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