Dados do Ministério da Saúde divulgados pela Associação Paulista de Medicina (APM) no ano passado apontam que em 2020, 3,5 mil pessoas foram hospitalizadas por herpes zoster no Brasil. Já em 2023, esse número foi de 4,2 mil, um aumento de 19,5%. Em março deste ano, a delegada de Polícia e deputada federal Adriana Accorsi (PT) entrou para as estatísticas da doença provocada pelo vírus varicela-zoster (VVZ), o mesmo responsável pela catapora. Ao Jornal Opção, a parlamentar revelou ter sentido dores insuportáveis e que esteve perigosamente perto de perder a visão do olho direito.
As dores começaram no dia 20 de março. Adriana conta que começou a sentir dores no couro cabeludo, mas não desconfiou de nenhuma doença séria até os sintomas passarem a se agravar. “Eu não sabia o que era, pensava que era uma alergia. Porque você só sente a dor, não vê nada. Senti uma dor na região do couro cabeludo e no lado direito do rosto, que desceu para a testa, olho e pescoço”, relata.
No domingo, 23 de março, as dores se intensificaram, com inchaço e o surgimento de feridas no couro cabeludo. No dia seguinte, segunda-feira, a parlamentar decidiu ir ao médico. Tão logo chegou ao Hospital Santa Helena, em Goiânia, Adriana Accorsi foi diagnosticada de imediato com herpes zoster, já sendo submetida à internação. “Fui muito bem atendida. O médico olhou e já percebeu o que era. Recebi medicação venosa, pois havia o risco de chegar ao cérebro e provocar cegueira”, recorda.
Após cinco dias internada e recebendo o devido tratamento, a deputada federal recebeu alta no dia 28 de março, recuperada. No entanto, dias depois, a dores voltaram. Na terça-feira da semana passada, dia 15 de abril, ao sentir-se mal novamente, Adriana decidiu procurar o médico de imediato. Apesar de não ter havido a necessidade de internação, a parlamentar destacou que lhe foram prescritos novos medicamentos, os quais ela segue tomando.
“Ainda estou sentindo dores. É uma doença terrível. Corri o risco de perder a visão do olho direito. É uma dor semelhante à ferroada de um animal, é muito forte. E ela vem quando menos se espera”, descreve a deputada federal.
Vacina pelo SUS
Ao receber alta, após quase uma semana de internação, Adriana Accorsi compartilhou um vídeo em suas redes sociais no qual agradeceu às orações e torcida por sua recuperação. A repercussão de seu caso e a identificação das pessoas a surpreendeu. “Recebi centenas de depoimentos de pessoas que ficaram surdas, cegas, que tiveram paralisia facial, danos neurológicos por causa do herpes zoster. Pessoas que perderam familiares para a doença”, conta.
A parlamentar afirma ter percebido que uma doença tão grave como essa não tinha a devida repercussão e que grande parte da população sequer sabia da existência da vacina, uma vez que o imunizante, hoje, não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. O valor de uma dose da vacina contra herpes zoster, hoje, varia de R$ 590 a R$ 900 na rede privada.
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Foi quando Adriana encaminhou um estudo ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que, segundo ela, evidenciava a gravidade das sequelas do herpes zoster e os riscos que a doença oferece à população, sobretudo a parcela que não possui condições financeiras para custear a vacina.
No último dia 22, terça-feira, a deputada federal se reuniu com o ministro Padilha e apresentou uma proposta de inclusão da vacina contra o herpes zoster no SUS. Segundo ela, o titular do Ministério da Saúde deu a garantia de atendimento do pedido. No entanto, não foi dada previsão para que isso ocorra.
“O ministro me recebeu e já assinou o ofício determinando que seja fornecida a vacina pelo SUS. Pode demorar alguns dias, mas acredito que em breve teremos. E com a vacina passando a fazer parte da cobertura nacional, a doença passa a ser mais divulgada, o que não acontece hoje”, destacou.
Doença pode ser fatal se não tratada
Em entrevista ao Jornal Opção, a médica dermatologista Anamélia Castro explica que a herpes zoster nada mais é do que a “reativação da catapora”, o que antigamente se chamava de “cobreiro”. “Quando pegamos catapora, o vírus fica no corpo de forma inativada e por alguma alteração da imunidade, ele ressurge. Mas não reaparece disseminado, como na catapora. Ele vem em segmentos do corpo”.
O contato direto com vesículas e bolhas provocadas por herpes zoster em outra pessoa constitui uma outra forma de contato, segundo Anamélia, ou também, mais raramente, via gotículas inalatórias.
A especialista ressalta, porém, que o vírus causador do herpes zoster é diferente pois, apesar de ser da mesma família do herpes simples, é um vírus da catapora de apresentação disseminada inicialmente e que depois aparece de forma mais agressiva e neural. “Em relação ao vírus do herpes simples, seja ele oral ou genital, normalmente são vesículas que recludescem só no local, desaparecem e não geram sequelas. Já o zoster gera sequelas. Pertence à mesma família da catapora, mas tem uma apresentação completamente diferente”.
Quanto aos sintomas, a médica dermatologista Giovana Denófrio afirma que a doença tem como principal característica uma dor intensa na região afetada e também o aparecimento de lesões, as famosas “feridinhas”. A especialista enfatiza que, se não tratada corretamente, a herpes zoster pode provocar cegueira, perda de audição e até a morte.
“Essas complicações são mais prováveis em pessoas com sistema imunológico enfraquecido (como idosos ou imunossuprimidos). A neuralgia pós-herpética, que é uma dor persistente nos nervos após a resolução das lesões, pode afetar até 30% dos pacientes”.
Giovana destaca que a doença pode ser tratada com medicamentos antivirais, que devem ser iniciados o mais cedo possível para reduzir a duração e a gravidade dos sintomas, além de prevenir complicações como dor persistente após a doença.
Uma forma eficaz de prevenção, segundo destacado pela médica Anamélia Castro, é a vacina. “São vacinas preconizadas para pacientes acima de 50 anos, mas se o paciente já teve ou tem o risco maior para a doença, o imunizante pode ser aplicado em quem tem menos de 50 anos. É uma excelente forma de prevenção das formas graves do herpes zoster. O ideal é que se procure um médico dermatologista ou infectologista nos primeiros sinais da doença, pois quanto mais rápido tratada, menos risco de sequelas”, concluiu.
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