Federação UB e PP: Caiado, que já tinha a “faca”, agora pode ter conseguido o “queijo”

Entre as centenas de expressões e metáforas populares da língua portuguesa usadas para descrever situações do cotidiano, há uma que considero particularmente divertida: “Estar com a faca e o queijo na mão”. Significa que o indivíduo conta com a ferramenta necessária e os meios adequados para atingir determinado objetivo, só faltando a ele a iniciativa, ou seja, que ele “corte o queijo”. Quando trazemos essa analogia para o campo político, é possível dizer que, após a confirmação oficial de que os partidos União Brasil e Progressistas irão se federar para disputarem juntos as eleições de 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, tem uma sofisticada e cortante Zwilling em uma das mãos e um macio queijo Brie na outra, restando ao político que o corte na proporção e medida certas.

Desde que se começou a falar em federação entre o UB e o PP, algumas alas da legenda ficaram divididas quanto à ideia. Os primeiros a aprovarem foram os membros da alta cúpula do PP. Em março deste ano, após meses de conversas e negociações, o presidente nacional, senador Ciro Nogueira, confirmou que sua sigla havia dado aval às tratativas para formar uma federação partidária com o UB.

“Em reunião convocada pela presidência do Progressistas para consultar a Executiva Nacional sobre a formação de federação partidária com o União Brasil, após intensa discussão, deputados federais, senadores e presidentes de diretórios estaduais decidiram, por unanimidade, dar pleno aval à presidência do partido para prosseguir as tratativas no sentido de consolidar a criação da federação”, escreveu o senador, na época, nas redes sociais.

Após o OK dos Progressistas, restava a Antônio Rueda – presidente nacional do UB – e seu entorno, portanto, baterem o martelo quanto à aliança ou descartar a possibilidade. Entre os pontos favoráveis, o “titã político” a ser criado com a federação: juntos, os partidos tornam-se o maior grupo político da Câmara dos Deputados, com 108 parlamentares, ultrapassando o PL de Jair Bolsonaro, que hoje é a maior bancada. Já no Senado, as bancadas do Progressistas e do União totalizariam 13 senadores.

No campo dos “contra”, o principal argumento era a real necessidade de aliança entre dois partidos que, sozinhos, vigoram no top 5 dos maiores do Brasil e elegem mandatários sem nenhum embaraço ou necessidade de suporte externo. Um dos porta-vozes dessa crítica era justamente o governador Ronaldo Caiado.

No início de abril, em um evento com empresários da indústria em Salvador, ao ser questionado sobre a possibilidade da federação de sua legenda – a qual ele preside em Goiás – com o PP, o goiano rebateu: ” A quem interessa pegar o terceiro maior partido e juntar com o quarto maior partido? Você já viu algum tipo de federação nesse sentido? Não existe. Interessa a quem criar uma cizânia nos estados?”, questionou.

Na última semana, um encontro entre Rueda e Nogueira em um evento em Brasília, que contou com a presença de Caiado, finalmente deu desfecho às negociações. Mas o que antes era visto com ressalvas pelo político goiano, agora deve ser seu propulsor para 2026. Ficou definido entre os presidentes das duas legendas que a federação vai sair, com o governador de Goiás como o provável candidato representando-a na corrida presidencial. A condição imposta foi: ele precisa se consolidar, romper as barreiras de seu estado e ficar conhecido no país.

Era justamente o que faltava a Caiado – um voto final de confiança sem o “fogo amigo” que tentou até mesmo fazê-lo adiar o lançamento de sua pré-candidatura ao Planalto. Há tempos o chefe do Executivo estadual articula a viabilização de seu nome para a disputa presidencial. O evento em Salvador foi, inclusive, parte da estratégia para passar a mensagem: “Serei candidato e não abro mão”. O governador escolheu a capital da Bahia para lançar sua pré-candidatura à presidência da República em um ato com centenas de apoiadores entre prefeitos, deputados, vereadores e senadores, no Centro de Convenções de Salvador.

Tanto o UB quanto o PP possuem cargos no governo Lula e, na teoria, ainda integram sua base. As legendas contam com grupos que ainda não descartam a possibilidade de compor com o atual presidente da República numa eventual tentativa dele de reeleição. Mas será com a federação que as legendas, que já têm a relação com o Planalto estremecida, devem se distanciar ainda mais dele.

Os sinais que vinham sendo dados ficaram ainda mais intensos recentemente, apontando o caminho que o UB deve trilhar no ano que vem. O último foi a recusa do deputado Pedro Lucas, líder do UB na Câmara, de assumir o Ministério das Comunicações no governo Lula. O “não” público do parlamentar constrangeu o governo, mas deu indícios que cargos já não são mais suficientes para manter o partido com Lula.

Considerado o nome moderado da direita e alternativa para 2026, Ronaldo Caiado, como dito, já tinha a “faca” na mão. Os bons números da segurança pública em Goiás – principal preocupação da população hoje -, o reequilíbrio fiscal do Estado e a capacidade notável de articulação política o gabaritam automaticamente como um candidato viável para o Palácio do Planalto. Agora, com o aval da federação que vai nascer, o governador ganha o “queijo”. E a levar em conta a experiência do gestor, o “corte” virá na hora certa.

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