Já se vão mais de 80 anos desde que o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista durante a 2º Guerra Mundial – o maior e mais destrutivo conflito da humanidade. Getúlio Vargas vivia sua primeira era no poder quando enviou 25 mil pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ao território italiano – única frente da América do Sul nos campos de batalha da Europa durante o conflito.
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Entre os “Cobras Fumantes” – apelido dado aos pracinhas – estava o soldado goiano Ademar Ferrugem, natural de Catalão, no sudoeste goiano. Antes de ingressar no Exército como voluntário do Brasil no conflito armado, Ferrugem trabalhou como pedreiro em Goiânia, de acordo com a sobrinha Cármen Lúcia.
“Ele tinha 24 anos e se dispôs a se voluntariar pelo país quando ficou sabendo da guerra. Ele foi para São Paulo, em Sorocaba, e ficou três meses lá treinando com o Exército. Depois ele foi de navio para Itália”, explica Carmen Lúcia ao Jornal Opção.
Para se juntar à FEB, o soldado deixou a mãe, o pai, oito irmãos e a noiva, contrariando a família que tentou evitar que fosse à guerra. Buscando combater o maior genocídio já registrado, Ferrugem deixou Goiás em 1942 – mesmo ano que o Brasil entrou no conflito global após a morte de 607 pessoas em seguidos ataques do Eixo (Alemanhã, Itália e Japão) a navios brasileiros em uma área do Atlântico, que vai da costa leste norte-americana ao Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África.
Buscando confortar a família, Ferrugem escrevia cartas da Itália destinadas principalmente à mãe, em Goiânia, de acordo com Carmen. Nos manuscritos, ele não dava detalhes da guerra, mas afirmava que estava bem e com saudades dos parentes, sempre reforçando que iria voltar para casa.
A promessa, porém, não foi cumprida. O soldado e ex-pedreiro acabou morto com um tiro de fuzil no estômago em 3 de novembro de 1945, quatro meses depois do Brasil declarar guerra ao Japão. A essa altura, Ferrugem já havia participado da conquista do Monte Castelo, chamado de “morro maldito”, em uma campanha que durou três meses, até a vitória em fevereiro de 1945 – maior feito dos pracinhas na 2º Guerra.
Para conquistar o território, os Aliados precisavam vencer a chamada Linha Gótica, uma barreira das tropas nazistas alemãs. Os brasileiros tiveram de percorrer uma rota exposta ao fogo dos inimigos. As seguidas tentativas resultaram em um grande número de baixas para o país, que teria acumulado cerca de 450 soldados mortos em toda o conflito
“Meu pai foi até onde ele [Ferrugem] trabalhava e pegou um telegrama informando que ele havia falecido em batalha. Meu pai levou um choque muito grande, minha mãe estava coando café e começou a chorar. Perguntaram se ela queria que trazessem os restos mortais dele para Goiânia, mas ela falou que não, que era para enterrar ele junto com os outros pracinhas no memorial do Rio de Janeiro”, conta Maria da Glória Ferrugem Bonfim, de 86 anos, irmã do soldado.
Maria conta que o irmão tinha uma forte ligação com os pais, especialmente com a mãe, com quem deixou os cuidados sobre responsabilidade dela. A idosa morreu aos 104 anos, mesma idade que Ferrugem atingiria neste sábado, 3 de maio, caso estivesse vivo.
Homenagens
Depois de 20 anos da morte do goiano, o então prefeito de Goiânia, Iris Rezende, homenageou o soldado renomeando a Avenida Paraíba para Avenida Ademar Ferrugem, no Setor Campinas, em 1965. O ex-pedreiro também foi homenageado na cidade natal, Catalão, tendo uma rua batizada com o nome.
Além disso, o comunicado da morte dele e uma foto estão expostos no Museu Histórico Municipal Cornélio Ramos. Além das homenagens que tornaram o sobrenome Ferrugem conhecido, a família também foi agraciada com uma pensão deixada pelo militar, que ficou em nome de Maria.
“A família toda é orgulhosa [de Ferrugem]. Ele foi motivo de orgulho, onde vou falo que meu nome é Ferrugem. A gente sempre propaga o nome dele”, concluiu.

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