Por volta das 22h13 do sábado, 3 de maio de 2025, quando Lady Gaga finalmente surgiu no palco montado na praia de Copacabana, o Brasil testemunhou não apenas o início de um espetáculo musical, mas a consolidação de um momento histórico na cultura pop mundial. Diante de mais de 2,1 milhões de pessoas, segundo a Riotur, a artista norte-americana entregou aquele que já é considerado o maior show de sua carreira – e, com justiça, o maior público da história para uma artista feminina, ultrapassando até mesmo a Rainha do Pop, Madonna.
O que se viu em Copacabana não foi apenas uma apresentação gratuita de uma popstar internacional. Foi uma espécie de ritual coletivo que revelou o potencial do Brasil como epicentro global de espetáculos ao ar livre e redefiniu o que esperamos – e podemos oferecer – em termos de estrutura, envolvimento popular e entrega artística.
Logo na abertura, a leitura do “Manifesto of Mayhem” apontou para a fase atual de Gaga: teatral, visceral, poética. A cantora — que não vinha ao país desde 2012 e cancelou em cima da hora sua vinda em 2017 — reconheceu essa ausência com honestidade tocante, ao afirmar: “Vocês esperaram por mim, vocês esperaram por mais de dez anos. (…) Brasil, eu estou pronta!”. E foi nesse espírito de entrega e reencontro que o espetáculo se desenrolou por quase duas horas.
Ao longo dos cinco atos de sua chamada “ópera-pop-gótica”, Gaga encenou não só músicas, mas narrativas visuais e emocionais. Figurinos mutantes, cenários que evocavam crânios e dançarinos que conduziam coreografias ora frenéticas, ora quase litúrgicas, transformaram a areia de Copacabana num palco digno dos maiores teatros do mundo. Mas com um toque local e simbólico: figurinos com as cores do Brasil, dançarinos com camisas da Seleção Brasileira e interações que transbordaram afeto.
Destaque para momentos como o da performance de Vanish Into You, em que a artista desceu do palco, recebeu flores e bandeiras do Brasil, e abraçou os fãs, emocionando-se com a entrega do público. “O povo do Brasil é o motivo pelo qual eu posso brilhar”, disse. “Vocês estão lindos como a lua surgindo sobre o oceano, bem aqui na praia de Copacabana.” A imprensa internacional não tardou a reconhecer: o britânico The Guardian chamou o espetáculo de “momento de alegria absoluta para os fãs brasileiros”, descrevendo a atmosfera como “eletrizante”.

E como não seria? A multidão enfrentou o sol escaldante desde as primeiras horas do sábado para garantir lugar. O meme clássico de que “ela não vem mais” virou história: ela veio — e com tudo. Apresentou Bloody Mary, Poker Face, Born This Way, Shallow, Die With a Smile (parceria com Bruno Mars) e Bad Romance com uma intensidade que mesclava força e vulnerabilidade.
Cada ato foi costurado com discursos motivacionais, como o trecho em que confessou: “Vocês acreditam em si mesmos? Espero que acreditem em vocês. Espero que façam isso todos os dias. Eu não sabia acreditar em mim mesma. Por muito tempo, não acreditei em mim”. Ao compartilhar suas próprias fraquezas, Gaga se humanizou ainda mais diante de um público que sempre a tratou como algo além de uma estrela: uma guia emocional.
“Mas vocês têm que acreditar em si mesmos, todos os dias, se tentarem. Vocês são tão bonitos, e amo vocês por tanto tempo. Obrigada por nos trazer de volta aqui, estou tão feliz”, discursou a cantora antes de cantar Born This Way.
Mas talvez o verdadeiro protagonismo do evento tenha sido o próprio público brasileiro, que demonstrou, mais uma vez, por que é considerado um dos mais apaixonados do mundo. O calor humano dos “little monsters” — apelido carinhoso dado aos fãs — emocionou Gaga repetidas vezes. A artista declarou: “Estou muito honrada de estar aqui com vocês esta noite. (…) Obrigada Brasil, te amo para sempre”.
Para além da emoção, é necessário destacar a importância geopolítica e simbólica desse show para a indústria musical. Ao realizar uma apresentação dessa magnitude gratuita, em local aberto e com transmissão mundial, Gaga reposiciona o Brasil como destino viável, desejado e estratégico para grandes turnês internacionais. O que antes era considerado arriscado — logística, segurança, engajamento — se transformou em um exemplo de sucesso.
E o impacto de Lady Gaga no Rio de Janeiro vai ainda muito além da música. O evento movimentou a economia local de forma expressiva. A alta demanda por voos, a lotação nos hoteis da cidade e o crescimento das vendas no comércio local são apenas alguns indicadores do quanto um show desse porte transforma o país. O público, que veio de todas as regiões do Brasil e até de outros países, mostrou que o turismo cultural pode – e deve – ser uma potência econômica. É a cultura gerando renda, empregos e visibilidade internacional.
Lady Gaga deu ao Brasil não apenas um show. Ela nos deu protagonismo. E se o show começou com atraso – ela apareceu por vídeo às 22h10 e subiu ao palco às 22h13, 28 minutos depois do previsto –, terminou com uma vulnerabilidade rara no mundo do pop. Sentada no chão do palco, cercada por dançarinos vestidos de branco e de frente para os fogos que iluminavam a noite carioca, Gaga parecia não querer ir embora. Sua emoção, genuína, fechou com chave de ouro um espetáculo que entrou para a história da música ao vivo no Brasil e no mundo.
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