MP investiga condomínio construído sobre área de nascentes em Jataí; empresa diz ter licença desde 2023

O Ministério Público de Goiás (MPGO) abriu uma investigação para apurar a regularidade da construção do condomínio Hamoa Resort Residencial Jataí, erguido em uma área de cerrado nativo que abriga nascentes e matas ciliares, consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs). O projeto, conduzido por empresas do grupo JMD Urbanismo, é alvo de supervisão ambiental por estar situado em uma zona sensível do ponto de vista ecológico, embora as empreendedoras sustentem que todas as intervenções estão amparadas pela legislação vigente e devidamente licenciadas.

Em nota enviada ao Jornal Opção, o MPGO confirmou que está ciente da situação e realiza os procedimentos cabíveis: “O Ministério Público de Goiás está acompanhando o caso e ainda avalia a existência ou não de eventual desconformidade nas intervenções”.

A empresa responsável pela obra, formada pelas sociedades Bela Vista do Bonsucesso Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda, Aquarela Hamoa Jataí Urbanismo Ltda e Hamoa Jataí Incorporações Ltda, defende a legalidade do empreendimento e afirma que está tomando medidas para mitigar eventuais impactos ambientais. Em nota, enviada ao Jornal Opção, as companhias explicam que o imóvel “encontra-se no bioma cerrado e contempla em seu interior áreas compostas por nascentes, córrego e matas ciliares que estão e permanecerão preservadas”.

Ainda de acordo com a nota, o empreendimento está localizado “no perímetro urbano consolidado do município de Jataí, em área de expansão urbana”, e as obras foram autorizadas em 2 de agosto de 2023, com a expedição da licença de instalação. As empresas destacam que a área foi, ao longo dos anos, “antropizada, onde por muitos anos houve a exploração agropecuária”, e que agora está sendo parcelada com base na legislação federal, estadual e municipal, que permite intervenções pontuais em APPs em áreas urbanas.

Essas intervenções, como ressaltam as empreendedoras, seriam comuns em todo o país, incluindo “passagem de vias que cruzam com cursos d’água, instalação de dissipadores de energia para águas pluviais e estações de tratamento de esgoto”. A nota ainda exemplifica com imagens aéreas que mostram intervenções semelhantes em bairros vizinhos de Jataí. 

Bairro ao lado do Hamoa Resort Residencial Jataí com duas intervenções para passagem de vias públicas | Foto: Hamoa Jataí Incorporações Ltda/ Aquarela Hamoa Jataí Urbanismo Ltda

No caso específico do Hamoa Resort Residencial, houve uma licença para a passagem de uma via pública, que, segundo as empresas, “está distante das nascentes que estão devidamente protegidas”.

Imagem da incorporação sobre nascentes que permanecem protegidas | Foto: Hamoa Jataí Incorporações Ltda/ Aquarela Hamoa Jataí Urbanismo Ltda

Com o intuito de garantir a preservação e compensar os impactos ambientais, as empreendedoras anunciaram a criação do Parque do Queixada. A proposta inclui a doação de uma área superior a 1 milhão de metros quadrados ao município de Jataí, para uso como espaço de preservação ambiental, contemplação e lazer. “Todos os projetos estão aprovados e licenciados pelos órgãos reguladores e registrados junto ao Cartório de Registro de Imóveis de Jataí na forma da lei”, garante a nota.

O parque também contará com o plantio de mais de 10 mil mudas de árvores nativas do cerrado, o que, segundo as empresas, fortalecerá a biodiversidade e contribuirá para o equilíbrio do microclima local. Elas afirmam que a formação do parque trará maior proteção às APPs, frequentemente expostas a riscos quando abandonadas, como “invasões, descarte irregular de resíduos e poluição”.

Além disso, reforçam que a reserva legal da propriedade, situada abaixo da projeção da Avenida Porto Seguro, “está igualmente preservada”, o que ampliaria a área de vegetação nativa contínua na região.

Na visão das companhias, o empreendimento não compromete o meio ambiente, pois segue um modelo de urbanização “sustentável e socialmente responsável”. Elas reafirmam o compromisso de entregar um projeto que “atenda às necessidades da cidade e que contribua na promoção de um meio ambiente saudável para todos os cidadãos de Jataí, notadamente as futuras gerações.”

O que diz a Prefeitura de Jataí

Por sua vez, a Prefeitura de Jataí, também procurada pelo Jornal Opção, respondeu que o empreendimento se originou em gestões anteriores e que a atual administração não tem responsabilidade sobre a aprovação do projeto. “Isso é uma questão da administração anterior já consolidada, inclusive com o aval, com a aquiescência do Ministério Público, que à época estava tudo legal, questão ambiental e tudo mais. Então, essa administração atual aqui não tem o que fazer e nem explicar sobre uma coisa que já foi consolidada na administração anterior.”, declarou a assessoria do executivo municipal.

A legislação ambiental citada pelas empresas permite, de fato, intervenções pontuais em áreas de preservação permanente em zonas urbanas, desde que devidamente licenciadas e justificadas. Entre os dispositivos legais mencionados estão o Código Florestal (Lei Federal nº 12.651/2012), a Lei Complementar Estadual nº 18.104/2013 e a Lei Complementar Municipal nº 2.047/1998.

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