Edson Manzan
Hoje, na mídia, nas redes sociais, nas conversas casuais, privadas ou em ambientes de socialização, muito se fala sobre “narcisismo”, ou que tal ou qual pessoa seria “narcisista”. Sem entrar no terreno estritamente técnico do conceito, estabelecido, na psicologia, pelo criador da psicanálise: Sigmund Freud, e pensando no que se diz, pelo senso comum mesmo, acerca dessa qualificação; podemos nos perguntar: o que seria pertinente dizer sobre o caso?
O narcisista, descrito em geral, seria alguém “cheio de si”, com baixo ou nenhum interesse por assuntos, ou até conquistas, de outras pessoas; com dificuldade de vivenciar empatia, arrogante, em sua postura, maneira de falar de si, exaltar-se, e de julgar os outros – e educado e formal somente quando lhe convém. Muito se diz que essa pessoa teria grande autoestima, amar-se-ia mais do que seria comum, e estaria mais contente consigo mesma, e até se sentindo mais realizada, que a maioria de nós, meros mortais. Mas, as coisas não são bem assim.
A arrogância, por exemplo, constitui um mecanismo de defesa, até bem tosco, mediante o qual o sujeito tenta se exaltar, colocando-se acima dos sentimentos e vivências que lhe são relatadas, dizendo, por exemplo, que tal coisa não acontece com ele, que sentir-se de uma ou outra forma, em algum contexto, seria fraqueza, e quem é forte não o faria; ou que superaria situações de modos muito mais práticos e eficientes se comparado aos demais. Trata-se, assim, de uma defesa contra a condição humana mesma, à qual todos estamos submetidos, e de onde é inescapável.
É importante vermos, em um panorama sobre o tema presente, a questão da ausência de empatia como fuga dos sentimentos, dos próprios afetos, capacidade de amar, envolver-se com alguém, correr riscos afetivos. Aqui também comparece, portanto, uma defesa contra o expor-se, nas relações, na vida, na lida consigo mesmo… Defesa que tende a ter sido fornada contra alguma experiência emocional traumática, da qual o sujeito, como se pode perceber por sua constante fuga da própria condição, nunca se recuperou.
Isso pode gerar um vazio existencial gigantesco, proveniente de dor psíquica, e um empobrecimento extremo da intensidade do viver e impossibilidade de aprender com o experienciado e, em decorrência, crescer como pessoa, amadurecer.
Outro ponto fundamental está no isolamento exagerado, e no esquivar-se do que não diga respeito a si. Aqui, age defesa intensa contra a própria fragilidade diante das diferenças, do não ser centro; pode estar operando então uma autoestima precária, que precisa, o tempo todo, ser alimentada, inflada, referida, sustentada.
Tornar-se sempre o centro demonstra, na verdade, fragilidade egoica bem considerável, além da dificuldade flagrante de lidar com a frustração; algo essencial para que possamos bem viver, trabalhar, e obter o mínimo de adequação para nos relacionarmos e dialogarmos.

Edson Manzan é psicanalista clínico e forense e doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
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