Mounjaro: busca por estética aumenta contrabando das ‘canetas emagrecedoras’ na internet

Antes mesmo de chegar ao Brasil, o mounjaro já caiu no gosto daqueles que buscam emagrecer com facilidade. As farmácias já têm filas de espera e o consequente contrabando da “caneta” sucessora do ozempic se tornou mais uma atividade visadas pelo crime organizado. 

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Mesmo com a venda restrita às farmácias autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), perfis na internet descumprem as normas comercializando a substância manipulada sem qualquer tipo de acompanhamento ou receita médica — requisito obrigatório no ato da compra legal. 

O valor do produto nas mãos dos criminosos, porém, chega a ser 44% mais alto do que o praticado pelas farmácias legais. Em Goiás, por exemplo, a caixa com quatro “canetas” de 2,5 mg foi encontrada por R$ 1.250 (site), enquanto um dos criminosos com quem a reportagem negociou ofereceu o medicamento de mesma quantidade por R$ 1.800, sem contar o frete. 

“Caixa lacrada com 5 mg é R$ 2.500. A quantidade de 7,5 mg sai por R$ 3.500; 10 mg são R$ 4.800; 12,5 mg são R$ 5.500 e 15 mg são R$ 6.500. Os são medicamentos originais, importados dos Estados Unidos”, informou o contrabandista, em grupo de WhatsApp denominado “Help cytotec, ritalina, mounjaro”.

Em conversa privada com o repórter, o criminoso que administra o espaço privado com 17 membros de nove Estados distintos, explica que o pagamento deve ser feito via pix, boleto ou depósito. O envio é realizado por transportadora, sendo que o medicamento é embalado e refrigerado para não perder a qualidade. A previsão de chegada é de dois dias.

Caso o repórter fechasse a aquisição de cinco caixas de 15 mg para revenda e uso pessoal, totalizando a bagatela de R$ 32,5 mil, arredondar o valor para R$ 30 mil – desconto de R$ 500 em cada caixa – ofertada que, segundo ele, não seria encontrada no mercado legal.

O contrabandista, ao afirmar que ozempic “saiu de moda”, reforça: “Se analisar o valor de mercado, nosso preço ainda está abaixo do valor encontrado nas farmácias legais. A caneta já vai pronta para você aplicar uma vez por semana. O uso geralmente é no abdômen, barriga, coxa ou parte superior do braço. Mando duas agulhas reservas para cada caneta e o envio é por minha conta.”

Tabela de preços informada por contrabandista | Foto: Pedro Moura/Jornal Opção

Apreensões 

Apenas neste ano, R$ 3 milhões em mounjaro contrabandeado foram apreendidos nos aeroportos do país. Em Goiás, duas apreensões foram realizadas pela Polícia Civil (PC), em Goiânia, após denúncias de vendas na internet por meio de falsos profissionais da saúde.

Para o delegado Alex Rodrigues, responsável pelas operações, a “caneta” se tornou alvo de criminosos devido à alta demanda por medicamentos para emagrecimento rápido, impulsionada pelos padrões de beleza atuais que valorizam a magreza. Segundo ele, este medicamento, originalmente desenvolvido para diabetes tipo 2, ganhou popularidade pelos efeitos significativos na perda de peso.

“As investigações indicam que os produtos vendidos ilegalmente não são fabricados no Brasil. Por raciocínio lógico, estes medicamentos são importados irregularmente. Há relatos frequentes de que os remédios são trazidos de maneira irregular da Inglaterra e também do Paraguai”, conta.

O delegado explica que o mounjaro pode ser comercializado legalmente no Brasil, desde que sejam respeitadas as normas legais e as regulamentações dos órgãos competentes, como a exigência da receita médica. O comércio informal configura venda irregular de medicamentos, cuja infração é considerada grave pela legislação brasileira, com penas que podem chegar a 15 anos de reclusão.

“A Polícia Civil tem realizado esforços contínuos para reprimir a venda irregular destes medicamentos, reconhecendo que este crime não apenas afeta a saúde dos usuários individuais, mas também representa um risco para a Saúde Pública como um todo”, ressaltou.

Fiscalização e riscos

O uso indiscriminado da “caneta”, sem prescrição médica, pode causar efeitos colaterais graves, incluindo problemas gastrointestinais, pancreatite, hipoglicemia e reações alérgicas. Além disso, medicamentos falsificados ou mal armazenados (como os vendidos pela internet) podem conter substâncias tóxicas ou doses incorretas, representando riscos ainda maiores.

A superintendente de vigilância sanitária, ambiental e saúde do trabalhador da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES/GO), Eliane Rodrigues da Cruz, conta que o medicamento provoca uma redução da glicose no sangue, diminui a sensação de fome porque retarda o esvaziamento do estômago, trazendo uma sensação de extasia. Entretanto, durante o processo, é comum crises de hipoglicemia.

“O medicamento é seguro, ele tem o uso assegurado mediante estudo clínico para doses prescritas por endocrinologistas, por médicos especialistas no tratamento da diabetes e no excesso de perda. Agora o uso indiscriminado é que leva a esses eventos adversos, que podem ocorrer a médio e longo prazo”.

A fiscalização contra o comércio de mounjaro e outros medicamentos de emagrecimento sem supervisão é realizada pelas vigilância sanitária municipal. A ação, porém, deve ser intensificada a partir do dia 23 de junho em todo o país, segundo Eliane.

A medida é um reflexo da decisão da Anvisa, onde as farmácias e drogarias devem receber duas receitas no momento da venda do medicamento – uma fica com o cliente e a outra deve ser armazenada pela empresa – a fim de prestar contas ao sistema nacional de gerenciamento de produtos do Ministério da Saúde (MS).

“A expectativa é que a gente consiga fazer esse monitoramento via sistema de notificação. Os fiscais sanitários municipais das vigilâncias dos municípios também vão ter condição de verificar a rastreabilidade das receitas, certificar de que a quantidade comprada do distribuidor foi realmente a vendida mediante prescrição, por meio da contabilidade”, concluiu.

Caixas de mounjaro enviada ao repórter pelo criminoso | Foto: Pedro Moura/Jornal Opção

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