Energias eólica e solar carecem de segurança, e hidrelétrica será a principal fonte por mais tempo, diz Salatiel Correia

Apesar do avanço das fontes renováveis no Brasil, como a energia solar e a eólica, essas alternativas não devem ser vistas como solução única para os desafios da matriz energética brasileira. O alerta é do engenheiro elétrico Salatiel Correia, mestre em economia pela Unicamp, especialista no setor e autor de diversos livros sobre o tema. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, ele defende a importância da energia hidrelétrica como base firme e sustentável para o país.

“O Brasil é um país hídrico. Nossa principal fonte de energia deve continuar sendo a hidrelétrica, diferente, por exemplo, da França, que tem poucos rios e, por isso, depende da energia nuclear”, explica Correia. Para ele, a estrutura natural do território brasileiro exige um planejamento energético compatível com essa vocação.

Segundo o engenheiro, o investimento em energia elétrica exige visão de longo prazo. “É um investimento que demora a maturar. Você constrói uma usina hoje e só terá retorno daqui a 30 anos”, afirma. Já a energia térmica — baseada em fontes fósseis —, apesar de ter alto custo operacional e maior impacto ambiental, é fundamental em momentos de emergência, como apagões.

Correia destaca que a solar e a eólica, embora limpas e renováveis, não oferecem segurança energética por dependerem de fatores naturais variáveis, como sol e vento. “Elas são fontes não firmes. Não dá para confiar nelas em situações críticas. Se houver um apagão em São Paulo, por exemplo, não é a energia solar que vai segurar o sistema. Quem garante é a hidrelétrica e a termoelétrica”, enfatiza.

O engenheiro também critica a falta de planejamento estratégico no setor energético brasileiro. “O que vemos hoje é a ausência do Estado e de um projeto de longo prazo. Empresas privadas apostam na solar e na eólica porque o retorno do investimento vem rápido, em dois ou três anos. Mas isso é uma lógica de curto prazo, sem compromisso com o desenvolvimento sustentável do país”, afirma.

Salatiel Correia reforça que a matriz energética deve ser diversificada, mas com equilíbrio. “A energia solar e a eólica são importantes, sim. São fontes limpas, ajudam o meio ambiente e contribuem para a diversificação. Mas não se pode desprezar a energia hidrelétrica, que é a espinha dorsal do sistema. Não existe crescimento econômico sem energia firme”, sustenta.

Hidrelétrica Itaipu l Foto: Caio Coronel

O especialista reconhece os desafios ambientais enfrentados pela construção de hidrelétricas, mas defende que é possível compatibilizar preservação e desenvolvimento. “Hoje, o meio ambiente é uma variável essencial. Mas é preciso planejamento integrado. Não se pode travar o crescimento por completo em nome disso. O país precisa crescer e precisa de energia para isso”, afirma.

Correia também critica o atual modelo de mercado de energia elétrica no Brasil, que, segundo ele, restringe a concorrência. “O consumidor residencial está preso a um monopólio. Aqui em Goiás, por exemplo, só temos a Equatorial. Não há opção. É diferente da Califórnia, no Estados Unidos, onde o cidadão pode escolher entre 20 empresas fornecedoras”, compara.

O engenheiro conclui que o Brasil precisa retomar o protagonismo estatal no planejamento energético. “Antigamente, com Cemig, Furnas, as Centrais Elétricas, havia projeto de país. Hoje, o setor está entregue ao mercado, e isso compromete o futuro. A solar e a eólica são boas alternativas, mas quem sustenta o sistema é a energia hidrelétrica. Sem ela, não há segurança, nem crescimento sustentável”, finaliza.

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