Apesar do crescimento expressivo no setor de serviços em Goiás, impulsionado principalmente pelo agronegócio, alguns segmentos ainda enfrentam dificuldades. A análise é do vice-presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (ACIEG), Thiago Falbo, que conversou com o Jornal Opção sobre o cenário econômico atual do estado.
Segundo dados recentes do IBGE, os serviços cresceram 5,7% em Goiás no acumulado de 12 meses até março de 2025, com destaque para o setor de transportes, que avançou 13,7%. Para Falbo, esse desempenho está diretamente ligado à força do agro no estado.
“A gente está vendo isso com muito bons olhos. Qualquer melhora na nossa economia é importante para Goiás, e a gente enxerga essa melhora principalmente pela nossa vocação de ser um estado forte no agro e na agroindústria”, afirmou. “Com o aumento da nossa produtividade no campo, tudo ligado ao agro teve um crescimento significativo neste ano.”
Esse avanço do agronegócio, segundo o dirigente, gera impactos diretos na cadeia de serviços, principalmente na logística. “O escoamento da produção é algo muito relevante. Boa parte da nossa produção é distribuída não só para o Brasil, mas para o mundo, o que impulsiona ainda mais o setor de serviços.”
Falbo também destacou o papel estratégico da localização geográfica do estado como diferencial logístico. “Graças a Deus, a nossa posição geográfica ajuda muito. Em um raio de mil quilômetros, atingimos 80% da população brasileira e praticamente 100% dos portos. Isso facilita o escoamento e atrai investimentos.”
Ainda assim, ele reconhece que há gargalos. “Tem coisa para melhorar, claro. Sempre tem. Mas temos uma boa malha rodoviária, com BRs e GOs estruturadas. A Norte-Sul também tem papel fundamental. Tudo isso facilita a geração de emprego e renda, principalmente na área de logística”, explicou.
Setores administrativos em queda
Apesar do cenário positivo para parte dos serviços, o grupo de serviços profissionais, administrativos e complementares acumula queda há 15 meses. Para Falbo, o principal entrave é o ambiente macroeconômico desfavorável.
“Temos uma barreira gigante, que é a alta dos juros. Com uma Selic a 14,75%, é inviável fazer qualquer operação de crédito. Sem crédito e com produtos básicos caros, as empresas não conseguem investir nem expandir. Isso reflete diretamente na geração de empregos.”
O dirigente ainda aponta a escassez de mão de obra como um problema estrutural que agrava a situação. “A demanda por postos de trabalho é maior do que a oferta de pessoas qualificadas. Tem supermercado, McDonald’s, com faixa na porta dizendo que está contratando. Falta gente preparada, e isso prejudica ainda mais o setor.”
Para reverter esse cenário, Falbo defende a redução dos juros, maior acesso ao crédito e investimentos em qualificação profissional. “Se melhorar o mercado, a taxa de juros e a oferta de crédito, com certeza essa curva vai mudar. Vamos ver mais contratações e geração de emprego nesses setores que ainda estão sofrendo.”
Serviços prestados às famílias
O avanço de 10,4% nos serviços prestados às famílias em Goiás, conforme dados recentes do IBGE, é visto com cauteloso otimismo pela Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (ACIEG).
Thiago Falbo, avalia que o crescimento pode estar ligado a uma combinação de fatores, entre eles uma leve retomada da confiança do consumidor goiano e o esforço dos empresários para manter a competitividade.
“Esse número ainda é uma interrogação na nossa cabeça, mas vemos como positivo. Há, sim, um indicativo de maior confiança do consumidor. Com a inflação estagnada e até começando a recuar, há um pouco mais de disposição das famílias para investir em serviços, especialmente nas áreas de saúde e bem-estar”, afirma Falbo.
Segundo ele, o setor empresarial tem buscado se reinventar para lidar com um ambiente econômico ainda desafiador. “O empreendedor está oferecendo mais qualidade, até porque não está vendendo tão bem. Essa melhora nos serviços pode estar relacionada a essa movimentação do mercado, que busca atrair o consumidor com melhores ofertas e mais valor agregado”, completa.
Esperança de melhora no ambiente econômico
O vice-presidente da ACIEG também apontou expectativas mais positivas para o segundo semestre de 2025, ancoradas especialmente na possível estabilização — e até leve redução — da taxa básica de juros. Atualmente fixada em 14,75%, a Selic é uma das principais travas para o consumo e o investimento no país. Segundo Falbo, um alívio na taxa pode gerar uma reação em cadeia benéfica.
“Se os juros começarem a cair, mesmo que lentamente, isso gera confiança. E com mais confiança, aumenta o consumo, cresce a oferta de crédito, o empresário investe mais, melhora os produtos e serviços, e a roda da economia volta a girar”, explica. “Essa confiança tem um peso muito grande. Aqui na ACIEG acreditamos muito nisso.”
Falbo também destaca o papel das decisões de política monetária nos Estados Unidos sobre o cenário econômico brasileiro. “Os EUA são uma baliza mundial. Como eles estão fixando os juros e não há perspectiva de alta, isso influencia o mundo todo, inclusive o Brasil. Aqui, a expectativa é de manutenção da taxa em 14,75% neste ano, mas pode haver já uma pequena queda, para 14,5%, por exemplo, sinalizando uma tendência para o próximo ano.”
Apesar de reconhecer que uma recuperação mais robusta ainda pode levar tempo, o vice-presidente da ACIEG demonstra otimismo quanto aos reflexos que podem surgir em 2026. “Não vai ser um crescimento significativo ainda este ano, mas já nos dá uma visão mais clara para o ano que vem. O empresário começa a se programar, pensar em investimentos, e isso impacta diretamente na geração de emprego e renda em Goiás.”
Para Falbo, conter a inflação e iniciar a queda nos juros são passos essenciais para reaquecer a economia. “Manter já é um otimismo. E se tudo caminhar bem, com a inflação controlada e os juros caindo, o cenário se torna mais favorável para o investimento e a retomada da atividade econômica no nosso Estado”, conclui.
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