Eleições em Anápolis têm histórico de disputas polarizadas e reviravoltas

Cerca de 60 mil anapolinos devem ir às urnas em outubro para escolher um novo prefeito e vereadores numa eleição que será marcada pela polarização e disputa entre grupos historicamente rivais. De um lado, o Partido dos Trabalhadores formado, sobretudo, por sindicalizados, servidores e membros da igreja católica entricheirados em uma estrutura partidária consolidada. Na outra ponta da história está o ‘partido’ dos empresários, notadamente evangélico e conservador, mas sem uma base partidária uníssona.

Essa falta de unidade falta partidária explica a divisão que corre nos corredores da direita anapolina, enquanto a esquerda grita um único coro: Antônio Gomide candidato. Esse cenário, embora possa parecer prejudicial para uma disputa eleitoral, quase sempre foi assim na história da cidade e, mesmo assim, foi superada com surpresas e disputas polarizadas peculiares.

Hoje, Anápolis é sinônimo da disputa presidencial de 2026. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do município é de 398,8 mil pessoa. Trata-se de uma população jovem, com o maior contingente na faixa de 20 a 29 anos, seguido por aqueles que têm até 34. É também uma cidade rica, com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 44,8 mil e uma média de rendimento de 2,5 salários mínimos.

Quem é quem?

A disputa atual está concentrada em um nome da esquerda, representada por Antônio Gomide (PT), líder absoluto em todas as pesquisas de opinião enquanto ainda não há definição do nome da direita. O prefeito Roberto Naves (Republicanos) conseguiu definir um nome para enfrentar Gomide e parece ter deixado essa responsabilidade nas mãos do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do vice-governador Daniel Vilela (MDB).

O MDB postula disputar com o suplente de deputado federal Márcio Corrêa (MDB). Já o sucessor natural de Naves é o vice-prefeito Márcio Cândido, hoje no PSD, mas com um possível embarque ao PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os Márcios disputam o bolsonarismo por lá, tendo Cândido se encontrado recentemente com o ex-presidente e com a possibilidade de filiação ao PL, essa aproximação parece ser mais certa. Já Corrêa fez movimentos de aproximação: esteve na manifestação em favor de Bolsonaro na Av. Paulista, foi à posse de Javier Milei.

O que tem travado essa movitação em prol de um único nome, segundo analistas políticos ouvidos pela reportagem, é a eleição para governador em 2026. Daniel Vilela é o candidato natural de Caiado para assumir e disputar o Palácio das Esmeraldas. Por outro lado, o senador Wilder Morais tem como objetivo comandar Goiás. Em meio a esse cenário, Caiado planeja disputar a presidência da República, mas depende ainda de um apoio do PL, comandado em Goiás por Wilder, para se viabilizar.

Força religiosa

Juscelino Polonial conta em seu livro ‘A cidade de Ana: Anápolis’, que o município se deu a partir de um patrimônio religioso. Desde o século XIX a região era habitado por alguns fazendeiros que recebiam comerciantes e religiosos. Entre 1819 e 1870, para se ter ideia, fazendeiros deram uma terra para a construção de capela em homenagem a hoje padroeira da cidade.

Haydee Jayme Ferreira (1926-199) foi uma jornalista, historiadora e artista anapolina que analisou a política local de forma minusiosa e prestigiada. No livro ‘Anápolis, sua vida, seu povo’, ela conta que a cidade fora “fundada sob os auspícios da Senhora Santana, abrigava uma população inteiramente católica, intensificada, mais tarde, como a devoção ao Senhor Bom Jesus da Lapa. […] É recente o início do trabalho presbiteriano organizado na cidade de Anápolis. Data dos anos quarenta quando, pelo menos cinco grandes denominações evangélicas, entre elas Pentecostais, Batistas e Cristãos já estavam radicados aqui”.

O censo de 2010 mostra que a população evangélica anapolina, em sua maioria, é pentecostal, sendo a Assembleia de Deus o maior grupo (11,68%) da população, logo após a Igreja do Evangelho Quadrangula (2,91%), seguida da Igreja Universal do Reino de Deus (0,81%). No entanto, os católicos representavam 58,71% da população.

Histórico de polarização e reviravoltas

A polarização política é uma das características fundamentais para entender Anápolis, assim como a influência religiosa. Karolline Rodrigues Brito conta que os evangélicos e católicos compõem um universo bastante abragente e sustentam, em grande parte, pensamentos conservadores. “Isso faz com que sejam levados a eleger pessoas que corresponsam e supram esse mesmo posicionamento, quais sejam os que integram suas religiões e inclusive as mesmas congressações, o que acarreta em uma aflucência de conservadorismo”, diz a advogada.

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Itami Campos revela que há na cidade uma ascensão do conservadorismo e um sentimento antipetista ainda latente na cidade. No entanto, ele alerta que o PT em Anápolis tem características diferentes da Executiva Nacional do partido. “É um partido muito forte com o trabalhador, focado no sindicalismo e no servidor público”, relata.

Parte desse contexto explica a baixa adesão dos anapolinos à influcência do presidente da República Lula da Silva (PT) no que tange a transferência de votos. “O PT em Anápolis é um partido muito bem estruturado, com força dentro dos grupos católicos e historicamente ligado aos movimentos sindicais”, explica Itami.

O jornalista Danilo Boaventura, que pesquisa as eleições de Anápolis no período de 2000 a 2020 revela que a polarização entre esse núcleo sindicalista do PT em Anápolis não é necessariamente com o conservadorismo em si. “Anápolis tem como característica um grupo, um ‘partido’ dos empresários que rivaliza com o PT”, aponta.

Em 2008, a poralização volta a se repetir entre as duas forças políticas na cidade. Dessa vez, entra Antônio Gomide (PT) pelo lado dos sindicalistas contra Onaide Santillo (PMDB), do lado do empresariado. Gomide vence a eleição no segundo turno e, na eleição seguinte, tenta a reeleição.

Na eleição seguinte, Gomide é eleito ainda no primeiro primeiro. Ele enfrentou nomes como Elismar Veiga (PPS), Gerson Fallacci (PHS) José de Lima (PDT) e Wilson de Oliveira (DEM).

Com Gomide fora do pleito de 2016 por causa da sua reeleição, o PT nomeia João Gomes como candidato para enfrentar Roberto do Orion, conhecido hoje como Roberto Naves (à época no PTB). Naves bateu o ex-prefeito Ernani de Paula (PSDC), Josóe de Lima (PV) e Pedro Canedo (DEM).

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