Obra exibe diálogo literário entre Dostoiévski e Coetzee e o sul-africano não sai perdendo

Carlos Willian

Vigésimo primeiro (21º) livro lido em 2024: “O Mestre de Petersburgo” (Companhia das Letras, 248 páginas, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves), de J. M. Coetzee.

O livro narra um encontro imaginário entre o escritor russo Fiódor Dostoiévski e o radical Serguei Nietcháiev, personagem anarquista que inspirou o romance “Os Demônios”.

O ano é 1869, e a atmosfera de São Petersburgo está carregada de tensão. Recém-chegado à cidade, Dostoiévski depara-se com a morte enigmática de seu enteado, Pável. Embora a versão oficial aponte para um suicídio, a descoberta de uma lista com nomes destinados à morte no quarto do jovem levanta suspeitas de seus possíveis vínculos com círculos anarquistas.

Impelido por uma mistura de luto, remorso e autocomiseração, Dostoiévski lança-se em uma jornada para desvendar o misterioso universo de Pável. Nesse processo, ele encontra-se imerso em um mundo onde a linha entre o bem e o mal torna-se cada vez mais tênue. As ruas de São Petersburgo, com seus segredos e sombras, tornam-se um palco onde Dostoiévski enfrenta não apenas as forças externas que ameaçam engoli-lo, mas também seus próprios demônios internos.

A trama intensifica-se à medida que Dostoiévski envolve-se com personagens que habitam os cantos mais obscuros da cidade, desde revolucionários fervorosos até almas perdidas em busca de redenção, passando por um ardente caso de amor.

J.M. Coetzee: Nobel de Literatura e um dos maiores escritores sul-africanos | Foto: Reprodução

O encontro com Nietcháiev, embora fictício, serve como ponto de inflexão, forçando Dostoiévski a confrontar a natureza complexa do radicalismo e seu impacto devastador sobre os indivíduos e a sociedade. O romance, repleto de reviravoltas psicológicas e uma teia intricada de relações, é um testemunho do talento inigualável de Coetzee em explorar a psique humana, ecoando a profundidade vista em “Vida e Época de Michael K” e “Desonra”.

O livro é uma leitura indispensável para admiradores do autor russo — uma representação profunda e introspectiva em que o histórico Dostoiévski torna-se personagem de suas próprias obsessões. Coetzee, ao mergulhar nas complexidades da alma humana de maneira que lembra o próprio mestre russo, reafirma seu lugar como um dos luminares literários de nosso tempo.

Nota: 9,5

Carlos Willian, editor da “Revista Bula”, é poeta, crítico literário e jornalista.

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