Às vezes me sinto repetitivo. Em muitas ocasiões acredito que usar minha voz é o suficiente para mudar mesmo que uma opinião sobre o que vem acontecendo no Oriente Médio, mais especificamente em Gaza e, quem sabe, estar do lado certo da história. Mas a verdade é nua e crua: estamos testemunhando um genocídio televisionado e, muitos de nós, estão o apoiando.
Volto sempre para o dia 7 de outubro de 2023, quando em um ato atroz o Hamas, partido político que controla Gaza, invadiu o território israelense, sequestrando e matando pessoas.
Isso, sem dúvida, foi um ato de terror que não deveria ter sido executado. Porém, a resposta desproporcional de Israel perdurou em prol da vida política de seu líder, Benjamin Netanyahu, esse que possui um mandado de prisão aberto no Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra.
Apesar do acordo de cessar-fogo firmado temporariamente entre o Hamas e o governo de Benjamin Netanyahu, que incluiu uma liberação gradual de reféns de ambos os lados, os bombardeios em Gaza não cessaram completamente. A intervenção israelense continua resultando em mortes de civis palestinos, levantando preocupações de organizações humanitárias internacionais sobre a continuidade da crise humanitária na região.
Na última sexta-feira, 16, em um dos ataques mais recentes, quase 100 pessoas foram mortas em uma série de ataques pelo céu e pelo mar. E, como em todos os outros ataques desde o 8 de outubro, a maioria dos mortos são civis.
É possível se ter uma posição política alinhada com Israel, claro, mas é inegável que existe sim um genocídio com claras intenções: limpar Gaza e os palestinos do mundo e colonizar aquela terra secular que pertence ao povo palestino, assim com já é feito em partes da Cisjordânia ocupada.
A limpeza étnica, os crimes de guerra, a fome imposta, o bloqueio da entrada de medicamentos, combustível e comida em Gaza seria o suficiente para convencer até o mais leigo de que o que ocorre é um genocídio generalizado, mas infelizmente não é.
Hoje assistimos tudo na tela do nosso celular, mas muitos são cegos para enxergar. Não se trata de religião ou de política, se trata de humanidade.
Recentemente falei com dois amigos, uma que vive em Gaza e outro que vive na Cisjordânia ocupada e o diagnóstico foi o mesmo: chegará o momento em que seremos apagados do mapa.
Hanadi, uma amiga de alguns anos, doutoranda em educação, viu membros de sua família morrerem a poucos metros dela, às vezes fica dias sem conseguir alimento e não pode dormir em algumas ocasiões pois precisa buscar água para seus pais já debilitados. O que ela vive em Gaza, já que não pode sair, é algo que milhares de outras pessoas vivem no que restou do que um dia era uma região com potencial.
Prédios, hospitais e escolas são destruídos sob o pretexto de que o Hamas usa civis como escudos humanos, o que em certa parte é verdade, mas não totalmente. Em 17 meses Gaza se tornou inóspito e impossível de reconstruir. Isso, aparentemente, não é o suficiente para Netanyahu.
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