A febre do bebê reborn

Edemundo Dias

O livro A Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt, alerta para o impacto das redes sociais na saúde mental, mas o surto dos bebês reborn e o delírio das cuidadoras robóticas, inclusive sexuais, amplificam essa discussão, revelando uma alucinante e crescente psicodependência de substitutos artificiais para suprir carências emocionais. Esses fenômenos, impulsionados pela inteligência artificial (IA), refletem o vazio existencial que telas e máquinas prometem preencher, mas que, paradoxalmente, agravam.

Os bonecos hiper-realistas tratados como filhos tornaram-se “febre” – em múltiplos sentidos – no mundo e no Brasil, com casos extremos como o de uma jovem que levou seu boneco a um hospital, crendo que ele estava com febre, literalmente.

Com efeito, renomados psicólogos alertam que esses objetos podem levar à perda de contato com a realidade quando tangenciam os laços afetivos das relações humanas. Essa prática, potencializada por comunidades nas redes sociais, reflete a busca por validação e conexão emocional em um mundo digital que só expande a incompletude do ser… É que as redes exploram vulnerabilidades psicológicas, e os reborns são um sintoma disso: pessoas incautas projetam afeto em objetos inanimados, alimentando um ciclo vicioso de dependência emocional, desprezando o próximo, humano, ao seu lado.

Paralelamente, damas de companhia robóticas, são projetadas para dar “propósito de vida” a idosos; ou, babás humanoides, que auxiliam no desenvolvimento de crianças, prometem apoio psíquico-emocional pleno. Essas máquinas, equipadas com IA, imitam intercâmbios humanos, reagindo a estímulos com expressões faciais, trejeitos e vozes…

Todavia, a permuta de laços afetivos reais por interações artificias só potencializa a desconexão social e pode suscitar um incontrolável processo de “desumanização dos humanos”. Robôs como HSR ou o Pepper, produções japonesas, são sofisticados engenhos tecnológicos, mas não replicam a empatia genuína, imprescindível ao bem-estar dos homens. Além disso, a longo prazo, pode até gerar depressão em crianças, jovens e idosos, presas preferenciais dessas potestades. 

A crítica de Haidt às redes sociais restringe-se à parafernália robótica. Sim, a dependência de avatares digitais traz o nefasto efeito da normalização da substituição do humano pelo artificial. Mas, nós vemos além: vemos nisso os frutos podres de uma geração de brutal orfandade, de corpo, alma e espírito, vez que somos seres tridimensionais.

O ideal seria, então, o quê? Tentar equilibrar tecnologia e humanidade, para que a ciência cibernética auxilie a conexão humana, através de um marco legal? Remendo novo em tecido velho? Ora, a solução é muito mais profunda. Nossa realidade psicanalítica mostra que as relações humanas, de verdade, custam… Desprezar o outro porque ele falha é projeção. Sublimar a dor do real em objetos inanimados é pura fuga.

Por fim, aos que aceitarem, sugiro o Evangelho de Cristo. Nele, o amor transborda, não em circuitos e telas psicodélicas, mas do coração vivo do Criador. Nele temos, ao mesmo tempo, a sublime referência do ser pai e do ser filho. Eis o antídoto: amar a Deus perfeito na imperfeição do próximo, acolhendo-o ao se olhar no espelho. Isso nenhuma máquina consegue hackear ou reproduzir. Somente laços entrelaçados pela graça curam a solidão e o deletério ócio, com a certeza de uma onipresença que jamais se desliga.

Edemundo Dias é advogado, pastor evangélico e escritor

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