Uma semana após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em granja comercial no Brasil, a resposta institucional e os efeitos econômicos seguem evoluindo de forma mais branda do que o esperado. Enquanto os preços do frango no atacado caíram timidamente — entre 1% e 2% —, o plano nacional de contingência para conter a doença ainda não foi plenamente acionado, mesmo com o país já estando no estágio de alerta, conforme o próprio protocolo elaborado pelo Ministério da Saúde.
Leia também: Gripe aviária não deve impactar preço da carne de frango, diz ministro
O impacto nos preços da carne de frango, principal temor inicial do setor produtivo, revelou-se até o momento limitado. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o frango congelado caiu de R$ 8,70 para R$ 8,56 e o resfriado de R$ 8,81 para R$ 8,63 entre os dias 15 e 23 de maio, uma redução de 1,6% e 2%, respectivamente. A retração, segundo o Cepea, está mais associada à sazonalidade da demanda na segunda quinzena do mês do que ao surto sanitário em si.
Além disso, fatores como a manutenção dos estoques por parte dos produtores, à espera da retomada das exportações, têm ajudado a conter um aumento na oferta interna e, consequentemente, uma maior pressão de queda nos preços. Ainda segundo o Cepea, há um esforço conjunto entre iniciativa pública e privada para controlar a situação sanitária e negociar com os parceiros comerciais internacionais a normalização dos embarques.
Campanhas não saíram do papel
Contudo, a tranquilidade do mercado contrasta com a morosidade na execução do plano de contingência do Ministério da Saúde, lançado em dezembro do ano passado com o objetivo de orientar o Sistema Único de Saúde (SUS) em possíveis surtos de influenza aviária. Com a detecção do vírus em uma granja de Montenegro (RS), o país entrou oficialmente na fase 3 do plano — o estágio de alerta —, que prevê medidas como a ativação imediata de um Centro de Operações de Emergência (COE), campanhas públicas de informação e articulações interinstitucionais mais amplas. Até o momento, o COE não foi ativado, e as campanhas de comunicação ainda não saíram do papel.
Leia também: Oito países e União Europeia já suspenderam importação de frango brasileiro após confirmação de gripe aviária
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que as ações estão, por ora, concentradas sob a liderança do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), devido à ausência de casos humanos confirmados no país. No entanto, especialistas em saúde pública alertam para a necessidade de vigilância e resposta proativa. Para Ethel Maciel, ex-secretária de Vigilância em Saúde e uma das responsáveis pela formulação do plano de contingência, o momento já exige a implantação do COE e outras ações previstas no protocolo.
O Brasil ainda não registra casos de gripe aviária em humanos, e o único caso suspeito — de um trabalhador da granja de Montenegro — foi descartado na última semana. Apesar disso, o Ministério da Agricultura monitora nove possíveis focos da doença em aves em estados como Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Ceará, Tocantins e Pará, com base em protocolos internacionais de vigilância.
Leia também: Presidente da Agrodefesa aposta que foco de gripe aviária deve acabar antes do prazo do bloqueio comercial
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) classificou a confirmação da doença em ambiente de produção comercial como uma nova fase da presença do vírus no Brasil. Especialistas, como o infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, alertam para o risco potencial de uma futura pandemia de gripe aviária, dadas as mutações que o vírus vem sofrendo. Apesar de não haver transmissão entre humanos até o momento, o contato com aves infectadas — principal via de infecção — exige medidas rigorosas de precaução, sobretudo entre trabalhadores da cadeia produtiva avícola.
O post Após 6 meses, plano de contingência da gripe aviária ainda não foi totalmente implementado apareceu primeiro em Jornal Opção.