Pela primeira vez em mais de 60 anos, a pecuária de Goiânia foi gratuita para a população. A tradicional festa sertaneja exalta o agronegócio, o sertanejo e a elite goianiense, vestida de bota e chapéu. As críticas se repetem ano após ano: falam de assaltos, de bagunça, lotação e estrutura… a grande diferença desta edição foi o que usaram como justificativa: o povo.
Nas redes sociais, uma mulher reclamando do evento viralizou ao dizer que Goiás não suporta um evento gratuito tão grande porque “falta educação”. E não faltava educação no público pagante? O fato é que o espaço estava lotado de quem nunca foi incluído naquele contexto, o que incomodou uma elite acostumada a controlar quem entra e sai. A festa perde qualidade quando o povo entra?
Nos últimos três anos – inclusive na edição de 2025 -, a divulgação esperou meio milhão de pessoas, número que na prática é superado ano a ano. Mesmo cobrando, a Pecuária sempre foi lotada. O problema nunca foi o evento em si, mas quem tem o direito de acessá-lo.
Essa exposição elitista disfarçada de reclamação reflete um pacto invisível de exclusão. É preciso questionar como os goianienses tratam o acesso à cultura, quem consome as exposições e shows da cidade. Cultura, assim como saúde e educação, também é direito, direito humano, fundamental e constitucional.
A elite goianiense abraça a roça, o boteco e sertanejo como ícones culturais, bate no peito para defender a tradição, mas apenas quando o dinheiro consegue afastar o povo. Uma elite que quer a estética popular sem a presença popular. Quando o povo entra, chamam de bagunça.
Além disso, a Pecuária tem investimento público, o dinheiro público cobre parte da folha de pagamento da festa. Por que o lazer não pode ser público também?
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